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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, maio 18, 2013

LASAR SEGALL: O ARTISTA CROMÁTICO E SOCIAL

Lasar e seus colegas em uma sessão de pintura ao ar livre: liberdade e vanguarda
Lasar e seus colegas em uma sessão de pintura ao ar livre: liberdade e vanguarda
Por Maura Voltarelli

Alemão naturalizado brasileiro, Lasar Segall é considerado um dos ícones do modernismo brasileiro, seguindo e solidificando um caminho já aberto por Anita Malfati e pelo movimento modernista de 1922. Pintor de traços inusitados, que rompem com os academicismos e as formas tradicionais da pintura realista, adepto das cores fortes e expressivas, tocado pela crítica social e pela denúncia política do antissemitismo e dos horrores da guerra, Lasar combinou as heranças da tradição e cultura europeia com as cores e as temáticas tropicais, criando uma obra original e sempre atual.

A primeira exposição do artista no Brasil aconteceu em março de 1913, em São Paulo, e nas obras mostradas já se podiam ver as marcas do impressionismo alemão e da pintura holandesa.  Em comemoração ao centenário da exposição, o Museu Lasar Segall programou exposições de 50 obras do artista que pertencem ao acervo do Museu e também de algumas fotografias que faziam parte de seu arquivo pessoal.

Encontro
Encontro

Lasar tinha uma relação muito próxima com a fotografia, tanto que muitos de seus quadros, como Encontro, por exemplo, remetem diretamente a uma imagem fotográfica de seu casamento, apenas modificando alguns detalhes. Fotografias marcantes que traduzem um pouco do que foi a trajetória do artista, bem como movimentos decisivos para construir a proposta e o perfil estético de seu trabalho, como a fotografia que registra uma sessão de pintura ao ar livre com colegas da Academia de Dresden, em 1911, também fazem parte da exposição.

Nesta fotografia os colegas da academia carregam a modelo nua, em um manifesto que já ditava o movimento libertário e de vanguarda que se formava no momento.

Os demais registros fotográficos e as obras, algumas recentemente recuperadas pelo Museu, como Eternos Caminhantes, revelam o artista histórico e ousado. Eternos Caminhantes traz um grupo de andantes, tema recorrente na obra do mestre expressionista, que faz referência ao êxodo e à perseguição aos judeus. Sintética e geometrizada, a obra se instala em um tempo específico e, pela qualidade de sua construção, projeta-se na eternidade conquistada pelos grandes artistas.

Outras obras, como Bananal, trazem a temática tropical, sempre presente em Sagall principalmente na sua fase mais marcadamente expressionista. Parecem sinais do quanto o artista de terras frias ia se misturando com os costumes, as cores, a gente, das terras quentes tropicais, refletindo e ajudando a construir o modernismo de nossa arte.

Eternos caminhantes
Eternos caminhantes

Mesmo adepto do expressionismo, da (re)criação da realidade, e dono de um estilo próprio, Lasar também mantinha o diálogo com algumas tradições da pintura, revisitando gêneros como natureza-morta, retrato e paisagem. Os rostos, as frutas, os lugares ganham, no entanto, sempre o seu tom, a sua ousadia. Em cada obra respira certa sensualidade bruta original e uma denúncia visceral dos movimentos históricos, e, para os que querem encarar as trevas no coração da história, voltar ao seu Navio de emigrantes é sempre uma forma de voltar a nós mesmos.

Página do Museu Lasar Segall, onde podem ser vistas obras e fotografias do artista.
Algumas informações retiradas da revista da FAPESP, que traz reportagem com mais informações sobre o Museu Lasar Segall e sobre a exposição comemorativa.
Navio de emigrantes
Navio de emigrantes
  *Educação Política:

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