Licença Paternidade e Maternidade: uma igualdade que o feminismo defende
Licença Paternidade e Maternidade: uma igualdade que o feminismo defende
Fernando Azevedo - Causas Perdidas
Já
começo o post ratificando uma informação sobre a qual muitos leigos
quanto ao que é o feminismo se confundem: o inverso do machismo não é o
feminismo. Trata-se, na verdade, de uma questão até linguística. O
contrário de “macho”, um substantivo, não é o adjetivo “feminino”, mas
sim o substantivo “fêmea”. Portanto, o outro lado do machismo é o
“femismo”, no caso, uma ideologia não tão difundida que prega que a
mulher é superior ao homem e dá a ela direitos que o homem não tem.
Muitas
vezes, tenho o desejo pessoal de que certas mulheres que se dizem
feministas lembrem-se disso também: o feminismo se trata de igualdade,
não superioridade. Trata-se de uma luta por justiça, não de uma disputa
entre dois extremos, uma medição de forças carregadas de radicalismo e
desrespeito.
Enfim, a
luta pelas licenças maternidade e paternidade igualitárias é um tópico
que lembra muito que o feminismo está aí como uma luta por igualdade
(teoricamente falando, ao menos). Qual a proposta desse tópico?
Atualmente,
toda mãe tem direito assegurado pela CLT a quatro meses de afastamento.
Em algumas situações, pode haver a Licença Amamentação, que dá um
horário para a mulher amamentar seu filho. O homem, entretanto, recebe
míseros cinco dias de licença.
A
impressão deixada por esse quadro é óbvia e se trata de um dos grandes
estereótipos combatidos pelo feminismo: a mulher é a criatura que cuida
dos filhos, em casa, enquanto o homem é a parte que sustenta
financeiramente o lar.
Antigamente,
talvez, essa até pudesse ser uma proposta válida e inquestionável, mas
hoje o número de mulheres que trabalham e se dedicam a essa atividade
tanto quanto os homens cresce de forma inquestionável, balanceando o
conceito padronizado de núcleo familiar.
“Ah, tá, cara, você está certo. Pode até ser que a mulher trabalhe tanto quanto o homem. Mas, biologicamente, ela precisa desse
tempo. Afinal, o bebê saiu do corpo dela, não do homem. Ela precisa
desse tempo para se recuperar, para amamentar e tudo o mais.”
Devo
concordar com a parte biológica do contra-argumento, de fato. Mas então
eu coloco outra situação hipotética: a mulher acaba de sair do hospital,
onde teve parto normal ou cesariana. De qualquer forma, seu corpo não é
mais o mesmo. Seus seios estão inchados, seu organismo lentamente se
reajusta para não abrigar mais criança alguma e, lógico, ela tem que
amamentar. E ela tem o marido para ajudá-la durante cinco dias. Depois,
ela tem que lidar com o corpo, com a amamentação do bebê, seus choros,
suas fraldas, sua saúde, tudo sozinha. Sim, ela conta com familiares e
amigos, mas não seria justamente este o momento indispensável para a
presença do homem que, afinal, pode não ter ficado grávido, mas é tão
pai da criança quanto a mulher?
Eis que
entra a licença paternidade igualitária, e ela é proposta de duas
maneiras. Primeira: as duas licenças são longas, de mesma duração e
simultâneas. É um período bom para que pai e mãe atuem na manutenção dos
primeiros dias de vida da criança em conjunto. Na segunda, as duas
licenças ocorreriam uma depois da outra. A primeira seria a materna, em
função da restituição física da mãe e da sagrada amamentação. A segunda
seria a paterna, em que o pai teria as mesmas chances de cuidar da
criança. Estrategicamente, sou favorável à segunda opção, mas, para
núcleos familiares que não contam com o auxílio de terceiros para cuidar
da criança, a primeira opção pode ser melhor.
Porém a
questão não se limita aos cuidados do bebê, apesar de ser o cerne da
coisa. Há outras implicações na existência da licença maternidade.
Vamos a
uma entrevista de emprego. Já podemos imaginar a sala branca, os móveis
executivos e aquele entrevistador com rosto sorridente, mas olhos duros
do outro lado. “Sinta-se a vontade, mas não tanto assim”, eles dizem.
OK.
Você é
homem e ele pergunta se você tem planos de ser pai. Diz que sim, e isso é
bom. Significa que você não tem receio de responsabilidade e, em algum
momento, terá uma boca a mais para alimentar, o que o fará pensar muito
mais vezes antes de sair da empresa. Ele não pensa que você poderia não
ter tempo de cuidar do filho e sairia do emprego. Ninguém pensaria.
Homem de verdade não faz isso.
Agora,
você é mulher. O entrevistador pergunta se você deseja ter filhos e você
diz que sim. Péssimo. Em algum momento vai ter que tirar licença
maternidade e nenhum empresário quer ter desfalque de funcionário à toa.
E a mulher é que cuida do filho, então ela pode se ver sem tempo e, de
repente, sair da empresa. Péssimo, péssimo.
Agora é
outra coisa se a mulher for solteira. Ninguém supõe que uma mulher
solteira tenha tanta liberdade sexual assim para engravidar de repente. E
ela provavelmente não terá planos de ter filhos.
“Ah,
então saquei! Viu, mais uma vez, as feministas estão pensando no próprio
umbigo e só querem igualdade nisso para ferrar com nós, homens, também.
E eu aqui achando que elas queriam nosso bem também.”
Como
homem, digo que não é tão legal assim ter uma desvantagem durante uma
entrevista. Imagina se você quer ter filhos e a licença paternidade
existe: você não pode confessar isso numa entrevista. Ou confessa e
corre o risco de não ser escolhido. Porém, pense que atualmente inúmeras
mulheres sofrem por causa disso. Não é injusto que elas tenham que
suportar essa pressão enquanto nós não? Sim, é! Num mundo ideal, as
empresas não fariam isso, mas estamos distantes de estar num mundo
ideal.
Por
isso, sim. A licença paternidade traz para os homens uma vantagem: ficar
com a criança, poder exercer seu título de pai com mais do que “colocar
dinheiro na casa”. Traz também sua desvantagem: sofrer algum tipo de
preconceito, em âmbito profissional, por querer ser pai. Entretanto, a
igualdade não é representada por uma balança por motivos meramente
estéticos. Para se trazer o balanceamento, é necessário o
compartilhamento do peso em ambos os braços da balança social.
E você,
leitor, o que acharia de ter licença paternidade ou um marido que
pudesse compartilhar as responsabilidades de cuidar de um bebê?
Lembrando
que este post foi inspirado no inteligente “Coisas que as feministas
defendem e você não sabia: licença paternidade e maternidade
igualitárias”, da Cíntia em seu site cintiacosta.com. Não deixe de dar
uma conferida no site dela.*Mariadapenhaneles
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