A maconha é frequentemente referida como o
primeiro degrau da escalada do consumo de outras drogas: seria a porta
que levaria ao uso de substâncias com grande potencial de causar
dependência química, como cocaína ou crack.
Entretanto, um estudo observacional
conduzido pelo psiquiatra Dartiu Xavier da Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp) e publicado no Journal of Psychoactive Drugs, aponta
justamente o contrário: a Cannabis pode ser realmente útil para tratar
sintomas de abstinência em usuários de crack e assim aumentar as chances
de recuperação.
O psiquiatra acompanhou 50 dependentes da
droga que relataram usar cigarros de maconha para atenuar a “fissura”,
ou seja, o desejo incontrolável de consumir crack. Ele observou que 68%
deles conseguiram abandonar a adição química e, posteriormente, por
conta própria, deixaram de utilizar a Cannabis.
Segundo Xavier, a erva deveria ser
considerada como parte de uma estratégia de redução de danos, para
afastar o usuário de outras drogas potencialmente mais prejudicais.
Países como Holanda e Austrália já incluíram a Cannabis em políticas de
saúde pública voltadas para dependentes de drogas. “A questão não é ser
contra ou a favor. Trata-se de ampliar o conhecimento sobre as
propriedade neuroquímicas dos canabinoides e sobre sua ação no cérebro,
para permitir o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes”, diz
Xavier, afirmando que, em anos de pesquisa, nunca identificou nenhum
fator que justificasse o senso comum de que o uso recreativo de Cannabis
pode, de alguma forma, impelir ao consumo de outras drogas.
Quando questionados sobre a primeira
substância que usaram, a grande maioria dos dependentes de crack ou
cocaína cita o álcool. Da mesma maneira que muitas pessoas usam somente
esta última substância ao longo da vida, muitas o fazem também com a
maconha.
Por enquanto, se maconha é porta de entrada para alguma coisa, essa coisa é a geladeira!
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