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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, maio 06, 2014

Dona de casa espancada após boatos no Facebook morre no hospital




As agressões contra a dona de casa ocorreram após um boato ter se espalhado no Facebook de que havia uma sequestradora de crianças na região. Fabiane Maria deixa duas filhas, uma de 13 e outras de 1 ano

A dona de casa Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, espancada por um grupo de moradores do Guarujá, litoral paulista, na noite de sábado, morreu na manhã desta segunda-feira. Ela foi amarrada e agredida porque teria sido confundida com uma mulher que havia sequestrado uma criança no bairro Morrinhos. Pragmatismo Político divulgou o episódio anteriormente aqui.
Segundo a equipe de investigação da delegacia do Guarujá, a vítima apresentava problemas mentais e não consta qualquer ocorrência ou acusação contra Fabiane. Também não há nenhum registro desses sequestros de crianças.
A agressão teria sido motivada por uma publicação em uma rede social. Na mensagem postada, o “Guarujá Alerta” mostrava a foto de uma mulher parecida com a que foi agredida. A imagem já foi retirada. Em sua página, os administradores do “Guarujá Alerta” afirmam que estão colaborando com as investigações da polícia e que não vão se manifestar. Vários seguidores estão comentando, indignados, a morte da dona de casa após a publicação da foto.
Leia também: Marido de mulher assassinada por “justiceiros” diz que vai processar perfil do facebook que espalhou boatos
O responsável pela página se apresentou à polícia na manhã desta segunda-feira e vai prestar depoimento.
A violência, registrada em vídeo por uma moradora, revoltou amigos e familiares da vítima que seria portadora de transtorno bipolar e passa por acompanhamento médico. Fabiane sofreu traumatismo craniano, chegou a ficar internada na UTI de um hospital no Guarujá, mas não resistiu aos ferimentos.
De acordo com vizinhos, a mulher tinha duas filhas, uma de 13 anos e uma de apenas um ano.

Um comentário:

  1. Eu guardei a foto do Alailton (horror! apavorante!) quando publicada no dia do crime de seu linchamento para me lembrar se a humanidade merece mesmo toda a minha atenção e dedicação em prol do respeito humano e do amor - se vale a pena eu trabalhar e me debruçar por um mundo melhor; porque, quando eu era jovem, eu perseguia e prendia supostos comunistas ("subversivos") por causa da ditadura da democracia ("largava-os" nos QGs e não sabia mais deles) - coisa que me arrependo terrivelmente, tanto que hoje sou filiado há 3 anos ao PSB. Então, vejo a história dessa mãe estigmatizada pela imbecilidade das pessoas que "vivem" na internet, que transformam a virtualidade em vida e em realidade. Portanto, questionemos a democracia; você pode falar sobre tudo, hoje em dia, menos sobre democracia. Pesquise, Questione-a. Você vai se surpreender com as respostas que encontrará.

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