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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, maio 10, 2013

Ao lado de Dilma, Maduro afirma que Lula é o pai da esquerda na América Latina

Em Brasília, presidente da Venezuela encerra giro pelo Mercosul com acordos para promover 'revolução' alimentar que visa a reduzir dependência do petróleo e encontro com o ex-presidente
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou hoje (9) em Brasília, ao lado da presidenta Dilma Rousseff, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o último dos fundadores dos movimentos de integração da América Latina. “Hoje, Lula nos banhou de sabedoria. Esteve uma hora nos dando experiência de sua luta. Vemos Lula como um pai. Um pai dos homens e mulheres de esquerda de nossa América Latina. Dos três gigantes que começaram este processo de integração da América Latina, Kirchner, Chávez e Lula, só nos resta Lula”, disse, durante declaração à imprensa, fechando o último de três dias de visitas aos parceiros de Mercosul. Segundo a assessoria de imprensa do ex-presidente, os dois se encontraram no meio da tarde, em audiência que teve também a presença do presidente do PT, Rui Falcão.
“Estamos construindo o que nunca existiu. Brasil, para nós, era futebol, samba e caipirinha. Estávamos totalmente de costas. Não nos víamos, não nos conhecíamos. Da primeira vez que nos vimos seguramente foi com reserva”, acrescentou. A Venezuela assume no segundo semestre a presidência temporária do bloco regional, que, na visão de Maduro, nasceu em essência nas ideias de Hugo Chávez. “Esta visão nós escutamos pela primeira vez na Venezuela nos escritos de Chávez desde a prisão, em 1992. Desenhar o Mercosul. Naquela década de 1990, onde reinava o neoliberalismo, poderiam pensar que estava louco. Estava louco pela pátria grande.” O presidente venezuelano morto no último dia 5 de março tentou no começo da década de 1990 chegar ao poder por meio de um levante, ocasião em que acabou preso. Sete anos mais tarde, foi eleito.
Segundo a declaração conjunta no Palácio do Planalto, Maduro conseguiu no Brasil aprofundar as conquistas que obteve na véspera na Argentina, fechando parcerias para tentar reduzir a extrema dependência de seu país na questão alimentar. A baixa produção vem provocando alta nos preços dos alimentos, e a inflação é um dos principais desafios de seu recém-iniciado mandato. “Pedimos mais apoio ao Brasil para o desenvolvimento de uma revolução agroalimentar nos próximos anos. É uma grande meta. Produzir todos os alimentos que consumimos. Já sabemos que podemos”, informou Maduro, indicando ainda que espera receber dos brasileiros conhecimentos sobre técnicas de plantio e planejamento.
Ele culpou as altas rendas do petróleo, cujas jazidas foram descobertas em abundância no século 20, como responsáveis pela baixa produção alimentar. A Venezuela sofre com um baixo nível de industrialização porque o país abriu mão de produzir para depender quase que exclusivamente da arrecadação garantida pela extração da matéria-prima. “A Venezuela tem de aprender um mundo inteiro. Porque na Venezuela houve uma mutação com a chegada do petróleo. Mais que uma mutação, houve uma amputação. Hoje estamos resgatando isso.”
Maduro aproveitou a passagem por Brasília para fazer uma defesa do sistema eleitoral venezuelano, que declarou como um dos mais avançados do mundo, alvo de contestação da imprensa brasileira após a apertada vitória sobre Henrique Capriles, em abril. A oposição tenta nas últimas semanas garantir uma mobilização internacional contra o resultado. O presidente disse que segue em curso uma auditoria sobre todos os votos. “Hoje estamos construindo um governo para toda a Venezuela, para os que votaram em nosso governo, para os que não votaram em nosso governo. Estamos montando um grande projeto para todos.”
Em um curto pronunciamento, lido, a presidenta brasileira destacou a importância de a Venezuela presidir pela primeira vez o bloco. “Estou certa de que isso permitirá ao bloco viver um segundo ciclo de expansão do comércio e de integração das cadeias produtivas”, disse. “Presidente Maduro, este desafio, que é o desafio da integração regional, sonho de nossos antepassados e frustração de tantas gerações, tem sido encaminhado por todos nós. Isso tem grande significado político. Nossos países estão mostrando vocação para a criação de um futuro comum, que uma toda nossa região.”
*Saraiva

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