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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, maio 08, 2014

    A mídia no divã


René Amaral

Passei por quase 8 anos de terapia analítica. Para conhecer a si mesmo é necessário um mergulho nas profundezas da psiquê, do eu e suas adjacências; para que as ilusões que formamos sobre oque somos sejam desvendadas e desmembradas. Só conseguimos conhecer a nós mesmos despedaçando o que achamos que somos, e depois montando tudo de novo, integrando todas as partes, mesmo aquelas que evitamos encarar.

A mídia precisa urgentemente passar por um processo similar, olhar o fundo de suas entranhas sujas e trazer à superfície, ao ar livre e à desinfetante luz do sol, todos os seus esqueletos, seus zumbis, lobisomens em vampiros.

Ontem 01/05/14 no programa Entre Raspas (e Restos) convocou-se mais uma vez o mesmo escrete de "especialistas" em nada pra falar besteria sobre tudo. O tópico da noite era o linchamento de uma dona de casa, uma grande oportunidade para uma auto análise e um mea culpa, mas nada parecido aconteceu.

Essa dona de casa foi linchada por que uma caricatura do jornalismo (não gente, não foi nenhum representante maior do PIG), uma fan page do Facebook, espalhou um boato velho (como as denuncias de veja e etc) e sensacionalista de uma mulher que estaria sequestrando crianças para rituais de magia, junto havia um retrato falado, coisa tosca que poderia retratar algumas centenas de moradoras da região.

Nas "analises" (Sued já dizia que analisar é alisar com o ânus) dos "especialistas" nem uma palavra, uma vírgula sequer, sobre a provável influência de nossa mídia, cínica, demagoga, mentirosa e enviesada; nem uma menção sequer à vituperância criminosa de meios de comunicação que incitam a violência e enaltecem os que fazem (in)justiça com as próprias mão. Nem uma menção sequer a Boechat incitando a depredação de bens públicos, ou a Sheherazade encorajando que se acorrente, humilhe e apedreje qualquer um que, de cor, aparência ou situação econômica inferior, pareça, mesmo que de longe, suspeito de qualquer ato. A caça às bruxas que se verifica desde as manifestações do ano passado parece não ter em seu DNA o gene corrupto de uma mídia que não se cansa de injustiçar e justificar sua injustiça latente.

Estava na hora de voltar o olhar para dentro, das redações e das almas dos que dominam a comunicação para só beneficiar aos que a eles se rendem e a si mesmos!

Do jeito que está, nem Freud, Jung, Reich ou Lacan explicam, e se tentarem arrisca morrerem linchados!
*amoralnato

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