É possível evitar a hegemonia petista na política brasileira nas próximas décadas?
Sem ter bola de cristal, provavelmente não. Para o bem ou para o mal,
o PT deve se tornar nas próximas décadas (não nas próximas eleições) o
partido hegemônico, ou seja, o partido com o maior poder político, mas
não o de total poder político.
E esse prenúncio de hegemonia, que é sentido por certos atores
políticos, tanto de direita quanto de esquerda, está nas ruas, nas
políticas públicas, na sociedade, nas pesquisas de opinião pública e no
eminente desmoronamento do PSDB nas próximas eleições presidenciais se
vingar a dupla Eduardo Campos (PSB) e Marina.
É por isso que surge o desespero de alguns lunáticos falando golpe
comunista, marcha da família, tradição e propriedade privada. Na
cabecinha miúda, os fantasmas aparecem e a vergonha desaparece. Daí a
quantidade de direitista e reacionários que saíram do armário para
combater homossexuais, petistas e outros seres que tendem a ganhar
espaço social. Se nos anos 60 e 70 havia algum medo real de revolução,
hoje não passa de alucinação.
Esse desespero faz sentido, há uma percepção social da inevitável
força petista que ganha muitos admiradores à direita e perde outros à
esquerda. Faz parte do processo e só mesmo uma ruptura democrática
radical poderá retirar a eminente hegemonia petista, que deverá ser
demandada pela própria sociedade.
Assim, falar que existe um “projeto hegemônico do PT” é redundância
ideológica e discurso vazio. Isso significa apenas que setores mais
conservadores da sociedade estão com medo que o PT atinja uma real
presença política que o permita imprimir políticas públicas independente
de negociações com os setores mais conservadores. Afinal, é óbvio
ululante que todo partido e toda a ideologia busca hegemonia.
Atualmente o PT é o partido que
ganhou, mas não levou. Ou melhor, levou mas sofre quando tenta uma
mudança na política pública de forma a melhorar as condições de vida
para a população como um todo. E os ataques vêm de diversos setores, mas
principalmente de setores que se sentem atingidos por políticas de
distribuição de renda, ainda que mínimas e superficiais.
No início disse que a hegemonia petista deverá chegar para o bem e
para o mal simplesmente porque não sabemos qual PT será hegemônico.
A questão talvez não seja evitar a hegemonia petista, mas em saber qual
hegemonia petista teremos. Talvez esta luta já esteja sendo travada
dentro do próprio PT.
*http://cartacampinas.com.br/2014/03/marcha-dos-insensatos-prenuncio-da-hegemonia-petista-gera-desconforto-em-setores-da-sociedade/
Páginas
Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário