A derrubada de Salvador Allende foi uma dolorosa experiência para os povos sul-americanos
Via Diário Liberdade
Chile - TeleSur -
No
dia 11 de setembro de 1973 o Exército do Chile derrubou o presidente
democraticamente constituído Salvador Allende. O golpe de Estado levou à
morte, aos 65 anos, do líder socialista e deu começo ao genocídio de
milhares de chilenos.
A ação, planejada por
generais do Alto Comando das Forças Armadas e de Carabineros (polícia),
foi dirigida pelo general de Exército Augusto Pinochet Ugarte e que
recebeu intima colaboração da norte-americana Agência Central de
Inteligência CIA, e de vários grupos de poder nacionais e
internacionais.
O fim do governo de Allende deu
inicio ao Regime Militar, uma cruel ditadura encabeçada por Pinochet e
que duraria mais de 17 anos, deixado um saldo de mais de 3 mil
desaparecidos.
Allende, eleito por meio de voto
popular em 4 de setembro de 1970, se mantém como um dos personagens mais
simbólicos da história política do Chile e dos povos progressistas da
América Latina.
Apesar de defender a via
pacífica para o socialismo, que postulava um socialismo democrático e
pluripartidarista, os mil dias do governo Allende concluíram naquele 11
de setembro de 1973.
Sentença de morte
Uma vez que Allende assumiu a presidência começou a história para avançar na construção do socialismo pela via não-armada.
Foram
reatadas as relações diplomáticas com todos os paises socialistas.
Especial significado teve o restabelecimento das relações com Cuba, o
que ajudava a romper o injusto bloqueio imposto à Ilha pelos EEUU.
Profundizou-se
a Reforma Agrária, com a expropriação de terras. O Governo Popular pôs
fim ao latifúndio em 1972 e iniciou-se a nacionalização do cobre.
Também foram nacionalizados Bancos privados, acertando um duro golpe na oligarquia financeira.
Este
conjunto de medidas estruturais provocou reações brutais e teve inicio
um bloqueio econômico internacional por parte dos Estados Unidos, com o
congelamento das vendas de cobre ao exterior, enquanto que no Chile a
reação implementou a sabotagem interna, o estoque de mercadorias,
insumos e peças de reposição.
As campanhas de
desprestigio feitas pela mídia, os chamamentos e as pressões da direita e
o império das Forças Armadas (FFAA) para que aplicassem um golpe de
estado, foram a cada dia de maior intensidade.
O
Congresso, com maioria demo-direitista, aprovou um voto que estabeleceu
a inconstitucionalidade do Governo Popular; isto deu aos golpistas a
legitimidade para o golpe de Estado.
O golpe começou de madrugada
A
primeira tentativa de derrubar Allende se materializou em junho de 73,
através de um fracassado 'Tanquetaço'. Em 29 de julho, o auxiliar de
campo de Allende, comandante Araya Peters foi assassinado, enquanto
continuavam as pressões contra os militares leais ao Governo.
O
golpe tinha sido planejado para o dia 15 ou 16 de setembro afim de
camuflar a movimentação de tropas com o tradicional desfile militar de
19 de setembro, entretanto foi antecipado para o dia 11.
A operação militar começou de madrugada, com o levante da Marinha. Em seguida se alastrou por todo o território.
Às
6h20min desse dia, o presidente recebeu uma ligação telefônica na sua
residência da Rua Tomás Moro informando-o do golpe militar em andamento.
Imediatamente põe a sua guarda pessoal em estado de alerta e toma a
firme decisão de deslocar-se ao Palácio da Moneda para defender, do seu
posto de Presidente da República, ao governo da Unidade Popular. É
escoltado por 23 homens armados com 23 fuzis automáticos, duas
metralhadoras calibre 30 e 3 bazucas, tudo levado ao Palácio
Presidencial, aonde chegam às 7h30min, em quatro automóveis e uma
camionete.
Portando o seu fuzil automático, o
presidente, acompanhado pela escolta, entrou pela porta principal do
Palácio da Moneda. Até aquele momento a proteção habitual de
carabineiros mantinha-se no Palácio
Reúne-se, já
no interior do Palácio, com os homens que o acompanharam e os informa
da gravidade da situação e da sua decisão de combater até a morte
defendendo o governo constitucional, legitimo e popular do Chile diante
do golpe fascista. Analisou as forças disponíveis e ditou as primeiras
instruções para a defesa do Palácio.
Sete
membros do Corpo de Investigações chegaram para juntar-se aos
defensores. Enquanto isto, as sentinelas de carabineiros mantinham-se em
seus postos e alguns tomavam medidas para a defesa do prédio. Um
pequeno grupo da escolta pessoal toma conta da entrada da sala de
despachos presidencial com instruções de deixar passar a nenhum militar
armado para evitar qualquer traição.
No intervalo de uma hora o presidente Allende se dirige ao povo, via rádio, para expressar a sua vontade de resistir.
Após
as 8h15mim, pelos alto-falantes do Palácio a junta fascista convoca o
presidente à rendição e renúncia do seu cargo, oferecendo-lhe um
transporte aéreo para abandonar o país em companhia de sua família e
colaboradores. O presidente responde que "como generais traidores que
são não conhecem os homens de honra" e rechaça indignado o ultimatum.
No
seu despacho o presidente realiza uma breve reunião com vários altos
oficiais do Corpo de Carabineiros que tinham acudido ao Palácio e que,
naquele momento, recusavam-se covardemente a defender o governo. O
presidente os repreende duramente e os manda embora com desprezo.
Às
9h15min, aproximadamente, começam as primeiras descargas do exterior
contra o Palácio. Tropas fascistas de infantaria, em número superior a
duzentos homens, avançam pelas ruas Teatinos e Morandé, que ladeiam a
Praça da Constituição, rumo ao Palácio Presidencial, atirando contra a
sala de despachos do presidente. As forças que defendiam o Palácio não
passavam de quarenta homens.
O presidente ordena
abrir fogo contra os atacantes e ele, pessoalmente, também atira contra
os fascistas que retrocedem desordenadamente com numerosas baixas.
A violenta luta se prolonga por mais de uma hora sem que os fascistas consigam avançar um centímetro.
Por
volta do meio dia começa o ataque aéreo. Os primeiros foguetes lançados
pelos aviões caíram no pátio de inverno que fica no centro do Palácio
da Moneda, perfurando o telhado e explodindo no interior das
edificações.
Uma das explosões quebrou as
janelas próximas de onde o presidente se encontrava lançando fragmentos
de vidro que o feriram nas costas. Foram as suas primeiras feridas.
Às
2h, aproximadamente, os fascistas conseguem ocupar um ângulo do segundo
andar do prédio. O presidente se protegia, junto a vários de seus
companheiros, num dos cantos do Salão Vermelho.
É
neste momento que ocorre a sua morte, da qual existem varias versões.
Uma diz que ele morreu combatendo na defesa do Palácio, outra que foi
assassinado quando estava ferido e uma terceira diz que preferiu
suicidar-se a render-se.
A terceira versão
recebe mais créditos depois que, naquele dia, o presidente declarara
através da rádio Magallanes: "Pagarei com a minha vida pela lealdade do
povo".
Entretanto, Fidel Castro, lider cubano e
amigo de Allende, escreveu num testemunho publicado no livro "Grandes
Alamedas: O combate do presidente Allende", de Jorge Timossi, no qual
assegura que o presidente chileno foi assassinado com dois disparos, um
no estomago, que não o fez sucumbir e um segundo impacto no peito, que o
derrubou "e já moribundo foi metralhado".
Eis as últimas palavras do companheiro presidente Salvador Allende ao povo do Chile:
"Trabalhadores
da minha pátria: tenho fé no Chile e seu destino. Outros homens
superarão este momento gris e amargo, onde a traição pretende se impor.
Continuem sabendo que, muito mais cedo do que tarde, se abrirão as
grandes alamedas por onde passará o homem livre para construir uma
sociedade melhor. Viva o Chile! Viva o povo! Vivam os trabalhadores!!!
Estas
son mis últimas palabras, teniendo la certeza de que el sacrificio no
será en vano. Tengo la certeza que por lo menos, habrá una sanción moral
que castigará la felonía, la cobardía y la traición.
Estas
são minhas últimas palavras, tendo a certeza de que o sacrifício não
será em vão. Tenho a certeza de que, pelo menos, haverá uma sansão moral
que castigara a felonía, a covardia e a traição."
*GilsonSampaio
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