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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, abril 27, 2012

Cachoeira deu dinheiro a Perillo, diz PF

 

Policial relata conversa entre contraventor e contador com menção a ‘provável grande quantidade de dinheiro enviada à sede do governo goiano
O inquérito da Polícia Federal na Operação Monte Carlo indica que intermediários do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, entregaram “grande quantidade de dinheiro” para o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), no Palácio das Esmeraldas, sede do Poder Executivo local. Gravações telefônicas realizadas pela PF no dia 10 de junho do ano passado flagraram o contador de Cachoeira, Geovani Pereira da Silva, informando ao chefe que estava enviando, via dois assessores, uma caixa de computador “com aquele negócio” para ser entregue no Palácio. Tratava-se de dinheiro, segundo trecho de relatório da PF intitulado “Entrega de dinheiro no Palácio do Governo de Goiás”. O agente responsável pela análise observa que era preciso cruzar as informações com dados da movimentação financeira da quadrilha. “Provável grande quantidade de dinheiro”, escreve o policial no relatório, ao qual o Estado teve acesso.
De acordo com as investigações, os dois auxiliares de Cachoeira que combinaram a entrega do dinheiro são Gleyb Ferreira da Cruz, apontado como braço direito para assuntos financeiros da quadrilha, e o ex-vereador do PSDB de Goiânia Wladimir Garcez Henrique – ambos presos em fevereiro. As gravações telefônicas da PF mostram que Gleyb buscou o dinheiro com Geovani e se encontrou com Wladimir, que já estava esperando no Palácio das Esmeraldas. Todos os passos dos auxiliares eram monitorados por Cachoeira. As gravações dos registros da PF foram veiculadas na internet pelo blog Quidnovi, do jornalista Mino Pedrosa, no início da noite de ontem. Segundo ele, o montante enviado por Cachoeira a Perillo somava R$ 500 mil.

Encontro

As conversas indicam que houve um atraso no encontro. Marcado para às 13h, a reunião entre os auxiliares de Cachoeira e o governador teve que ser adiada para depois das 16h. Wladimir explicou para Gleyb, por telefone, que uma pessoa identificada como “tenente”, provável integrante da equipe de segurança de Perillo, o informou que o governador ainda não confirmara o horário do encontro.
“Estou o esperando o tenente me ligar. Eu até já liguei lá e ele falou: ‘Wladimir, o governador inclusive falou pra você daqui a pouco vim pra cá (sic), mas não falou que horas, não’. Como eu estou enrolado, eu falei: ‘Não, tenente, vê aí pra mim que você marca e eu chego em menos de 20 minutos’”, diz o ex-vereador para Gleyb, que já estava levando a caixa de computador entregue por Geovani. Em outra conversa, Cachoeira pergunta para Wladimir se eles já foram atendidos pelo governador. O ex-vereador responde que não. Perillo negou, por meio de sua assessoria, que tenha recebido dinheiro do grupo de Cachoeira. Ele classificou o assunto de “esdrúxulo” e assegurou que o encontro nunca ocorreu. “O governador nunca tratou, no Palácio, de assuntos que não fossem de interesse do governo. Ele rechaça com toda a veemência qualquer afirmação em contrário.”
*comtextolivre

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