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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, abril 29, 2012

Merval é desinformado, burro ou desonesto?


 

Precipitado, Merval inocenta Policarpo e Veja 
Brasil 247

Vazamentos. Este é o título da coluna do jornalista Merval Pereira, publicada neste domingo no jornal O Globo. Claramente, o objetivo é limpar a barra da revista Veja e do seu diretor Policarpo Júnior, que se relacionava frequentemente com o bicheiro Carlos Cachoeira.
Merval diz que o inquérito completo da Operação Monte Carlo, vazado pelo 247, comprovaria a lisura das relações entre Veja e Cachoeira. Várias hipóteses podem ser levantadas: (1) Merval não leu o inquérito; (2) Merval leu e não compreendeu; (3) a defesa faz parte do pacto de não agressão firmado por Globo, Abril e Folha (leia mais aqui).
Até agora, o inquérito já revelou vários pontos que merecem ser discutidos pela imprensa séria:
1) Cachoeira produziu os filmes ilícitos do Hotel Naoum, publicados na revista Veja, com o objetivo de “incendiar a República”.
2) Cachoeira produziu a denúncia contra o ex-diretor do Dnit, Luiz Antônio Pagot, publicada na revista Veja, para favorecer a construtora Delta – aliás, foi a revista Época, da Globo, quem fez a denúncia de que Cachoeira se vangloriava de ter “colocado no r...” do Pagot.
3) Cachoeira e Demóstenes Torres tentaram provocar o impeachment do governador Agnelo Queiroz, com denúncias publicadas na revista Veja, por meio do “PJ” (Policarpo Júnior). Sobre isso, leia mais aqui.
4) “Poli”, outro apelido de Policarpo Júnior, também aparece no inquérito numa tentativa de “f...” um secretário de segurança pública.
No mínimo, Merval Pereira foi precipitado. No relatório, Policarpo Júnior aparece também com codinomes. Em alguns momentos, além de “Poli” e “PJ”, ele é chamado de “caneta”.
Mas, para o colunista da Globo, não há nada de anormal neste relacionamento entre um jornalista e um dos maiores contraventores que o Brasil já produziu. Eis o que diz o jornalista do Globo:
“Eles (os vazamentos) demonstram mais uma vez que o relacionamento de jornalistas da revista Veja com o bicheiro Carlinhos Cachoeira e seus asseclas nada tem de ilícito, ficando preservada, por tudo que se conhece até o momento, a tênue linha que separa a ética jornalística de atos que podem comprometê-la. O caso do jornal popular “News of the World”, que colocou seus diretores e proprietários no banco dos réus, é exemplar dessa diferença: lá os jornalistas contratavam arapongas para espionar celebridades e políticos. Aqui, até o momento está demonstrado que a revista se utiliza de gravações realizadas para revelar os escândalos da República.”
Ora, Merval. Aqui é muito pior: o bandido contratava os arapongas. As gravações – que Merval não define como legais ou ilegais - não eram realizadas para revelar escândalos da República. Mas, sim, para defender interesses comerciais privados, como os da construtora Delta ou do próprio Cachoeira.
Segundo Merval, o máximo que o inquérito revela é o tratamento “íntimo” do bicheiro com o jornalista e o pedido de uma notinha.
Na posição que ocupa, de principal articulista da Globo, Merval, membro da Academia Brasileira de Letras, acaba de chancelar a associação entre o crime e a imprensa.

*Esquerdopata

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