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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, abril 25, 2012

O jogo da desinformação na CPI Cachoeira

 

Mais que uma disputa política, a CPI de Cachoeira será uma guerra de informações - como já se nota. Todos os expedientes de manipulação da informação serão utilizados: o ocultamento de informações que não interessam a um dos lados; a escandalização de informações irrelevantes; as conclusões impossíveis em cima de diálogos neutros etc.
É importante que não se entre nesse jogo, seja para defender amigos ou atingir adversários. Fazer esse jogo significará entrar no campo da desinformação tão pretendido por quem não quer esclarecer, apenas confundir.
Alguns exemplos:
1. Foram flagradas conversas de Protógenes com Dadá. Ora, é público que Dadá colaborou da Operação Satiagraha. Portanto, conversa em si não significa nada. O que significa é seu conteúdo. Até agora não apareceu nada que mostrasse vinculação de Protógenes com Cachoeira.
2. O emprego dado por Aécio a uma sobrinha de Cachoeira. Ora, o pedido foi feito por Demóstenes Torres, senador, o herói da mídia, o cavaleiro sem jaça. Demóstenes não anunciou que era prima de Cachoeira, chefe de quadrilha, seu financiador. Os problemas de Aécio estão fora da CPI: o caso das suas rádios em BH, por exemplo.
3. Conversas de representantes da Delta com autoridades em geral, seja em qualquer estado ou departamento for, a não ser que revelem claramente objetivos criminosos.
Em meu "O Jornalismo dos anos 90" publico um manual completo de expedientes manipulatórios da mídia. Um deles é justamente este: menciona um diálogo grampeado e tiram-se conclusões da conversa que nada têm a ver com seu conteúdo original.
O fato de Aécio ter virado alvo não é sinal nenhum de isenção da velha mídia. Fosse isenta estaria analisando os fatores que levaram Cachoeira a optar, em 1999, a esquentar seu dinheiro em laboratórios de genéricos em Anápolis, assim como as críticas dos especialistas à Lei dos Genéricos: todos apoiaram seus princípios mas não entenderam a pressa com quem foi implementada, prejudicando em muito sua eficácia.
Vamos tentar transformar esse pedaço, o Blog, em um local de filtragem técnica das notícias e de montagem de quebra-cabeças mais sofisticados do que esse mero exercício de tirar conclusões taxativas de diálogos inócuos.
Luis Nassif
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