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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, abril 28, 2012

Para metroviários, sobra propaganda e falta planejamento no Metrô de São Paulo

Política de “esticar linhas” sem a criação de conexões alternativas para usuários só aumenta o caos no sistema metro-ferroviário.

Suzana Viera, via Rede Brasil Atual

A política de expansão do Metrô de “esticar linhas” já existentes está sobrecarregando o sistema metro-ferroviário de São Paulo, sem, contudo, melhorar as condições para o usuário. Para o presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Altino de Melo Prazeres Júnior, o modelo de expansão “alimenta o sistema com mais gente”. “Nossa expansão está atrasada e é feita de forma atabalhoada”, disse. Para o sindicalista, o panorama ideal é a criação de linhas que tenham pontos de intersecção com as atuais, ao contrário da continuidade das linhas já existentes.

Na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), onde não está havendo ampliação da malha, o problema está na troca e expansão da frota. “O caos na ferrovia é que colocaram trens novos e descobriram que não há subestação (de energia) para alimentar as máquinas”. Embora haja trens mais velozes e mais modernos não há “alimentação suficiente”. “A equipe técnica da empresa já sabia disso há quatro anos. Compraram trens modernos, bonitos e sem condições técnicas de trafegar.”

Esse problema causou pane em uma locomotiva da Linha 7 – Rubi (Luz – Francisco Morato), no dia 29 de março, que culminou em protestos e destruição de parte da estação Francisco Morato, na Grande São Paulo. Na ocasião, segundo Altino, a solução foi “desenergizar” uma via para a outra funcionar. “É como comprar uma Ferrari e não ter dinheiro para a gasolina. São governos mais preocupados em dar resposta rápida à mídia do que em resolver a questão”, afirmou Altino.

Planejamento
Os metroviários são a favor da expansão, mas lamentam o caos criado com a falta de planejamento. “Com esse modelo, estamos sem muita perspectiva de saída”, alertou o sindicalista.

Os metroviários também creditam a “erro de planejamento” a superlotação do metrô. “Dizer que houve ‘tsunami de usuários’... Eles não estudaram a demanda? Não entenderam que ia ter aumento. Todo mundo sabia disso”, apontou Altino, em referência ao termo usado por Fernandes para justificar a superlotação do sistema, principalmente a partir da operação da Linha 4 – Amarela do metrô em horário integral, em setembro de 2011.

Ele prevê que a mesma deficiência vai atingir o monotrilho, quando o sistema começar a funcionar. O modal que vai operar na Linha 17 – Ouro está previsto para interligar, na primeira fase, o aeroporto de Congonhas à estação Morumbi da Linha 9 – Esmeralda (Osasco – Grajaú) da CPTM. “Quanto tiver os primeiros problemas vão dizer ‘não esperava, estou surpreso que tem tanto usuário’”, disse.

Altino avalia que o governo precisa realizar uma discussão ampla com especialistas, usuários e sindicatos que representam os trabalhadores da rede metro-ferroviária de São Paulo e definir ações imediatas para que a crise do transporte na região metropolitana de São Paulo possa ser resolvida em até cinco anos.

Segundo ele, se uma nova forma de planejamento não for implementada agora, os problemas serão muito piores nos próximos anos. “Cada governo resolve expandir a rede de um jeito e, na verdade, não há plano, porque investir em trens sem energia para trafegarem parece coisa de criança”, classificou. A solução só virá com planejamento e tem de ser rápido. Por enquanto, falta vontade política e sobra propaganda.”

Monotrilho
O monotrilho é um veículo movido a eletricidade e trafega em um único trilho, diferentemente do sistema ferroviário tradicional que possui dois trilhos paralelos.

Cada locomotiva tem em média seis vagões. O modal é usado internacionalmente para atender a trechos de baixa lotação, como parques de diversões na Europa e Estados Unidos. Há outro modelo em que o comboio se locomove suspenso, preso a armações de ferro. O único gênero existente no Brasil está em Poços de Caldas, Minas gerais, com pouco mais de seis quilômetros de extensão, e restrito ao turismo da cidade.

Por envolver a construção de vias elevadas, o monotrilho pode representar prejuízo urbanístico à cidade. O Elevado Costa e Silva, conhecido como Minhocão, no centro de São Paulo, é um exemplo do impacto desse tipo de via.

 

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