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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, março 09, 2014

Semana de Hip Hop de São Paulo terá 140 atrações entre os dias 15 e 22

Além de shows, serão debatidas questões de gênero, racismo, genocídio e realidades em outras cidades do mundo. Evento completa dez anos com orçamento de R$ 500 mil


Divulgação
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Rapper Pirata: "O louco é isso, a periferia conseguiu se apropriar do orçamento a partir das discussões da periferia"
São Paulo – Os quatro elementos do Hip Hop vão tomar São Paulo entre os próximos dias 15 e 22. Aproximadamente 140 ações de discotecagem, grafite, break e rap estarão espalhadas por 14 palcos em todas as regiões da cidade. Além de apresentações e oficinas, o evento terá debates sobre questões de gênero, autonomia no mercado do Hip Hop, racismo e o genocídio nas periferias.
“O mais importante é que conseguimos que um movimento da periferia mobilize cinco secretarias: Educação, Direitos Humanos, Cultura e de Igualdade Racial e fazer o orçamento chegar a meio milhão de reais. Só que não chega a ser como a Virada Cultural, que tem 6 milhões de reais e acontece em um único dia”, disse o rapper Pirata, membro do Fórum de Hip Hop, uma das entidades que participaram da organização do evento.
A semana está garantida em lei desde 2004. Mas, apesar da obrigatoriedade legal , em 2010 o Fórum de Hip Hop, em parceria com a Ação Educativa, precisou mover uma ação para que a semana recebesse o apoio necessário da prefeitura. “A lei diz que que tem que acontecer e que deve ser uma coisa feita pela sociedade civil, na horizontalidade e não vinda de cima para baixo. Este ano mais de 140 pessoas participaram do debate para construir a semana”, enfatizou Pirata.
Também são esperadas pelo menos duas apresentações de grupos internacionais e a participação deles em debates sobre a realidade de suas cidades. “Nossa ideia não é focar no artista, mas na essência do Hip Hop, que é a discussão sobre as periferias”, explica o rapper. “O louco é isso, a periferia conseguiu se apropriar do orçamento a partir das discussões da periferia”, disse Pirata, apontando o evento como o maior da América Latina. “Nem o carnaval é uma semana. Com o detalhe que é um evento de Hip Hop.”
Para Renato Almeida, assessor da Secretaria de Cultura para Cidadania Cultural, o evento resgata uma dívida com a expressão artística, cujo nascedouro no Brasil ocorreu justamente na cidade. “Hoje é impossível se falar em cultura periférica, saraus e toda essa efervescência que acontece nas periferias de São Paulo sem falar de Hip Hop. Tudo isso deve muito ao legado dele, que vem desde os anos 90. O Hip Hop coloca a palavra periferia em outro patamar”, avaliou.
A programação completa do evento e locais dos palcos estará disponível amanhã (7) no site da Secretaria Municipal de Cultura.

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