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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, abril 25, 2012

Serra cobra cachê para fazer campanha presidencial em Ribeirão Preto

Auditório vazio na palestra de Serra na Acirp.
Cachê cobrado por ele gera indignação.
O derrotadíssimo José Serra, candidato tucano à Prefeitura de São Paulo, abandonou seus afazeres na capital para iniciar campanha presidencial para 2014 em Ribeirão Preto (SP). Detalhe: mesmo tendo entrada franca, o auditório do evento ficou vazio.

Na segunda-feira, dia 23, o candidato tucano a prefeito de São Paulo José Serra abandonou a paulicéia novamente e foi fazer campanha presidencial em outra cidade a 313 quilômetros da capital. Ele foi fazer uma palestra na Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp), cujo tema foi política nacional – que será abordado na campanha presidencial de 2014 – e não temas municipais.

Mas a campanha presidencial extemporânea na cidade foi um fiasco. No auditório, a maioria das cadeiras estava vazia (foto), apesar de a entrada ser gratuita. Apenas quatro políticos foram vistos na palestra “O desenvolvimento recente do Brasil e seus principais problemas”, o que mostra um abandono de Serra pelo próprio partido: o vice-prefeito Marinho Sampaio (PMDB), os vereadores Silvana Resende (PSDB) e Nicanor Lopes (PSDB) e o deputado estadual Rafael Silva (PDT) [clique aqui para ver a galeria de fotos].

Como se isso não bastasse, a presença de Serra causou mal-estar para a Acirp, principalmente depois de saber que ele cobrou cachê pela palestra. Já causava celeuma o excessivo aparelhamento e apoio da associação aos tucanos, com articulações junto ao tucanato local e com o governador Geraldo Alckmin (PSDB/SP), percebidas em reunião na semana passada. O convite à Serra acentuou essa percepção.

Mas o que causa maior indignação aos comerciantes e lojistas associados é quando veio ao conhecimento público que José Serra cobrou cachê pela palestra.

Afinal, além do tucano ganhar palanque para fazer divulgação política, ficou o sentimento de que suas contribuições financeiras para manter a associação estavam virando uma espécie de “mensalinho” para o candidato tucano.


Tem louco para tudo...

A Folha informa que o ex-governador José Serra, que agora jura que quer ser prefeito de São Paulo, dedica parte de seu tempo a fazer palestras para empresários. Outro dia desses esteve em Ribeirão Preto, a convite da associação comercial de lá. Segundo disse, fez dezenas de palestras neste ano. Não revelou quanto cobra por elas, mas garante que algumas são de graça.
Palestras para empresários do interior do Estado não são exatamente prioridade para quem está em plena campanha para a prefeitura paulistana. Assim sendo, tudo indica que Serra está preparando o caminho para voos mais altos, já que parece fora de propósito que os tais empresários paguem para ouví-lo contar sobre seus planos de governo para a capital - se é que ele tem algum.
De qualquer forma, como Serra é dono de seu nariz, ele dá palestras para quem quiser - ou para quem se dispõe a pagar por elas.
O interessante nessa história é o fato de ainda haver no Brasil algum empresário que deseje ouvir o que Serra tem a dizer sobre qualquer coisa - e a gente sabe que certos temas se tornaram uma obsessão para ele.
No momento em que o país parece estar se acertando cada vez mais, em que a economia resiste bravamente a uma seríssima crise mundial, em que o mercado interno floresce, é incrível que ainda haja gente que pague para receber lições de um político tão tacanho, tão démodé quanto ele, que como gestor se mostrou um desastre - olha aí o apagão viário paulistano! -, como economista é um zero - a receita que deu para livrar o país dos efeitos da crise econômica mundial é desastrosa -, e como líderança partidária é nada mais, nada menos, que um desagregador.
Cada um é livre para pensar do jeito que quiser e para fazer o que lhe dê na telha, mas é difícil  entender a cabeça de um empresário que se dispõe a seguir os "ensinamentos" de um sujeito que, se for eleito para qualquer cargo, vai, em primeiro lugar, destruir tudo de bom que a sociedade brasileira construiu nesses últimos anos.
Não consigo compreender o que leva um empresário, que deveria ser, em nome de sua própria prosperidade, uma pessoa pragmática, apoiar Serra e toda a ideologia excludente, preconceituosa e injusta que ele e seu grupo político disseminam.
A única explicação para que isso ocorra, para que um empresário abra mão dos bons ventos que têm impulsionado seus negócios, é ele ter uma identificação tão grande com o que pensa essa gente que quer levar o Brasil de volta ao passado que isso compromete a sua razão, seu discernimento, até mesmo o ato de raciocinar.
Parece loucura, eu sei. Mas quem paga para ouvir Serra e sua oratória ressentida, derrotista e ultrapassada não deve mesmo ser bom da cabeça.
* O Esquerdopata

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