“Abram alas, a Idade Média vai passar”
Há exatos 50 anos, no dia 19 de março de 1964, São Paulo assistia à
famigerada “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”. E não é que
agora, meio século depois do Golpe que eliminou a democracia e qualquer
resquício de participação popular, amordaçou o país, e fez da tortura e
do extermínio de seus opositores uma política de Estado, está programada
uma reedição da Marcha, pedindo a volta dos militares ao poder?
Querem reeditá-la no próximo sábado, dia 22 de março. Pretendem fazê-la
em mais de 200 cidades brasileiras. Assim, sábado, podemos ter de volta
as famosas marchadeiras de 64, terço nas mãos e cabeça na Idade Média…
Hoje, quando se completam 50 anos daquela nefasta e reacionária marcha,
nós da Equipe do Blog do ex-ministro Zé Dirceu não podemos deixar de
recomendar o artigo “Marcha da família: negar tortura na ditadura
equivale a negar o Holocausto”, do jornalista Mário Magalhães.Não
poderíamos deixar de fazê-lo, sendo este blog do ex-ministro que deu 50
de seus 68 anos de idade à luta pela democracia e a liberdade neste
país.
O artigo do Mário Magalhães é uma análise importante porque joga luz
sobre um ponto crucial do discurso dos que defendem a manifestação: a
rejeição de que a tortura foi, sim, uma política de Estado durante a
ditadura e um “instrumento empregado contra milhares de pessoas”. E
mais: que levou à morte “a parcela expressiva de mais de 400 opositores
assassinados pelo regime que vigorou até 1985″.
Mário Magalhães lembra, ainda, que “não foram somente os ‘guerrilheiros
os mortos na tortura’: “Numerosos militantes antiditadura que se opunham
ao método da luta armada também foram assassinados. Do ponto de vista
histórico e legal, inexiste diferença entre as vítimas: nem mesmo a
legislação da ditadura autorizava sevícia, execução e desaparecimento
forçado”.
“Abram alas para a nova marcha da família – conclui o biógrafo de Carlos
Marighella – abram alas porque, como apregoou certa feita um personagem
histórico, a Idade Média vai passar”. Clique aquipara ler o artigo do Mário Magalhães na íntegra.
Em tempo:
Recomendamos, também, a leitura de “Marcha a ré”, artigo com fina ironia
do cronista e biógrafo Ruy Castro publicado hoje na Folha que traz um
alerta importante: sob o mando militar (1964-1985), “a família se
esgarçou, a liberdade acabou e, em pouco tempo, o próprio Deus saiu de
fininho para não se comprometer” (Clique aqui).
Não deixem de ler, também, o excelente artigo de Janaína Oliveira – “À
‘marcha da família’, opomos as Reformas de Base do Século XXI, capítulo
‘direitos civis’”. Janaína é coordenadora do setorial LGBT do PT,
publicado aqui, no Espaço do Leitor.
(Foto: Marcello Camargo/ABr)