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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, setembro 10, 2012

A derrubada de Salvador Allende foi uma dolorosa experiência para os povos sul-americanos

Via Diário Liberdade
090912 allendeChile - TeleSur -
No dia 11 de setembro de 1973 o Exército do Chile derrubou o presidente democraticamente constituído Salvador Allende. O golpe de Estado levou à morte, aos 65 anos, do líder socialista e deu começo ao genocídio de milhares de chilenos.
A ação, planejada por generais do Alto Comando das Forças Armadas e de Carabineros (polícia), foi dirigida pelo general de Exército Augusto Pinochet Ugarte e que recebeu intima colaboração da norte-americana Agência Central de Inteligência CIA, e de vários grupos de poder nacionais e internacionais.
O fim do governo de Allende deu inicio ao Regime Militar, uma cruel ditadura encabeçada por Pinochet e que duraria mais de 17 anos, deixado um saldo de mais de 3 mil desaparecidos.
Allende, eleito por meio de voto popular em 4 de setembro de 1970, se mantém como um dos personagens mais simbólicos da história política do Chile e dos povos progressistas da América Latina.
Apesar de defender a via pacífica para o socialismo, que postulava um socialismo democrático e pluripartidarista, os mil dias do governo Allende concluíram naquele 11 de setembro de 1973.
Sentença de morte
Uma vez que Allende assumiu a presidência começou a história para avançar na construção do socialismo pela via não-armada.
Foram reatadas as relações diplomáticas com todos os paises socialistas. Especial significado teve o restabelecimento das relações com Cuba, o que ajudava a romper o injusto bloqueio imposto à Ilha pelos EEUU.
Profundizou-se a Reforma Agrária, com a expropriação de terras. O Governo Popular pôs fim ao latifúndio em 1972 e iniciou-se a nacionalização do cobre.
Também foram nacionalizados Bancos privados, acertando um duro golpe na oligarquia financeira.
Este conjunto de medidas estruturais provocou reações brutais e teve inicio um bloqueio econômico internacional por parte dos Estados Unidos, com o congelamento das vendas de cobre ao exterior, enquanto que no Chile a reação implementou a sabotagem interna, o estoque de mercadorias, insumos e peças de reposição.
As campanhas de desprestigio feitas pela mídia, os chamamentos e as pressões da direita e o império das Forças Armadas (FFAA) para que aplicassem um golpe de estado, foram a cada dia de maior intensidade.
O Congresso, com maioria demo-direitista, aprovou um voto que estabeleceu a inconstitucionalidade do Governo Popular; isto deu aos golpistas a legitimidade para o golpe de Estado.
O golpe começou de madrugada
A primeira tentativa de derrubar Allende se materializou em junho de 73, através de um fracassado 'Tanquetaço'. Em 29 de julho, o auxiliar de campo de Allende, comandante Araya Peters foi assassinado, enquanto continuavam as pressões contra os militares leais ao Governo.
O golpe tinha sido planejado para o dia 15 ou 16 de setembro afim de camuflar a movimentação de tropas com o tradicional desfile militar de 19 de setembro, entretanto foi antecipado para o dia 11.
A operação militar começou de madrugada, com o levante da Marinha. Em seguida se alastrou por todo o território.
Às 6h20min desse dia, o presidente recebeu uma ligação telefônica na sua residência da Rua Tomás Moro informando-o do golpe militar em andamento. Imediatamente põe a sua guarda pessoal em estado de alerta e toma a firme decisão de deslocar-se ao Palácio da Moneda para defender, do seu posto de Presidente da República, ao governo da Unidade Popular. É escoltado por 23 homens armados com 23 fuzis automáticos, duas metralhadoras calibre 30 e 3 bazucas, tudo levado ao Palácio Presidencial, aonde chegam às 7h30min, em quatro automóveis e uma camionete.
Portando o seu fuzil automático, o presidente, acompanhado pela escolta, entrou pela porta principal do Palácio da Moneda. Até aquele momento a proteção habitual de carabineiros mantinha-se no Palácio
Reúne-se, já no interior do Palácio, com os homens que o acompanharam e os informa da gravidade da situação e da sua decisão de combater até a morte defendendo o governo constitucional, legitimo e popular do Chile diante do golpe fascista. Analisou as forças disponíveis e ditou as primeiras instruções para a defesa do Palácio.
Sete membros do Corpo de Investigações chegaram para juntar-se aos defensores. Enquanto isto, as sentinelas de carabineiros mantinham-se em seus postos e alguns tomavam medidas para a defesa do prédio. Um pequeno grupo da escolta pessoal toma conta da entrada da sala de despachos presidencial com instruções de deixar passar a nenhum militar armado para evitar qualquer traição.
No intervalo de uma hora o presidente Allende se dirige ao povo, via rádio, para expressar a sua vontade de resistir.
Após as 8h15mim, pelos alto-falantes do Palácio a junta fascista convoca o presidente à rendição e renúncia do seu cargo, oferecendo-lhe um transporte aéreo para abandonar o país em companhia de sua família e colaboradores. O presidente responde que "como generais traidores que são não conhecem os homens de honra" e rechaça indignado o ultimatum.
No seu despacho o presidente realiza uma breve reunião com vários altos oficiais do Corpo de Carabineiros que tinham acudido ao Palácio e que, naquele momento, recusavam-se covardemente a defender o governo. O presidente os repreende duramente e os manda embora com desprezo.
Às 9h15min, aproximadamente, começam as primeiras descargas do exterior contra o Palácio. Tropas fascistas de infantaria, em número superior a duzentos homens, avançam pelas ruas Teatinos e Morandé, que ladeiam a Praça da Constituição, rumo ao Palácio Presidencial, atirando contra a sala de despachos do presidente. As forças que defendiam o Palácio não passavam de quarenta homens.
O presidente ordena abrir fogo contra os atacantes e ele, pessoalmente, também atira contra os fascistas que retrocedem desordenadamente com numerosas baixas.
A violenta luta se prolonga por mais de uma hora sem que os fascistas consigam avançar um centímetro.
Por volta do meio dia começa o ataque aéreo. Os primeiros foguetes lançados pelos aviões caíram no pátio de inverno que fica no centro do Palácio da Moneda, perfurando o telhado e explodindo no interior das edificações.
Uma das explosões quebrou as janelas próximas de onde o presidente se encontrava lançando fragmentos de vidro que o feriram nas costas. Foram as suas primeiras feridas.
Às 2h, aproximadamente, os fascistas conseguem ocupar um ângulo do segundo andar do prédio. O presidente se protegia, junto a vários de seus companheiros, num dos cantos do Salão Vermelho.
É neste momento que ocorre a sua morte, da qual existem varias versões. Uma diz que ele morreu combatendo na defesa do Palácio, outra que foi assassinado quando estava ferido e uma terceira diz que preferiu suicidar-se a render-se.
A terceira versão recebe mais créditos depois que, naquele dia, o presidente declarara através da rádio Magallanes: "Pagarei com a minha vida pela lealdade do povo".
Entretanto, Fidel Castro, lider cubano e amigo de Allende, escreveu num testemunho publicado no livro "Grandes Alamedas: O combate do presidente Allende", de Jorge Timossi, no qual assegura que o presidente chileno foi assassinado com dois disparos, um no estomago, que não o fez sucumbir e um segundo impacto no peito, que o derrubou "e já moribundo foi metralhado".
Eis as últimas palavras do companheiro presidente Salvador Allende ao povo do Chile:
"Trabalhadores da minha pátria: tenho fé no Chile e seu destino. Outros homens superarão este momento gris e amargo, onde a traição pretende se impor. Continuem sabendo que, muito mais cedo do que tarde, se abrirão as grandes alamedas por onde passará o homem livre para construir uma sociedade melhor. Viva o Chile! Viva o povo! Vivam os trabalhadores!!!
Estas son mis últimas palabras, teniendo la certeza de que el sacrificio no será en vano. Tengo la certeza que por lo menos, habrá una sanción moral que castigará la felonía, la cobardía y la traición.
Estas são minhas últimas palavras, tendo a certeza de que o sacrifício não será em vão. Tenho a certeza de que, pelo menos, haverá uma sansão moral que castigara a felonía, a covardia e a traição."
*GilsonSampaio

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