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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, abril 26, 2012

Reino britânico despenca - economia da Inglaterra entra em recessão com toda pompa.

A economia britânica contraiu-se 0,2% nos três primeiros meses do ano, após ter registrado uma queda de 0,3% entre outubro e dezembro de 2011.  

 

É a segunda recessão em três anos, algo que não ocorria desde 1975, mas, sobretudo, é um golpe para a estratégia de ajuste fiscal impulsionada pela coalizão conservadora-liberal democrata que governa o país. O primeiro ministro David Cameron lamentou os números, mas assinalou que seguirá com o programa de austeridade. O artigo é de Marcelo Justo.

Londres - A economia britânica entrou tecnicamente em recessão. O informe preliminar do Escritório Nacional de Estatísticas (ONS) indicou que a economia contraiu-se 0,2% nos três primeiros meses do ano, após ter registrado uma queda de 0,3% entre outubro e dezembro de 2011. É a segunda recessão em três anos, algo que não ocorria desde 1975, mas, sobretudo, é um golpe para a estratégia de ajuste fiscal impulsionada pela coalizão conservadora-liberal democrata que governa o país.
Na Câmara dos Comuns, o primeiro ministro David Cameron mostrou-se decepcionado com os números, mas assinalou que seguirá com o programa de austeridade. “Não há complacência do governo, mas estamos em meio a uma situação muito difícil que se complicou ainda mais”, disse Cameron. O líder da oposição, o trabalhista Ed Miliband, qualificou os dados como “catastróficos” e assinalou que eles eram de inteira responsabilidade do governo. “Esta é uma recessão produto da política do primeiro ministro e de seu ministro da Economia”, disse Miliband.
A definição técnica de recessão é dois trimestres seguidos de crescimento negativo, mas o certo é que a economia britânica vem aos trancos e barrancos há mais de um ano. Segundo os dados preliminares da NOS, que medem a atividade de 40% da economia, a queda se estendeu ao setor manufatureiro (0,4%) e ao setor crucial da construção civil (3%), enquanto que os serviços, que constituem cerca de 70% da atividade econômica, cresceram um magro 0,1%, atribuído pelos economistas ao surto de consumo de gasolina em março provocado por um pânico de desabastecimento desatado pelo próprio governo. O cada vez mais questionado ministro da Economia, George Osborne, assinalou que não haverá mudança de rumo. “O que pioraria a situação agora é abandonar nosso plano econômico e somar mais empréstimos e mais dívida pública”, assinalou Osborne.
A estratégia da coalizão vem sendo dominada por um draconiano programa de austeridade que contempla cortes de gastos equivalentes a 130 bilhões de dólares em cinco anos, com uma perda de aproximadamente 700 mil empregos no setor público. Na terça-feira, a mesma ONS revelou que, em março, o governo havia pedido emprestado dois bilhões de libras mais do que previsto e que sua arrecadação havia caído 3,6%, incluindo uma queda de 1% do imposto sobre o consumo, o IVA.
Não é preciso ser John Maynard Keynes para detectar a razão dessa piora da situação fiscal. “O problema na estratégia de redução do déficit do governo é que, sem uma maior arrecadação, produto de um crescimento da economia, ele não conseguirá reduzir o déficit e sua dívida”, assinalou ao jornal “Evening Standard” o economista Daniel Soloman, do nada heterodoxo Centre for Economics and Business Research.
O panorama é sombrio para o futuro. Na semana passado, o Banco da Inglaterra (Banco Central) reconheceu que não podia descartar a possibilidade de que “o PIB caia três semestres consecutivos”, devido à debilidade do setor da construção e aos feriados que acompanharam o jubileu (de diamante) da Rainha em junho. O prestigiado Instituto de Estudos Fiscais calcula que, no momento, só foram executados 10% dos cortes fiscais anunciados pela coalizão. A economia terá que enfrentar ainda cerca de 90% de demissões no setor público.
Simon Wells, economista do banco HSBC, advertiu para o impacto que esta contínua onda de austeridade terá sobre o conjunto da economia. “O Reino Unido apenas começou seu esforço de consolidação fiscal. O setor governamental seguirá impactando negativamente sobre a possibilidade de crescimento do PIB nos próximos cinco anos”, indicou Wells.
Pior ainda, o governo encontra-se em um beco político sem saída. Desde a campanha eleitoral para as eleições de maio de 2010, os conservadores colocaram a redução do déficit fiscal e o ajuste no centro de sua estratégia econômica e de seus ataques ao trabalhismo. Dar marcha ré, os exporia politicamente e seria percebido como um sinal de debilidade pelos mercados. Enquanto isso, os trabalhistas se aproximam das eleições para a prefeitura de Londres, no dia 3 de maio, com uma vantagem nas pesquisas em nível nacional de oito pontos, apesar do escasso carisma de seu líder Ed Miliband.

Fonte: Carta Capital / Tradução: Katarina Peixoto
*MiliotânciaViva

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