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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, maio 03, 2014

De volta à Papuda, Genoino completa 68 anos neste sábado sem receber visitas


Segundo amigos próximos, reencontro com Dirceu foi marcado por comoção e ex-ministro passou um recado para a família, triste por nova decisão de Barbosa: 'De agora em diante, quem cuida dele sou eu'
por Hylda Cavalcanti, da RBA 

ALAN MARQUES/FOLHAPRESS

O ex-deputado durante exames recentes em Brasília: para médico pessoal, risco grave de problemas


Brasília – Neste sábado (3), o ex-deputado José Genoino Guimarães Neto passará seu aniversário de 68 anos no complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal, para onde retornou na última quinta-feira por decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa. Seus filhos, Miruna, Ronan e Mariana, e a esposa Rioco planejam encaminhar uma encomenda e uma carta para que chegue às suas mãos, numa forma de homenagem pela data, mas ainda não sabem se isso será possível. Caso o presente – muito mais simbólico que de caráter material – seja entregue, será por meio de uma tentativa do advogado Cláudio Alencar, porque os dias de visita aos detentos na Papuda são quartas e quintas-feiras, nunca os sábados.

Na família Kayano Genoino, o clima é de tristeza, inquietude e preocupação com o estado de saúde de Genoino, condenado a prisão em regime semiaberto na Ação Penal 470 (mensalão) em novembro passado, mas que vinha cumprindo a pena em regime domiciliar por conta de seu estado clínico até receber a decisão de Barbosa para que retornasse ao presídio.

“Eles estão abalados e tristes, claro, mas não abatidos”, afirmou uma amiga próxima, numa forma de definir os principais sentimentos dos filhos e da esposa. Na próxima segunda-feira (5), a defesa do ex-deputado entrará com pedido de recurso junto ao STF, pedindo que seja revista a decisão, em razão da necessidade dele ser submetido a medicamentos e dieta rigorosos – além de outras especificidades que uma unidade prisional não tem condições de oferecer.

A família, desde que chegou o comunicado de que Genoino teria de retornar ao cumprimento da pena em regime semiaberto, passou a receber telefonemas diversos de amigos próximos. Três deles se deslocaram de São Paulo a Brasília, assim como o filho Ronan, para passar com o ex-parlamentar os últimos momentos antes de se apresentar. Conforme informações dessas pessoas, foi o próprio José Genoino que confortou a todos, dizendo que não se preocupassem porque ele estava se sentindo bem e que estava resignado a cumprir o que lhe tinha sido determinado.

Reencontro emocionado

Um momento relatado como emocionante, também, foi o encontro dele com José Dirceu, na chegada ao complexo penitenciário. José Genoino chegou ao presídio acompanhado do seu médico particular, Geniberto Paiva Campos, e do advogado, Cláudio Alencar, e recebeu grande e afetuoso abraço de Dirceu, que passou um recado para a família. “De agora em diante, quem cuida dele sou eu”, disse o ex-ministro, nesse reencontro. “Fiquem tranquilos porque tomarei conta dele, verificarei horários, dosagens de remédios e farei tudo para que fique bem.”

No resultado do laudo elaborado pela junta médica que avaliou as condições clínicas de Genoino pela segunda vez, os médicos asseguraram que a situação de saúde do ex-deputado é estável e intensificaram o termo “sem excepcionalidades” para explicar sua situação clínica de um modo geral. A filha mais velha de Genoino, Miruna, no entanto, divulgou notas com documentos de médicos cardiologistas renomados internacionalmente, além do laudo do seu médico particular, que mostram as exigências e cuidados necessários para pacientes com o mesmo problema de saúde.

Geniberto Paiva Campos, cardiologista que o atende desde o início, durante entrevista concedida ao site Viomundo, foi taxativo: “Genoino não conseguirá atingir o nível ideal de anticoagulação na cadeia”. Ele chamou a situação de “temerosa”. Conforme suas explicações, em razão de ter tido um pequeno derrame (acidente vascular hemorrágico) em meio às complicações cardíacas, o deputado precisa tomar varfarina, um anticoagulante que afina o sangue e evita a formação de trombos (coágulos que vão crescendo e podem chegar a obstruir a passagem do sangue para áreas nobres do organismo).

Acontece que para que esse anticoagulante tenha o efeito desejado, é preciso que se atinja o nível ideal no sangue do paciente. E o índice necessário de regularização normatizada internacional (sigla identificada como RNI) fica entre os níveis 2 e 3. O do ex-deputado, segundo o médico, estaria pouco abaixo de 2.

“Mesmo Genoino tomando todos os cuidados com a varfarina e a alimentação em casa, ele ainda não está anticoagulado em nível ideal. Isso é grave, pois ele tem risco de novo tromboembolismo. Se o Genoino não atingiu o nível ideal de anticoagulação em casa, com todos os cuidados, protegido, não será na cadeia que conseguirá”, afirmou. Paiva Campos, indo mais além, definiu o retorno do ex-parlamentar para o complexo penitenciário como uma “irresponsabilidade”. “Genoino tem risco de novo tromboembolismo, que pode ser fatal”, completou.

Junta médica

Outra crítica que tem sido feita diz respeito à junta médica que elaborou, pela segunda vez, o laudo com avaliação do ex-deputado. Com exceção da médica Hilda Barros, que não integrou a segunda junta por estar em licença, os demais profissionais são os mesmos designados anteriormente. Embora não tenha sido questionada a credibilidade destes médicos, detentores de currículo renomado, alguns se destacam por já terem apresentado preferências políticas contrárias ao PT e favoráveis ao julgamento do mensalão, motivo pelo qual a escolha tem sido questionada quanto à isenção.

Quando foram convocados para integrar o grupo pela segunda vez, o entendimento que prevaleceu, inclusive apresentado por representantes do STF, foi de que é considerado mais preciso um laudo médico efetuado por profissionais que já tinham avaliado o paciente anteriormente. Mas a repetição dos nomes não agradou a militantes do PT e tem sido vista como um erro de percepção por parte do presidente do tribunal, inclusive na opinião de acadêmicos e operadores de Direito.

Dos integrantes da junta designada para examinar a situação de Genoino, ao menos três médicos chegaram a se manifestar explicitamente favoráveis à prisão dos réus da AP-470. Paulo Machado Ribeiro Junior costuma publicar, em sua página no Facebook, várias críticas ao PT e à vinda de médicos cubanos ao país. Ele também elogia o resultado do julgamento da AP-470 constantemente nas redes sociais. Fernando Antibas Atik, outro dos médicos, festejou, em comentários diversos no Twitter, a condenação dos réus da ação, pelo STF, em novembro passado.

Hilda Arruda, que não integrou a última junta, também tem feito em mídias sociais reclamações diversas ao programa Mais Médicos, do governo petista. Mesmo os demais componentes do grupo que não expressaram posições sobre a AP-470, são tidos como profissionais que possuiriam ligações antigas com parlamentares da oposição.

“O que está em jogo é a questão do critério médico, da ética médica, não a ideologia política destas pessoas. Um profissional da medicina examina um paciente e ponto. O partido que ele apoia é irrelevante”, chegou a colocar, em reunião, representante de uma entidade médica de Brasília, em tom irritado e defendendo tal colegiado, diante das especulações sobre as preferências político-partidárias desses profissionais.

Mesmo assim, o ex-diretor de um hospital de São Paulo e uma cardiologista que atua no Distrito Federal, que preferiram manter seus nomes reservados, disseram, em entrevista àRBA, que independentemente de ideologias políticas ou qualquer contestação ao laudo emitido pela junta designada pelo STF, o tribunal poderia ter escolhido quaisquer outros profissionais sem que isso viesse a representar problemas para a avaliação do paciente.

Isso porque o exame de ressonância do miocárdio, pelo qual foi submetido José Genoino, é de grande precisão, sem falar na quantidade de exames correlatos realizados. Um destes médicos chegou a afirmar que, clinicamente, consideraria melhor, até, que a junta tivesse sido formada por médicos diferentes – para uma melhor percepção sobre o paciente.

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