Como preparar uma crise institucional
No dia 1o de setembro de 2008, os Ministros Gilmar Mendes, Cezar Peluso e
Carlos Ayres Britto saíram da sede do STF (Supremo Tribunal Federal)
atravessaram a Esplanada dos Ministérios e entraram no Palácio do
Planalto para uma reunião com o presidente da República, Luiz Ignácio
Lula da Silva.
Foi uma reunião tensa, a respeito da suposta conversa grampeada entre
Gilmar e o senador Demóstenes Torres. Os três Ministros chegaram sem
nenhuma prova concreta sobre a autoria ou mesmo a existência do tal
grampo. Mas atribuíam-no irresponsavelmente à ABIN (Agência Brasileira
de Inteligência) e exigiam de Lula providências concretas.
No auge da reunião, Gilmar blasonou: “Não queremos apenas apuração, mas punição”.
Bastaria Lula ter perdido a paciência e endurecido o jogo para criar uma
crise institucional sem precedentes, entre o Supremo e o Executivo. Sua
habilidade afastou o risco concreto de uma crise institucional, à custa
do sacrifício do diretor-geral da ABIN, delegado Paulo Lacerda,
afastado enquanto durassem as investigações.
Tanto no Palácio como na Polícia Federal e no Ministério Público Federal
sabia-se que o grampo, se existiu, não havia partido da ABIN nem da
Operação Satiagraha, já que nenhum dos dois – Demóstenes e Gilmar – eram
alvo de investigação.
Foi aberto um inquérito na PF que concluiu pela não existência de
qualquer indício, por mínimo que fosse, de que o grampo tivesse
existido.
O país esteve à beira da mais grave crise institucional
pós-redemocratização devido a uma conspiração envolvendo Demóstenes
Torres-Carlinhos Cachoeira, a revista Veja e, direta ou indiretamente, o
Ministro Gilmar Mendes.
Pouco antes do episódio, o assessor da presidência, Gilberto Carvalho,
foi procurado por repórteres da revista com a informação de que ele
também havia sido grampeado. Descreviam diálogos que teria tido com
interlocutores.
A intenção era criar um clima de terror, passar ao governo a impressão
de que a ABIN e a Satiagraha haviam saído de controle e estavam
espionando as próprias autoridades. E, com isso, obter a anulação da
operação que ameaçava o banqueiro Daniel Dantas.
É bem possível que os tais diálogos de Gilberto tenham sido gravados
pelo mesmo esquema Veja-Cachoeira que forjou um sem-número de dossiês,
muitos deles obtidos de forma criminosa e destinados ou a vender
revista, impor o medo nos adversários, ou a consolidar o império do
crime do bicheiro.
Durante anos e anos foi um festival de assassinatos de reputação, de
jogadas pseudo-moralistas visando beneficiar o parceiro Cachoeira.
A revista tentou se justificar, comparando essas jogadas ao instituto da
“delação premiada” – pelo qual promotores propõem redução de pena a
criminosos dispostos a colaborar com a Justiça. No caso de Cachoeira,
suas denúncias serviam apenas para desalojar inimigos e reforçar seu
poder e o poder da revista.
Esses episódios mostram o poder devastador do crime, quando associado a veículos de grande penetração.
É um episódio grave demais para ser varrido para baixo do tapete.
*BrasilMobilizado
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