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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, abril 25, 2012

Bomba! Bomba!: Descoberta a localização do Éden

do Informação Incorrecta
À procura do Paraíso

Prólogo
Querido Leitor, hoje é dia de fiesta!
Em Portugal festeja-se a Revolução dos Cravos.
Em Italia festeja-se o Dia da Libertação.
No mundo festeja-se o segundo aniversário de Informação Incorrecta.
Por isso decidi conceder-me uma prenda. Hoje nada de artigos politico-economico-financeiro-globalista-terrorista-reflexivo-sociais. Só um artigo, comprido, que nada tem a ver com o blog. Amanhã voltaremos com as desgraças do costume.
É a minha prenda. Tenha paciência. E, como consolação, pense que o próximo aniversário do blog será só daqui a 12 meses.
Boa leitura.
O Paraíso Perdido
Proponho ao Leitor uma curta viagem à procura de algo que foi perdido.
Ponha de lado os problemas, que são muitos, conceda-se alguns minutos de descanso e venha comigo: temos que encontrar o Paraíso.
Sério, não estou a brincar. Falo do Paraíso, o verdadeiro, o Éden.
O quê? Não existe? É apenas um mito?
Coitado do Leitor, os problemas são mesmo muitos, não é? Vê-se.
Até poucas décadas atrás era normal acreditar no Paraíso, no Inferno e no Purgatório. Depois tudo mudou: agora o Leitor já não acredita. Acredita na dívida pública, mas não no Paraíso. Grande troca.
Venha comigo, confie: na pior das hipóteses, será um pouco de descontracção.
Pastores, ovelhas e Big Bang
Conhece a Bíblia? Conhece sim, é o livro mais difundido do mundo. Mas fique descansado, não vou tentar converte-lo. Nada de religião aqui, apenas História.
A primeira parte da Bíblia tem um nome, Velho Testamento, acerca do qual não muito se sabe: é um conjunto de escritos que reportam tradições muito antigas, velhas de milhares de anos em alguns casos. E isso é interessante na nossa procura.
O conceito de História como ciência é bastante recente: ao longo de muito tempo os acontecimentos passados eram transmitidos não com livros e imagens mas com a memória e as palavras.
Agora, imagine o Leitor estar num grupo de pastores, no meio do deserto, algumas centenas de anos antes de Cristo. O Leitor é o convidado de honra pois, enquanto pessoa culta (prova: lê Informação Incorrecta), prometeu explicar algumas coisas acerca do passado remoto. São histórias, e os pastores gostam de ouvir histórias.
Então o Leitor levanta-se, aproxima-se da fogueira e começa: "Meus senhores, há muito tempo não havia nada. Depois aconteceu o Big Bang".
"O quê?"
"O Big Bang, a grande explosão"
"Ahhh...e que explodiu se não havia nada?"
"...ok, recomecemos, pode ser? Então, uma vez havia um átomo..."
"Um quê?"
"Um átomo: a coisa mais pequena que é possível observar"
"Ah, uma pulga"
"Não, não uma pulga. Senhores, a matéria toda é feita de átomos, percebem?"
"..."
"...ok, esqueçam o átomo...então, um dia a Terra formou-se...
"E quem a fez?"
"Ninguém, formou-se sozinha"
"Sozinha?"
"Sim, foi a agregação das rochas que havia no espaço"
"Qual espaço?"
"Aquilo" e indica o céu.
"Eu não vejo rocha nenhuma, e tu José?" "Nem eu...certeza que estavam la em cima?"
Ó Leitor, espere um pouco: você tenta explicar a formação do mundo com os conhecimentos actuais? A um grupo de pastores da antiguidade que passam a vida a falar com as ovelhas? Leitor, faça o favor: encontre algo mais simples...
"Tudo bem...No princípio havia o nada. E Deus disse: -Grande seca, todo o dia sozinho, fogo...-. Então criou o mundo"
"Epa, grande história essa! Continue, continue..."
Exacto, Leitor, os meus parabéns: assim a história era transmitida nos tempos antigos: sob forma de mitos, de contos. Em todo o mundo os antigos povos tinham os próprios mitos: eram histórias simples, que qualquer um podia entender sem esforço.
E foi assim também que foi transmitido o Antigo Testamento.
Agora, pensemos nisso: ao longo dos séculos estes contos foram modificados, adaptados, e isso por várias razões, muitas vezes de carácter político ou religioso. Mas eram mitos que tinham algo no fundo, traços de verdade, peças da História original.
O Dilúvio e o sapo australiano
Por exemplo: o Leitor conhece sem dúvida a história de Noé, da arca e do Dilúvio, certo? Esta história não é exclusiva do Antigo Testamento, muitos povos antigos tinham contos iguais, cada um com o seu Noé.
Só para ter uma ideia, o Dilúvio aparecia nas tradições dos povos:
  • da Escandinávia: com Bergelmir e família que fogem num barco enquanto o resto da humanidade morre.
  • da Mesopotâmia: com Utanapishtim que foi ajudado pelo deus Ea na construção dum navio com o qual sobreviveu ao dilóvio
  • da Índia: Manu constrói um barco que acaba na Montanha do Norte. Azarado, Manu salva-se sozinho, mas um ano depois é criada uma mulher.
das Ilhas Andamane: o deus Puluga envia o dilúvio ao qual sobrevivem apenas dois casais com as canoas deles.
  • da Indonésia: o deus Batara-Guru salva a filha com uma montanha no meio do dilúvio provocado pelo serpente Naga-Padoha.
  • da Malásia, duas versões:
versão Jakun , com o deus Pirman que provoca um dilúvio e salva um único casal num barco
versão Temuan, com os deuses que se fartam dos pecados dos homens e com um dilúvio matam todos: só um casal consegue subir a árvore no topo da montanha Gunung Raja e sobreviver
  • da Nova Zelândia: Ruatapu chamou os deuses do mar para afogar os homens, mas Kahutia-te-rangi invocou as baleias que salvaram o desgraçado. Kahutia-te-rangi foi o único a sobreviver ao dilúvio, por isso não é claro como a raça humana foi gerada a seguir...

  • da Polinésia: o deus Ruahato ficou enervado quando dois pescadores perturbaram o sono dele. Ruahato, um tipo calmo, decidiu matar todos o homens, mas os dois pescadores com a famílias foram os únicos sobreviventes, na única pequena ilha que não desapareceu nas águas (tinha sido o mesmo Ruahato a indicar-lhes a ilha, pelo que este deus parece ter ideias um pouco confusas). Existem mitos parecidos em Tahiti e as ilhas Hawai também.
  • da América do Norte: na tradição Mikmak, o deus criador ficou enervado com a violência dos homens, então pensou matar todos com as águas; só um casal sobreviveu numa canoa.
  • Na tradição Caddo, um deus decidiu matar quatro monstros com um dilúvio, coisa que matou todos os homens também: única excepção um casal que, alertado pelo mesmo deus, salvou-se no topo duma enorme cana.
  • Na tradição dos Hopi: o deus Sotuknag fartou-se dos homens pecadores e enviou o dilúvio: só alguns indivíduos sobreviveram ajudados pela Mulher Aranha que conseguiu esconde-los no interior de canoas (pormenor que será a felicidade de quem acredita em Atlântida: os sobreviventes viajaram em direcção norte-leste até alcançar o Quarto Mundo; uma vez chegados, as antigas terras desapareceram para sempre nas águas).
  • da América do Sul: no Código Borgia (Azteca) a era antes da nossa tinha acabado com um dilúvio enviado pela deusa Chalchitlicue.
  • Na mitologia Inca, o deus Viracocha destruiu com um dilúvio os gigantes, tendo havido só dois sobreviventes (que repovoaram a Terra).
  • Na mitologia Maya o dilúvio é enviado pelo deus Huracan.
  • Na mitologia Mapuche (lenda de Trenten Vilu e Caicai Vilu) foi uma luta entre duas serpentes que desencadeou o Dilúvio.
  • Na mitologia Muisca o deus Chibchaún provocou o dilúvio.

E seria possível continuar: há um dilúvio da Antiga Grécia, a lenda de Ziusudra (Suméria), as tradições chinesas (muitas)...mas a melhor versão acho ser a australiana.
De acordo com as tradições dos aborígenes, durante a era dos grandes sonhos um sapo bebeu toda a água do mundo e começou uma grande seca. A única maneira de acabar com a seca era fazer o sapo rir. Tentaram animais de toda a Austrália, mas sem sucesso.
Quando chegou a enguia, o sapo acordou, o corpo gigantesco tremeu e, finalmente soltou uma gargalhada que soou como um trovão. A água explodiu da sua boca e tornou-se uma grande inundação, que preencheu todos os rios e cobriu a terra. Somente as mais altas montanhas eram visíveis, como ilhas no mar.
Muitos homens e animais morreram. Os pelicanos, que na época eram completamente negros, pintaram-se com argila branca e foram de ilha em ilha numa grande canoa para salvar os outros animais. Desde então, o pelicano é preto e branco em memória do grande dilúvio.
Engraçada, não é?
Bom, mas voltemos ao que interessa. Este breve resumo demonstra que o mito do Dilúvio não é só um exclusivo da Bíblia e, provavelmente, estes contos todos escondem um (ou mais) acontecimento que interessou o planeta: pode ter sido a queda dum asteróide no mar (tsunami), o repentino aquecimento dos Polos ou outra coisa ainda. O facto é que os pesquisadores parecem concordar, algo se passou e foi transmitido de forma simples (acerca da zona europeia e médio-oriental é possível procurar no Google: teoria William Ryan e Walter Pitman, Bósforo, inundação do Mar Negro).
Portanto, querido Leitor, veja as coisas desta forma: se isso aconteceu com o Dilúvio, poderia ter acontecido com outros episódios bíblicos? Por exemplo: o Paraíso. Porquê não?
Göbekli Tepe, perto do céu
No artigo Göbekli Tepe: a História reescrita do passado Setembro, falámos das escavações arqueológicas da localidade turca, lembra-se? Não se lembra? Então eu escrevo para quê, para o boneco? Realmente...
Tudo bem, breve resumo: em 1964, uma equipa de arqueólogos turcos e americanos notou uma colina de aspecto anómalo, no topo do monte Göbekli Tepe (em turco: o Monte com a Barriga), perto da fronteira com a Síria. Pensaram: "Ah, sim, deve ser um cemitério bizantino, nada que interesse, vamos beber uma cervejola que está calor".
Acontece.
Trinta anos mais tarde, em 1994, um pastor estava com as suas ovelhas na mesma localidade quando decidiu sentar-se para descansar.
Uma das ovelhas disse ao pastor: "Olha la, não viste onde te sentaste?"
"É uma pedra, vai pastar e não te preocupes, vai..."
"Ó atordoado, não vês que é parte do muro dum templo, uma descoberta que irá revolucionar os conhecimentos arqueológicos de todo o mundo?"
E a ovelha tinha razão. Mais logo o pastor chamou as autoridades que, sob a direcção da ovelha, começaram as escavações.
Göbekli Tepe é de facto um sítio excepcional, que manterá empenhadas gerações de arqueólogos. O que antes era dado como certo, com Göbekli Tepe fica apagado.
Antes pensava-se que naquela altura o Homem vivesse em grutas.
Antes pensava-se que determinados conhecimentos arquitectónicos tivessem surgido 6.000 anos mais tarde.
Antes pensava-se que uma sociedade de caçador-recolectores não tivesse uma estrutura social complexa.
Antes pensava-se que as várias tribos vivessem de forma independente, como nómadas, sempre à procura de territórios de caça, atrás dos animais selvagens.
Göbekli Tepe, simplesmente, demonstra que estas hipóteses estavam erradas, todas. A verdadeira História é completamente diferente.
Pensará o Leitor: "Mas que tudo isso tem a ver com o Paraíso, eh?"
Pergunta legítima, mas tenha calma, agora vou explicar.
Pegamos num mapa e observamos: onde fica Göbekli Tepe? Fica na Turquia, perto da fronteira com a Síria.
"Grande coisa!" diz o Leitor, que evidentemente tem mau feitio. Calma, já disse, observe melhor: Göbekli Tepe fica na parte setentrional do Crescente Fértil, uma zona particularmente importante do ponto de vista histórico pois foi aqui que surgiram (provavelmente) as primeiras civilizações, foi aqui que o Homem descobriu (provavelmente) a agricultura. Foi o começo da sociedade.
"Mas o que são todos aqueles provavelmente, eh?"
Calma, Leitor, calma: lembre que falamos de arqueologia, que é uma ciência. E as teorias científicas valem até a próxima descoberta. Todavia duma coisa estamos certos: o Crescente Fértil era realmente fértil.
E fértil não apenas no sentido de que era fácil de trabalhar pelos agricultores: fértil porque o trigo, por exemplo, crescia de forma espontânea e abundante. Mas não apenas trigo: muito mais do que isso. Era uma região com um clima particularmente propício.
Uma região onde era suficiente estender o braço para recolher. Literalmente.
Os povos que habitavam tal zona deviam só recolher o trigo e armazena-lo: o resto era só complementar a dieta ao longo do resto do ano com a caça, numa região onde os animais selvagens não faltavam e os seres humanos eram ainda poucos.
Havia einkorn (o ancestral do trigo moderno), cevada, linho, grão de bico, ervilhas, lentilhas; ovelhas, vacas, cabras, porcos e cães. Faltava só o iPhone. 
Assim: comida fácil, água, presas abundantes, tudo num clima ameno e com poucas pessoas. Era ou não um Paraíso?
De facto era. Mas as coisas mudaram. E, ao que parece, com uma certa rapidez.
Não sabemos ao certo o que aconteceu. Alguns afirmam que a desflorestação provocada pelo Homem mudou o clima, cúmplice o crescimento demográfico e uma maior procura de recursos. Mas parece uma teoria que, sozinha, não consegue explicar tudo.
Há um natural processo de salinização da região, mas também neste caso não pode ter sido o único factor.
Por fim há razões climatéricas: Göbekli Tepe, por exemplo, surgiu enquanto o gelo da última glaciação começava a recuar na Europa, portanto era uma época de "transição", antes da região assumir o clima actual.
Provavelmente, como muitas vezes acontece, não houve uma única razão, mas um conjunto delas. Entre as quais particular importância pode ter tido o clima, que mudou para sempre o perfil do Crescente Fértil. Ainda hoje a zona é rica, mas depende das regas e da exploração dos rios: a maior parte da área é árida.
Os povos do Crescente Fértil tiveram que mudar o estilo de vida. O que antes era um campo de trigo espontâneo, agora era uma extensão de pedras. Tudo, lembramos, em tempos breves de alguma forma.
Alguns decidiram abandonar o local e procurar outras soluções: e a Europa conheceu uma vaga de imigração.
Outros ficaram na região, perto dos rios, e desenvolveram técnicas de irrigação para preservar as terras.
Mas a lembrança dos bons tempos idos não desapareceu. E tornou-se um mito.
Quatro rios
Lembre o Leitor o Antigo Testamento:
Flumen autem prodibat ex Eden, et irrigabat paradisum: quod inde dividitur in quatuor partes. Nomen uni Phison; hoc est quod circuit totam terram Evilath, ibi est aurum, aurum autem terrae illius optimum; ibi est carbunculus et lapis prasinus. Et nomen secundi fluminis Geon; hoc circuit totam terram Aethiopiae. Et flumen tertium Tigris; hoc est quod vadit contra Assyrios. Et flumen quartum dicitur Euphrates. Et sumpsit Dominus Deus hominem quem fecerat, et posuit eum in paradiso, ut operaretur ibi, et custodiret eum. 
Traduzido:
O paraíso era regado pelo rio que saia do Éden; que a partir daí era dividido em quatro partes. O nome de um é Phison: este é aquele que penetra na terra de Evilath, onde há ouro. [...] E o nome do segundo rio é Giom; que percorre toda a terra da Etiópia. E o terceiro rio, o Tigre, é o que vai entre os Assírios. E o quarto rio é o Eufrates.
Agora pegue o Leitor no mapa. Pegado? Poderia ter evitado, pois o mapa está mais abaixo. E podemos ver como Göbekli Tepe ficque entre o Tigre e o Eufrates, dois dos rios que circundavam o Paraíso. Interessante, não é? Mas há mais.
A Bíblia fala de dois outros rios, o Phison, que corre na terra de Evilath, e o Giom, na Etiópia.
Individuar estes dois rios é complicado, pois estes são os nomes pelos quais o povo hebreu conhecia os cursos de água.
O Phison já foi identificado com muitos rios: o Ganges, o Nilo e outros ainda. Mas a Bíblia é clara neste aspecto: fala de um "rio que saía do Éden; que a partir daí era dividido em quatro partes". Nada de rios que circundam o Éden, mas um rio que, após ter saído, dividia-se em quatro partes.
Isso exclui um curso de água nascido numa zona que não seja o altiplano da Anatólia. O problema, portanto, é agora individuar os actuais nomes do Phison e do Giom.
Quanto ao primeiro rio, uma pesquisa nos livros dos séculos passados podem ajudar.
Giuseppe Cappelletti, historiador italiano que teve a oportunidade de viajar muito na região da Arménia, publicou em 1841 o livro L'Armenia (A Arménia, Firenze, 1841), obra baseada nas experiência pessoais e no estudo dos trabalhos de San Narsete, do historiador arménio do V século Eliseo e do colega deste, sempre do V século, Mosé de Corene.
Cappelletti assim explica que segundo a tradição foi Moses que mudou para os hebraicos os nomes destes dois rios: o Giom (do hebraico Gehon, "correr rapidamente") foi assim ré-baptizado e, na Bíblia, perdeu a denominação original de Arasse (também Arax e Araxes).
Da mesma forma, o termo Phison substituiu o original Zorók (ou Giorók), rio hoje em território turco. Localização, esta, também confirmada na pouco conhecida "Carta de Jerónimo", do séc. XII, onde se fala da Arménia como da região "da qual nascem os rios Fison, Tigre [...]".
Diz o Sagaz Leitor: "Mas não será uma localização arbitrária?".
Muito bem, Leitor, muito bem. Mas não volte a contradizer-me, tá bom?
E lembre que o Monte Ararat, onde posou-se a Arca após o Dilúvio, fica na mesma zona. Interessante este pormenor: segundo a Bíblia, com o Dilúvio Deus escolheu uma "segundo início" pela Humanidade e onde decidiu recomeçar? Na Arménia, onde nascem os quatro rios do Éden. Nada mal como simbologia...
Doutro lado, a Arménia (nome com o qual era conhecida uma ampla zona da Anatólia oriental, maior do que o homónimo Estado moderno) é o lugar onde o mesmo Noé passou boa parte da vida após o cruzeiro.
O Paraíso!
Se aceitarmos as explicações de Cappelletti, temos um quadro interessante: uma região, na actual península da Anatólia, da qual partiam quatro rios Tigre, Eufrate, Phison e Giom. E o nome desta região era Éden.
No mapa, estilizados, os cursos dos rios Eufrate, Tigre, Zorók, Giom, mas a localização de Gobekli Tepe e, no quadrado verde, a possível localização do Paraíso.
Visto, Leitor? Encontrámos o Paraíso. Afinal nem foi assim complicado.
Só como curiosidade: o que há hoje no meio naquela zona? A árvore do Bem e do Mal?

Sensivelmente no meio do quadrado encontramos a cidade de Erzurum, a antiga Arzem romana. A cidade, com mais de 300 mil habitantes, pode ser vista na imagem à direita.
Ok, não será o Paraíso tal como o Leitor o tinha imaginado, mas enfim, é o que há...
"E onde fica a árvore da maçãs?". Ah, pois, a árvore da maçã...olhe, querido Leitor, deve ser aquele à direita, tem mesmo cara de árvore de maçã.
"Mas será mesmo esta a zona do Éden?"
Ninguém pode afirmar isso ao certo. Mas gosto muito da hipótese.
Desta forma, o Paraíso deixa de ser um lugar totalmente inventado e as primeiras linhas da Bíblia passam a descrever a aventura humana no começo da actual civilização: uma terra rica, que sustenta sem problemas as pequenas tribos de caçadores-recolectores. Tudo, óbvio, narrado de forma simples, facilmente compreensível por quem nem sabia ler ou escrever: uma história fascinante para ser contada à volta das fogueiras, nas frias noites do deserto.
Göbekli Tepe faz ainda mais sentido, pois encontrava-se mesmo ai, ao lado do "Éden". Não admira que os habitantes tivessem decidido erigir um templo, afinal eram realmente abençoados.
Claro está, difícil concordar com esta ideia.
O Leitor crente encontrará dificuldade em identificar esta região tão "terrena" com o jardim das maravilhas descrito na Bíblia, enquanto o Leitor não crente continuará a ver na Bíblia um livro de fantasias, sem ligações com a realidade.
Pouco importa: com ou sem Éden, esta foi uma zona realmente e profundamente especial.
Aqui, na parte do Crescente Fértil que confina com o "Paraíso", o Homem aprendeu as primeiras técnicas da agricultura, experimentou a criação, explorou os rudimentos da arquitectura.
Foi uma época fundamental para a nossa espécie.
E mais: uma época que deixou um legado. Fica ainda mais claro que o Homem não pode viver sem tomar em conta quanto a raça humana dependa do ambiente. E quanto este ambiente seja precário: o que um tempo era uma das zonas mais fértil do mundo é hoje uma terra árida, onde os homens têm que trabalhar duramente para alimentar os campos e deles conseguir nutrimento.
Na maçã proibida podemos encontrar a metáfora duma Natureza que nunca deixa de estabelecer qual o nosso rumo.
Para os pastores do deserto tinha sido culpa de Eva; hoje podemos ler nas entrelinhas e perceber que um ciclo tinha chegado ao fim e que o Homem tinha que adaptar-se perante a nova realidade ou morrer.
Afinal, a escolha é sempre nossa.
Ipse dixit.
Fontes: ehm...fontes havia, e muitas: mas fechei os separadores do navegador antes de tomar nota. Acontece. Doutro lado a lista teria sido muito extensa: o assunto aqui tratado é algo que empenhou (e ainda empenha) pesquisadores ao longo dos séculos; o material consultado foi muito e tentei condensa-lo.
Infelizmente cada resumo implica a ocultação de pormenores, com os quais o texto teria assumido proporções...bíblicas! Mesmo assim, se o Leitor estiver interessado, é simples efectuar uma pesquisa com Google e material não faltará.
*GilsonSampaio

2 comentários:

  1. eu tambem sempre achei que o lendario jardim do edem fosse nesse lugar agora os diluvios sempre existirao pelo mundo afora basta explodir um vulcao no fundo do mar tai a bagaceira nas filipinas um matou 300 mil pessoas a pouco tempo no japao quinze mil agora aqueda de um meteoro talves o noe desse diluvio pode nao salvar nem a sua cabeça vai depender do tamanho do objeto que vinher do espaço o mundo para os lunaticos ja acabou a muito tempo e eles ja vive no inferno

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