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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, abril 25, 2012

Se até Murdoch depõe, por que Civita não deveria?

 


Se até Murdoch depõe, por que Civita não deveria?

NESTA TERÇA, JAMES MURDOCH SE EXPLICA NO PARLAMENTO INGLÊS PELA PRÁTICA DE GRAMPOS ILEGAIS; “SE EU SOUBESSE, TERIA CORTADO O CÂNCER”, DECLAROU; NO BRASIL, ROBERTO CIVITA, DA ABRIL, MOBILIZA UM EXÉRCITO PARA NÃO SER CONVOCADO; MAS ELE DEU AZAR: A INGLATERRA AINDA É UM FAROL DA LIBERDADE
247 – Se ainda faltavam argumentos para aprovar a convocação do empresário Roberto Civita, dono da Editora Abril, na CPI sobre Carlos Cachoeira, que iniciará suas atividades nesta quarta-feira, eles caíram por terra na manhã de hoje. Em Londres, o empresário James Murdoch, filho do magnata australiano Rupert Murdoch, dono da NewsCorp, maior grupo de mídia do mundo, tenta se explicar sobre as atividades do jornal “News of the World”, um tabloide centenário que foi obrigado a fechar quando se descobriu que seus jornalistas publicavam grampos ilegais.
Como se sabe, a Inglaterra não é um país que restringe a liberdade de imprensa. Ao contrário, é um dos países mais liberais do mundo, onde todos os assuntos podem ser discutidos abertamente – inclusive, a própria imprensa.
Sobre os grampos do “News of the World”, Murdoch filho disse que não tinha ideia alguma do que se passava no jornal. E afirmou que, se soubesse, “o câncer teria sido cortado imediatamente”. Graças ao depoimento, transmitido ao vivo por várias televisões e websites, Murdoch passou a constar nos Trending Topics do Twitter, como um dos assuntos mais comentados do dia. Assim como ocorreu dias atrás com a hashtag #vejabandida.
Civita e Policarpo?
Nos últimos dias, a Editora Abril tem feito um intenso trabalho de bastidores para evitar que Roberto Civita seja convocado. O pedido será apresentado pelo deputado Fernando Ferro (PT/PE). O ex-presidente Lula, que participa ativamente da articulação da CPI, considera a convocação de Civita como um ponto de honra. Fabio Barbosa, presidente-executivo da Abril e ex-presidente da Febraban, já foi a Brasília para fazer lobby contra a convocação do chefe. Na Brasil, tem-se a certeza de que Civita sairá humilhado do Congresso.
Neste sentido, a editora responsável pela revista Veja negocia uma saída honrosa, que seria entregar de bandeja a cabeça do diretor da sucursal brasiliense, Policarpo Júnior. Numa reflexão recente sobre métodos de apuração e ética jornalística, o diretor de Veja, Eurípedes Alcântara, praticamente rifou Policarpo, ao não citar o nome do jornalista e dizer que jornalistas correm riscos quando publicam grampos ilegais.
A voz mais estridente da Abril, que é a do blogueiro Reinaldo Azevedo, tem publicado artigos sobre um atentado contra a liberdade de imprensa no Brasil, que seria perpetrado na CPI de Carlos Cachoeira.
No entanto, Civita, Eurípedes, Policarpo e Reinaldo perderam.
Tiveram um tremendo azar.
A Inglaterra ainda é um país livre. Ou melhor: é um farol da liberdade.
*Cappacete

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