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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, abril 24, 2012

A Igreja Detesta Os Pobres

Paulo Nogueira



A irmã Simone Campbell
Ao lado de quem a Igreja Católica fica, dos ricos ou dos pobres?
Dos ricos, todos sabemos. Desde sempre.
Na Inglaterra medieval, um líder popular conhecido como Longbeard por sua barba enorme angariou mais de 50 000 seguidores em Londres. Ele advogava em defesa dos pobres e desvalidos.
Claro que ele terminou morto. Quem comandou o complô para matá-lo foi a principal autoridade católica da Inglaterra de então – o arcebispo da Cantuária. Longbeard se refugiou numa igreja, na esperança de que ela fosse respeitada. Por ordens do arcebispo, puseram fogo nela. Longbeard foi capturado e esquartejado, ao lado de um grupo de seguidores que não o abandonaram em momento nenhum. Um historiador inglês do passado escreveu as seguintes palavras: “Ele morreu unicamente por defender os pobres e a verdade. Se a causa é determinante para fazer um mártir, ele merece ser considerado um mártir.”
Na Inglaterra contemporânea, os responsáveis pela Catedral de São Paulo pareceram ter ficado com asco quando viram gente pobre montar barracas na frente do templo favorito da realeza, no movimento Ocupe Londres.
Ao longo da história apenas no papado de João 23 a Igreja Católica optou pelos pobres. Num grande romance de Graham Greene, O Cônsul Honorário, ambientado num país da América Latina na época das ditaduras militares, um padre adere à guerrilha. Ele explica a um amigo: “É que eu não conseguiria esperar um novo João 23.”
Vejo agora nos Estados Unidos que freiras progressistas, lideradas pela irmã Simone Campbell, foram objeto de recriminação pública do Vaticano. Elas estariam desafiando tabus como o aborto, segundo o Vaticano.
“Nossa missão é viver o evangelho ao lado daqueles que estão às margens da sociedade”, respondeu Simone quando soube da atitude do Vaticano. “Isso é tudo que fazemos.”
Vale a pena conhecer o site da organização que congrega as freiras progressistas americanas. Elas avisam, por exemplo, que fazem parte dos 99% — a imensa maioria da sociedade que nos últimos 30 anos foi legalmente roubada por legislações que permitiram à microelite do 1% pagar cada vez menos impostos.
Clap, clap, clap para as freiras americanas, e em especial para a irmã Simone.
De pé.
Diário do Centro do Mundo
*MariadaPenhaNeles

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