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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, março 12, 2014


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Em 23 de fevereiro de 2014 aconteceu, em Cotonú, no Benim, um encontro entre o PCR da Costa do Marfim e o Partido Comunista do Benim, por ocasião das manifestações organizadas pelo Instituto Internacional de Pesquisa e Formação (INIREF) para celebrar a Jornada Internacional da Língua Materna e a Festa dos Povos do Benim.
Ambos partidos trocaram opiniões sobre a situação internacional e sobre as respectivas situações nacionais, assim como sobre as tarefas que delas decorrem.
Sobre a situação internacional
1. A crise capitalista mundial manifestada em 2008 e cujos efeitos continuam, agrava as condições de vida do proletariado e dos povos do mundo, fazendo surgir em todo o planeta variadas formas de luta pela libertação.
2. A aparição em escala mundial de novas potências chamadas emergentes (BRICS), cujo núcleo é Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, alimenta as rivalidades interimperialistas e a multiplicação de conflitos locais, o que constituem elementos de uma nova guerra mundial.
A primeira contraofensiva das potências imperialistas clássicas para deter o crescimento dos países “emergentes” aconteceu na Líbia. Conseguiram fazer a guerra em acordo com China e Rússia e contra os povos africanos. Ao fim desse conflito, a França ficou com 35% do petróleo líbio.
A segunda contraofensiva é sobre a Síria, mas encontram resistência na determinação do povo sírio e também na política de Rússia e China. Algo parecido acontece com o desenrolar da situação do Irã.
Sobre o continente africano
1. Na África se manifestam todas as contradições mundiais: abundância de riquezas inexploradas; tremenda miséria da maioria da população; ganância dos imperialistas; dominação cultural, agressões militares contra os povos; instalação de bases militares em certos países que servem de Base de Operações Avançadas, como é o caso da Costa do Marfim e da República de Djibuti. A rivalidade é forte entre as antigas potências e as novas qualificadas de emergentes. Essa rivalidade é a base de todos os conflitos de que são vítimas os povos africanos.
2. Para proteger seu “quintal”, o imperialismo francês recorre à ocupação militar direta de suas antigas colônias. O dispositivo militar dos imperialistas (franceses e estadunidenses, Africom, etc.) trata de controlar a África com tropas de agressão mediante as bases militares no Djibuti, Chade, Gabão, Costa do Marfim, na região subsaariana, no Golfo de Guiné, etc. Dessa forma, Abidjan (importante cidade da Costa do Marfim), atualmente, serve de retaguarda da agressão contra os povos da região.
A última intervenção militar é a que se leva a cabo na República Centro Africana. Se utiliza qualquer pretexto para justificar a intervenção nos países africanos: “derrocar um déspota que se nega a aceitar o resultado das urnas”, na Costa do Marfim; “socorrer o povo líbio que se rebela contra o ditador Kadafi”; “combater os jihadistas e restabelecer a integridade territorial” do Mali; “reestabelecer a segurança e a ordem e deter os massacres” na República Centro Africana.  A tática do imperialismo é a mesma: ascender o fogo para ter o pretexto de intervir para apagá-lo. Mas é sabido que foi a intervenção francesa na República Centro Africana que exacerbou as relações étnicas e religiosas no país ao desarmar a “Seleka” e facilitar os crimes das chamadas milícias cristãs.
O PCR da Costa do Marfim e o Partido Comunista do Benim declaram que o imperialismo francês e suas forças militares são os únicos responsáveis dos massacres atuais contra cidadãos centroafricanos, particularmente dos muçulmanos, que sofrem com o genocídio praticado no país.
O PCR da Costa do Marfim e o Partido Comunista do Benim denunciam e condenam as agressões militares do imperialismo internacional, particularmente do francês, que se cobre com as forças da ONU e se comporta como bombeiro para conservar seu “quintal” africano. Rendemos homenagem a todos os africanos mortos pelas balas dos agressores franceses na Líbia, Costa do Marfim, Mali, República Centro Africana, etc., vítimas que consideramos heróis e mártires por seu patriotismo africano.
3. O PCR da Costa do Marfim e o Partido Comunista do Benim se alegram pelas vitórias alcançadas pelo povo irmão tunisiano sob a direção do Partido dos Trabalhadores e da Frente Popular da Tunísia; vitórias da democracia, contra o obscurantismo islamita e por uma constituição democrática.
Saudamos também o povo nigeriano que luta bravamente contra o saque de suas riquezas minerais, particularmente do urânio, que leva a cabo o grupo AREVA, e pela soberania de seus recursos naturais.
A situação no Benim e na Costa do Marfim
1. A situação no Benim e na Costa do Marfim se caracteriza pela dominação do imperialismo francês, cujos monopólios controlam importantes setores da economia nacional (portos, bancos, energia, etc.).
2. No Benim, Yayi Boni, depois de saquear a economia e as finanças do país, que restaurar uma ditadura fascista. Contra ele o povo se levanta para impedi-lo e para instaurar o poder dos trabalhadores e do povo. O PCR da Costa do Marfim apoia firmemente a luta dos trabalhadores e da juventude do Benim pela emancipação total, e manifesta sua esperança de que alcance um final feliz.
3. Na Costa do Marfim, com o falso pretexto de desenvolvimento depois do desastre da guerra, o poder de Uattara confiscou os meios de comunicação do Estado, amordaçando as liberdades. Trata agora de proibir as organizações dos estudantes e colocar em seu lugar estruturas fantoches. O Partido Comunista do Benim apoia a luta do povo da Costa do Marfim e do Partido Comunista Revolucionário em seu combate contra o imperialismo francês e contra o regime de Uattara e para libertar o país da dependência colonialista.
4. PCR da Costa do Marfim agradece ao Partido Comunista do Benim e ao Instituto Internacional de Pesquisa e Formação pelo convite às manifestações em comemoração à Jornada Internacional da Língua Materna e à festa dos povos do Benim.
O PCR da Costa do Marfim e o Partido Comunista do Benim convocam os democratas e a juventude:
Não às intervenções militares contra os povos!
Não às bases militares estrangeiras de agressão no solo africano!
Fora imperialismo!

Cotonu, 23 de fevereiro de 2014

Gnagnon Yokoré
PCR da Costa do Marfim
*jornalAverdade

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