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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, agosto 27, 2013

Os donos do mundo

Então é assim.
Os Estados Unidos, sob a orientação do democrata Barack Obama, decidem que o "ditador" sírio Bashad Al Assad cruzou a "linha vermelha" que eles haviam riscado naquele país do Oriente Médio, ou seja, que o exército usou armas químicas na guerra travada contra a guerrilha terrorista.

É bom lembrar que uma comissão da ONU está na Síria justamente para investigar o que houve ali de fato na semana passada, quando mais de mil pessoas morreram, aparentemente vítimas de gás tóxico - a grande dúvida é quem fez isso, o governo, que já havia autorizado uma inspeção, ou os terroristas da Al Qaeda, mercenários e grupos islâmicos extremistas de vários países, financiados pela Arábia Saudita e emirados da região, que movem a guerra para depor Al Assad.

Então é assim.
Os Estados Unidos seguem à risca o roteiro traçado em ocasiões anteriores, como no Iraque, por exemplo, no qual estava escrito que o temível Saddam Hussein tinha um estoque formidável de armas de destruição em massa, um estoque tão gigantesco que nunca foi achado depois que o exército americano arrasou o país e grande parte de sua população - crianças incluídas.

Então é assim.
O planeta Terra hoje tem um dono, um xerife, um "protetor" das virtudes da civilização ocidental, essa grande nação americana, a pátria da liberdade, onde os homens vencem por seu méritos e de onde partem os golpes de espada que vão eliminar deste mundo os maus elementos.

Então é assim.
Para que participar de organizações multilaterais como essa caquética e ultrapassada ONU, que não enxerga a necessidade do bom combate, que abriga nações resistentes a obedecer a nova ordem mundial?

Então é assim.
Vamos seguir o exemplo da Europa, a boa e velha Europa, com líderes que enxergam o futuro e sabem, por isso mesmo, que toda a esperança está do outro lado do Atlântico, bem ao seu norte.

Que importa que nos espionem, que invadam a privacidade de nossos cidadãos, que mintam despudoradamente, que persigam todos os seus opositores, que ultrapassem todas as "linhas vermelhas" que a ética, o bom senso, a decência e os tratados internacionais estabelecem?

O que vale mesmo é ser leal a essa notável superpotência, que nos oferece, generosamente, um naco do extraordinário botim que planeja arrebatar, desta vez de uma nação bárbara, inculta, uma cruel ditadura encravada ao lado de nossos grandes amigos israelenses, uma eterna ameaça a eles.

Então é assim.
Vamos resolver logo esse probleminha chamado Síria que este planeta ainda tem muita coisa de valor a nos oferecer. 

*ajusticeiradeesquerda

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