Para metroviários, sobra propaganda e falta planejamento no Metrô de São Paulo
Política de “esticar linhas” sem
a criação de conexões alternativas para usuários só aumenta o caos no sistema metro-ferroviário.
Suzana Viera, via Rede
Brasil Atual
A política de expansão do Metrô de “esticar linhas” já existentes está sobrecarregando
o sistema metro-ferroviário de São Paulo, sem, contudo, melhorar as condições para
o usuário. Para o presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Altino
de Melo Prazeres Júnior, o modelo de expansão “alimenta o sistema com mais gente”.
“Nossa expansão está atrasada e é feita de forma atabalhoada”, disse. Para o sindicalista,
o panorama ideal é a criação de linhas que tenham pontos de intersecção com as atuais,
ao contrário da continuidade das linhas já existentes.
Na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), onde não está havendo
ampliação da malha, o problema está na troca e expansão da frota. “O caos na ferrovia
é que colocaram trens novos e descobriram que não há subestação (de energia) para
alimentar as máquinas”. Embora haja trens mais velozes e mais modernos não há “alimentação
suficiente”. “A equipe técnica da empresa já sabia disso há quatro anos. Compraram
trens modernos, bonitos e sem condições técnicas de trafegar.”
Esse problema causou pane em uma locomotiva da Linha 7 – Rubi (Luz – Francisco
Morato), no dia 29 de março, que culminou em protestos e destruição de parte da
estação Francisco Morato, na Grande São Paulo. Na ocasião, segundo Altino, a solução
foi “desenergizar” uma via para a outra funcionar. “É como comprar uma Ferrari e
não ter dinheiro para a gasolina. São governos mais preocupados em dar resposta
rápida à mídia do que em resolver a questão”, afirmou Altino.
Planejamento
Os metroviários são a favor da expansão, mas lamentam o caos criado com
a falta de planejamento. “Com esse modelo, estamos sem muita perspectiva de saída”,
alertou o sindicalista.
Os metroviários também creditam a “erro de planejamento” a superlotação
do metrô. “Dizer que houve ‘tsunami de usuários’... Eles não estudaram a demanda?
Não entenderam que ia ter aumento. Todo mundo sabia disso”, apontou Altino, em referência
ao termo usado por Fernandes para justificar a superlotação do sistema, principalmente
a partir da operação da Linha 4 – Amarela do metrô em horário integral, em setembro
de 2011.
Ele prevê que a mesma deficiência vai atingir o monotrilho, quando o sistema
começar a funcionar. O modal que vai operar na Linha 17 – Ouro está previsto para
interligar, na primeira fase, o aeroporto de Congonhas à estação Morumbi da Linha
9 – Esmeralda (Osasco – Grajaú) da CPTM. “Quanto tiver os primeiros problemas vão
dizer ‘não esperava, estou surpreso que tem tanto usuário’”, disse.
Altino avalia que o governo precisa realizar uma discussão ampla com especialistas,
usuários e sindicatos que representam os trabalhadores da rede metro-ferroviária
de São Paulo e definir ações imediatas para que a crise do transporte na região
metropolitana de São Paulo possa ser resolvida em até cinco anos.
Segundo ele, se uma nova forma de planejamento não for implementada agora,
os problemas serão muito piores nos próximos anos. “Cada governo resolve expandir
a rede de um jeito e, na verdade, não há plano, porque investir em trens sem energia
para trafegarem parece coisa de criança”, classificou. A solução só virá com planejamento
e tem de ser rápido. Por enquanto, falta vontade política e sobra propaganda.”
Monotrilho
O monotrilho é um veículo movido a eletricidade e trafega em um único trilho,
diferentemente do sistema ferroviário tradicional que possui dois trilhos paralelos.
Cada locomotiva tem em média seis vagões. O modal é usado internacionalmente
para atender a trechos de baixa lotação, como parques de diversões na Europa e Estados
Unidos. Há outro modelo em que o comboio se locomove suspenso, preso a armações
de ferro. O único gênero existente no Brasil está em Poços de Caldas, Minas gerais,
com pouco mais de seis quilômetros de extensão, e restrito ao turismo da cidade.
Por envolver a construção de vias elevadas, o monotrilho pode representar
prejuízo urbanístico à cidade. O Elevado Costa e Silva, conhecido como Minhocão,
no centro de São Paulo, é um exemplo do impacto desse tipo de via.
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