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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, março 09, 2014

    Nocividades de igrejas no Brasil e a afronta da marcha com Deus


+Cartas e Reflexões Proféticas
Querido amigo Marcos Velasques

Alegro-me em contá-lo como amigo no Facebook. Conhece-te desde tua tenra idade quando teus queridos pais eram jovens. Tive a honra de ser aluno de teu pai, o Dr. e Teólogo Prócoro Velasques Fº. Ele era uma pessoa interessante: rigoroso como professor e um amigo simples nos contatos pessoais. 

Certamente acompanhaste pela mídia online a repercussão de meu artigo “Joaquim Barbosa é uma chaga social violenta e malcheirosa”. 

Choquei-me em alguns casos com a violência dos comentários nos sites, no meu blog e com as ameaças que recebi por telefone. Impressionante, as pessoas sabem que as ligações são rastreadas mesmo assim não vacilam em ofender e a ameaçar com bobagens que não significam nada em termos práticos, apenas representam mesquinharia humana e intelectual para debater os problemas que preocupam o País. 

Porém, um tipo de ameaça e conteúdo comentado me chama a atenção e que merece análise. Trata-se da postura política de setores católicos romanos, outros católicos e evangélicos. 

Aprendi com meu amigo e meu professor Psicólogo Social, Padre Pedrinho Guareschi, principalmente no seu livro Sociologia Crítica Alternativas de Mudanças, que a sociedade, além ser movida pela luta de classes, em virtude dos aparelhos ideológicos usados pela classe dominante ocupante do Estado, ou Bloco Histórico no dizer de Antonio Gramsci e de seu estudioso Louis Althusser, move-se com certos grupos que ganham poderes autônomos dentro da sociedade civil. Tais “autonomias” se constituem em força com fóruns de partidos e poderes de barganha ao ponto de ameaçar a paz social, sempre a serviço disfarçado da classe dominante, de quem recebe abastecimentos materiais. 

A partir de ofensas de que fui alvo a partir de meu artigo, que enfrenta o que representa Joaquim Barbosa num poder da república, o STF, sensibilizei-me para pensar e entender a ação de grupos de igrejas fundamentalistas em nossa sociedade. 

Vejo nas redes sociais e em sites religiosos “convocando” a sociedade para a tal “Marcha da Família com Deus pela liberdade”. Leio sobre fundamentalismo dogmático virulento pleno de ódio de agentes despertando racismo, homofobia e mentiras gravemente caluniosas e, por isso, criminosas contra negros, pobres, homossexuais e a esquerda. 

1. Política macabra de direita. Basta um bocadinho de análise para que os fios que costuram o tecido das posturas de pastores, padres e bispos, com atitudes fascistas mostrem suas ligações com interesses escusos e golpistas em nosso País. Em ano eleitoral como o que vivemos as fúrias dos interesseiros se exalta e se escancara ainda mais. 

Nas quadras eleitorais pastores, padres e bispos correm para todos os lados para fecharem acordos com candidatos abastados financeiramente. A resistência que setores de direita têm em relação a uma reforma política, que imponha financiamento público das campanhas e desbarate os currais alimentados por muita corrupção na compra de votos e de pressões da classe dominante sobre os de quem bancaram patrocínios eleitorais, possibilita que milhões de reais jorrem nestas ocasiões. É aí que muitos grupos de igrejas entram para trocar votos de seus frequentadores por dinheiro de candidatos corruptos, algozes dos pobres e da justiça social. As práticas, por tanto, nada guardam de santidade e fé. Aí, pelo contrário, rolam muitas corrupções, manipulações e atentados à justiça social em nome do “deixa assim que é melhor para nossos interesses”. 

A partir desses interesses mesquinhos, feios e imorais tudo cabe. É possível caluniar, ajudar a manipular as consciências informes, desde que se assegurem mais “recursos” para as “obras do Senhor, leia-se mais ladroagem de dinheiro para sustentar o aparelho idiológico religioso da manutenção do status quo. Por isso esse ódio contra a esquerda, que luta para quebrar esse pedestal sujo que sustenta a ideologia dominante e golpista.


2. Desprezo ao conhecimento. Os tais “líderes” religiosos afirmam que basta ler a “palavra” e ouvir seus pastores, verdadeiros capitães de grotas, para ser abençoado e feliz, principalmente para ir para o céu e deixar as riquezas da terra para os chefes de igreja. 


Uma crente resolveu, apesar de toda a sua pobreza econômica como empregada doméstica, ingressar numa universidade para fazer um curso superior. Finda a graduação comunicou ao seu pastor que ingressaria no mestrado. Meu Deus, ele se desesperou e lhe pediu para não fazê-lo. Disse-lhe que os estudos a tirariam da igreja e que ela viraria ateia. Um aluno meu me contou que informou à sua comunidade que faria um curso superior e que nele teria filosofia. Ato contínuo, desde o pastor até o mais humilde irmão, recomendaram que ele não prestasse atenção nas aulas de filosofia porque essa disciplina afasta de Deus e leva as pessoas ao ateísmo. 


E assim vai. A rasura intelectual, o desprezo à ciência e ao conhecimento é tamanho que cega as pessoas até mesmo na leitura da Bíblia, que chamam de “a palavra”, termo já tingido ideologicamente. A interpretação da sagrada escritura é ideológica a favor da classe dominante. Deus para essa interpretação é um poderoso rei sentado num trono, distante das desgraças dos pecadores. Para essa pregação Deus um dia, antes era no ano 2000, não se sabe quando, enviará de seu trono o seu Filho, que virá em nuvens para arrebatar os que dão dízimos, os santos e os puros. Noutras palavras, o Deus a quem se referem não tem nenhuma relação com o Deus pobre, sofrido, cuspido e crucificado como um sedicioso na Palestina, como Jesus ensinou e viveu. O Jesus que eles pregam, com o objeito de embotar a consciência dos direitos humanos e da luta de classes, é o de um fantasma sem história e sem contexto social. É um vulto ressurreto que mora no céu e nos corações dos dizimistas e puros. 


Pregam vida sem pés no chão, sem contexto, sem história e sem compromisso social. Seus cultos e missas são ruídos sem nexo com a realidade. Sua devoção não os remete aos injustiçados. Aliás, fora do arraial de cada um desses grupos, não há salvação. Todos são pecadores e merecem as desgraças que se empulham sobre seus ombros. Não se importam com nada desde que suas chefias consigam dinheiros para seus programas de TVs, de rádios e luxúrias. Daí para aliarem-se com candidatos e eleitos é um passo, se suas vontades são satisfeitas. Ouvi um deles dizer quando José Serra era candidato a presidente: “Serra é melhor para nós”. Perguntei porque e a resposta veio rápido: “ah porque o pastor Silas Malafaia conseguirá um canal de TV prá nós”. 


Quer dizer, esses grupos fanáticos, que praticam cizânias e guerras sociais não se importam com o povo, com a sociedade e com o Brasil. Tudo o que os move são os interesses igrejeiros. Entendem-se como um estado dentro da sociedade. São risco à paz social. 


O resultado é o luxo, é ânsia burguesa com que templos e líderes religiosos se organizam e se constroem. Todos os “grandes” líderes não existem sem um programa de TV. Para mantê-lo é preciso muito dinheiro. Daí a necessidade de arrancar dinheiro das pessoas e de fazer “parcerias” com candidatos ricos e de campanhas eleitorais ricas, como os da direita do espectro social. A direita, historicamente sem votos e sem povo, despeja dinheiro nas burras dos pastores em troca dos seus cabrestreados membros, que falaciosamente votam nas pessoas e não em partidos, para não dizer que votam nas pessoas corruptas que dão dinheiro para suas igrejas e instituições. 


Como sempre, onde há dinheiro há poder e corrupção. Isso alimenta fanatismos e fanáticos desvairados sem argumentos, sem conhecimento e sem sabedoria. 


3. Rasura ética e hipocrisia. Os grupos religiosos que agem a reboque da classe dominante apregoam que não gostam de política e que não se filiam a partidos. Mentem quando assim se afirmam. Podem não ser filiados cartorialmente a partidos, mas filiam-se política e ideologicamente a partidos e a partidários do sistema dominante e conservador dos privilégios dos 1º dos poderosos, sustentados pelo trabalho e pelo sacrifício dos 99% da sociedade. 


Esses grupos fundamentalistas e fanáticos são os que perseguem homossexuais, os negros, os pobres e os comunistas. Um site de um desses fanáticos chega ao ponto de dizer sem rodeios que Lula e Dilma foram eleitos por gentalhas desclassificadas e ignorantes, ao se referir aos pobres, aos nordestinos, aos trabalhadores e aos usuários da Bolsa Família. 


Um dos argumentos falaciosos que usam para induzir o povo a votar na direita é que os socialistas e comunistas são ateus. Porém, o conceito de ateísmo que manejam é senso comum, vulgar e destorcido. O preconceito é infundado e idológico com o claro objetivo de intimidar. Herdam a propaganda imperialista de que os países socialistas perseguem os cristãos. Só não explicam que tais “cristãos” são sabotadores de direita que servem aos interesses imperialistas contra a redenção humana pelo socialismo. 


É bom afirmar que nos países socialistas atuais os cristãos engajados na luta pelo novo ser humano, mais justo, de pensamento coletivo, de compromisso social com o constante processo educativo de construção de sociedade mais humana, são profundamente respeitados. É como diz o comandante Fidel Castro a Frei Betto, na famosa entrevista que se transformou no livro “Fidel Castro e a Religião”: “cristãos e socialistas têm aliança estratégica”. 


É sinceramente lamentável ver pastores, padres e bispos incitando suas comunidades ao ódio. Sua falta de fundamento derrapa para as mentiras caluniosas de caráter divisionista e ofensivo, próprias às práticas da direita, que não dialoga, servindo-se de técnicas maculantes das imagens das pessoas e dos projetos de caráter popular. 


Certamente lembras do “berrão” Silas Malafaia que prometeu, na sua típica linguagem grosseira, “rebentar com o Haddad” quando o prefeito de São Paulo disputou as eleições. 


Um leigo pentecostal aqui em Goiás, professor de língua portuguesa, entregou-se a uma cruzada mentirosa e desonesta contra os que ele chamava de petistas. O mentiroso escreveu um artiguetizinho acusando o MEC de destruir a família ao solicitar que as escolas ensinassem as crianças a respeitar as diversidades sexuais e religiosas. Descaradamente se lançou a distribuir seu artigo indigente de ética pedindo clamorosamente que jornais e sites o publicassem. Os que assim não o faziam os acusava de se juntar ao petismo na destruição da família. Uma coisa que ele mostrou, muito própria desses grupos que integra, é o autoritarismo dogmático. Nunca aceitou dialogar sobre sua falta de fundamento. O que dizia se revestia de verdade caída do céu. Pedi-lhe que me desse os textos do MEC que propagavam a alegada destruição da família. Fazia-se de surdo e nunca me entregou nada, até mesmo porque não existem. Sua desonestidade nunca lhe permitiu declarar que se juntava a grupos de direita aqui para sabotar a educação fazendo discurso tipicamente global e mentiroso. 


Atitudes assim levam-nos a compreender que muitos desses grupos que usam o terror na prática de preconceitos segregacionistas têm ligações escusas com organizações corrosivas à paz social. Este é o caso do famoso pastor Charles Fox Parham, célebre fundador do pentecostalismo moderno. Parham foi acusado de envolvimento em assassinatos de negros, de participar da temida organização racista Ku Klux Klan e de abusar sexualmente de um guri, a despeito de seu imenso e hipócrita moralismo. São dignas de vigilância também certas missões que igrejas do Brasil fazem na África. O que fazem lá? 


Destaco, contudo, Marcos, que recebi apoios impressionantes de católicos romanos e de evangélicos sérios. Padres, religiosos e pastores me escreveram e pediram minha amizade nas redes sociais. Essas pessoas entendem plenamente que seguir Jesus é necessariamente aliar-se a projetos de luta pela justiça social e não se entregar aos berros para que Deus venha fazer o que é de nossa responsabilidade e engajamento. Viva!


Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz.


Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano.

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