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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, maio 10, 2013

Querem que JB seja presidente, mas eis aqui por que ele não vai ser


Paulo Nogueira, Diário do Centro do Mundo

Faltam a ele charme, carisma e sinceridade de propósitos para ser o Beppe Grillo brasileiro.
Homenageado pela Casa Grande
Roberto DaMatta então decretou:  Joaquim Barbosa ganha a eleição.
E ganha no primeiro turno.

É o que o grande frasista britânico Samuel Johnson definia como o triunfo da esperança sobre a experiência.

DaMatta quer que JB ganhe.

Mas daí a isso se tornar realidade vai uma distância  simplesmente intransponível.

Presumo que da Matta tenha partido de uma premissa correta: o cansaço da sociedade com a vida política como ela é.

É um fenômeno mundial.

Na Itália, isso foi dar em Beppo Grillo, um comediante que entrou para a política e carregou milhões de votos para seu partido recém-fundado.

Basicamente, o que Grillo dizia é que a política como ela é já não faz sentido. Na Itália, você gira aqui, gira ali, e vai dar em Berlusconi.

Muita gente concordou com Grillo, jovens sobretudo.

Na Islândia, o prefeito da capital Reiquijavique se elegeu, saindo também do mundo da comédia, com uma plataforma em que prometia toalhas gratuitas depois dos banhos de piscina pública.

Cansaço, absoluto cansaço dos eleitores de Reiquijavique com os políticos levou o humorista a se eleger.

O Brasil já teve um caso parecido: Collor. Ele negou os partidos tradicionais, fundou o seu e acabou na presidência.

Existe no Brasil desencanto com a política? Claro que sim. Mesmo petistas convictos provavelmente não gostem de ver Lula e Haddad com Maluf, ou Dilma com Afif. (Afif idolatra Olavo de Carvalho, que chama Dilma de terrorista.)

Enquanto esses pactos são feitos em nome do pragmatismo político, o Brasil patina no avanço social.

Claro, esses pactos têm seu preço: dou meu espaço da tevê, dou meus votos, dou minha bancada – mas não mexe em mim e nem em meus amigos.

É mais ou menos assim que as coisas funcionam. Muitos privilégios – que traduzidos em dinheiro representariam ganhos sociais expressivos – se sustentam por causa dessas alianças.

Isso quer dizer o seguinte: é possível, sim, que o eleitor brasileiro abraçasse um fato novo, como Grillo.  Quem sabe ele fosse para o segundo turno com Dilma, dadas as alternativas miseráveis que estão no cardápio da oposição hoje.

Mas este fato novo não é Joaquim Barbosa.

Veja Grillo falando dois minutos, e depois repita a experiência com JB.

Grillo tem charme, tem carisma, tem discurso – e não está atrelado ao 1% que comanda o mundo político.

Joaquim Barbosa é pedante, se expressa com gongorismo, não tem carisma, não tem charme – e acabou sendo tragado pelo 1%.

Quem acredita que JB não representa o 1% acredita em tudo, na frase magistral de Wellington.

JB é o homem da elite predadora, aquele grupo minúsculo que tomou o Estado de assalto, com o golpe de 1964, e fez do país o campeão mundial da desigualdade.

O povo brasileiro é melhor que o mundo político brasileiro, e muito melhor que essa elite que fez do Estado sua babá.

O povo acordou. Entendeu, enfim, que seus interesses não coincidem com os da Globo, com os da Veja, com os da Folha, com os dos Mesquitas etc etc. E tem repetidamente mostrado isso nas urnas.

Não vai ser enganado pelo velho que aparece como novo.

Se aparecer alguém com uma proposta nova – basicamente, uma que acelere os avanços sociais que sob o PT vão em velocidade irritantemente baixa – tem boas chances de surpreender.

Mas JB, definitivamente, não é esse cara.

Aliás, é o oposto.

*Saraiva

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