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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, março 08, 2014

         A MALDADE DAS CRIANÇAS

       

Numa sátira famosa, o irlandês Jonathan Swift, autor do clássico Viagens de Gulliver, propôs uma solução inusitada para o problema das crianças abandonadas de seu país: vendê-las como iguaria para os ricos... Além das carnes apetitosas, o corpo dos petizes ainda proveria os irlandeses abastados de finíssima pele, que, bem tratada, daria “luvas admiráveis para as senhoras” e “botas de verão para os cavalheiros elegantes”.
A MALDADE DAS CRIANÇAS
Pode parecer que essa proposta é uma crueldade, mas crueldade, amigos, seria deixar viver uma criatura demoníaca que cotidianamente nos atormenta. Pois não é isso o que fazem as crianças? Quem, neste mundo, espalha tantas torpezas quanto elas? Além de dar muita despesa, fazer muita bagunça, atrapalhar as brincadeiras noturnas dos pais etc., elas se especializaram nos últimos tempos em desgraçar a vida dos nossos homens mais santos, em especial os digníssimos representantes da Igreja Católica.
Vejam vocês a que extremos pode chegar a velhacaria desses guris. Um padre passa a vida inteira se esforçando para alcançar a santidade: ora, jejua, flagela-se, lê a Bíblia, abstém-se dos prazeres mundanos etc. Aí vem um traquinas de seis, sete, oito anos de idade, cheio de maldade no coração, com o diabo no corpo, e se insinua vergonhosamente para o servo do Altíssimo, ora rindo com malícia, ora mostrando as coxas nuas, ora exibindo os dentinhos brancos... Por Deus! Como, amigos, vocês querem que alguém resista à tamanha tentação? Como alguém pode ver uma coisa dessas e não sucumbir ao pecado?
Estão, portanto, certíssimos o arcebispo polonês Jozef Michalik, o bispo espanhol Bernardo Álvares e o padre norte-americano Bernard Groeschel, entre muitos outros homens abençoados, ao atribuírem a culpa pela pedofilia clerical às próprias crianças. Ora, se elas não ficassem por aí seduzindo os ministros de Deus, eles jamais pecariam e, assim, não teríamos esses escândalos vexaminosos que mancham a imagem da nossa santíssima igreja.
Por isso, amigos, defendo o resgate urgente e a aplicação imediata da proposta de Swift. Vendamos essas pestes como provimento de carne e pele para os plutocratas do mundo. Não permitamos que elas continuem a destruir a credibilidade da igreja.
Alguém pode objetar que o abate das crianças acarretaria em breve a extinção da nossa espécie. Afinal, os adultos logo morrerão e, sem uma descendência que os substitua, a Terra ficaria despovoada de humanos. Mas essa não é uma objeção que mereça ser levada a sério, porque Deus, sendo onipotente, poderia facilmente repovoar o planeta fazendo chover adultos do céu, assim como fez chover manás sobre os judeus que atravessavam o deserto.
*euracional

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