Câmara cede aos saudosos da ditadura
Por Altamiro Borges
Num gesto deprimente e revoltante, a mesa diretora da Câmara Federal
decidiu abrir espaço na casa para homenagear os golpistas de 1964. Por
solicitação do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), famoso defensor das
torturas e assassinatos do período da ditadura, ocorrerá uma sessão para
“comemorar os feitos” do golpe militar de 1964, que completa 50 anos em
abril. Segundo relato da Folha de segunda-feira (17), a medida visa
agradar “tantos os defensores quanto os críticos da ditadura” e “evitar
uma saia justa, deixando espaço para ambos os lados”. Um verdadeiro
absurdo, que mostra a fragilidade da democracia brasileira!
A Câmara Federal já havia programado uma sessão solene para lembrar os
50 anos do fatídico golpe, que tanto infelicitou a nação brasileira –
com prisões, torturas, mortes, desaparecidos, fechamento do Congresso
Nacional, intervenção nos sindicatos, censura a jornalistas, entre
outros vários crimes. Por solicitação da deputada Luiza Erundina
(PSB-SP), o ato homenagearia “civis e militares que resistiram à
ditadura” e seria “consagrado à reflexão sobre o significado da luta
pela democracia e sobre a herança autoritária ainda por enfrentar e
superar plenamente em nosso país”, conforme detalha o requerimento
aprovado.
A deputada federal ainda sugeriu que a Câmara Federal promova, em 2014, o
“ano da democracia, da memória e do direito à verdade", com vários
eventos para lembrar o período sombrio da ditadura. Outras atividades
também estão sendo organizadas pelos partidos progressistas e movimentos
sociais. Num gesto de provocação, porém, a bancada dos saudosos do
regime militar forçou a barra para obter espaço para suas ideias
fascistóides no Congresso Nacional e conseguiu a complacência da mesa da
Câmara Federal, presidida pelo deputado Henrique Eduardo Alves
(PMDB-RN).
Segundo relato da Folha, o deputado Jair Bolsonaro já “prepara para a
sessão de abril um discurso de meia hora e disse que vai aproveitar o
alcance da TV Câmara para ‘desmistificar o que foi o período militar’.
Um dos convidados do deputado é o coronel reformado Carlos Alberto
Brilhante Ustra, que chefiou o DOI-Codi em São Paulo e é considerado um
dos símbolos da tortura praticada pelos militares. Para ele, não há
constrangimento em levar para dentro do Congresso Nacional a defesa do
golpe. ‘Aqui não é a casa da democracia, que vale o contraditório, que
todos têm direito de se expressar?’, disse”.
A decisão da Câmara Federal é repugnante e beira a ilegalidade. Em 2013,
na presença dos chefes das Forças Armadas e da presidente Dilma
Rousseff, o Congresso devolveu, simbolicamente, o mandato do presidente
João Goulart (1919-1976), deposto pelo golpe. Pouco antes, os
parlamentares anularam a sessão do Congresso de 2 de abril de 1964 que
viabilizou o golpe ao declarar vaga, na ocasião, a Presidência da
República. Além disso, uma Comissão da Verdade, instituída pelo governo
federal, apura os crimes da ditadura – exatamente para que eles não
voltem a ser cometidos. Agora, a Câmara abre espaço para os golpistas e
os saudosos da ditadura!
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