“TV Revolta”, o fenômeno da pregação de ódio seletivo na internet
Por que se fala tanto da TV Revolta, página que detona os direitos humanos, os pobres, os "preguiçosos e vagabundos que dependem de programas sociais", enquanto defende Sheherazade, Bolsonaro e afaga a polícia?
João Vitor Almeida Lima, criador do TV Revolta, se define como um “rapaz de 30 anos indignado com o sistema”
João Vitor Almeida Lima, sonoplasta barbudo da rede Bandeirantes, é o criador da chamada TV Revolta, que virou notícia pela quantidade de seguidores. Ele tem um canal no YouTube e uma página no Facebook com quase 3 milhões de curtidas em que o que faz é reverberar ódio patológico.
É um fenômeno de audiência. De cima de seu banquinho, Lima conseguiu reunir uma multidão de gente como ele, supostamente indignada com “tudo isso que está aí”. Aparece em vídeos babando na gravata, falando palavrões, batendo na mesa, despejando sua intolerância mortal — seletiva, claro. Há memes, ilustrações, frases, o que for, contra cotas raciais, o funk, o Bolsa Família, a saúde, a Copa.
Deságua nos Grandes Satãs: o PT, Lula e Dilma. Não entra nada, absolutamente nada, sobre nenhum outro partido.
No meio da ignorância, das ofensas e das simplificações, aparecem posts sobre cães abandonados, com ameaças aos donos que cometem essa crueldade, e frases de auto-ajuda. Lima usa um alter ego, “João Revolta”, para gravar seus depoimentos. João é, em sua descrição, um “rapaz de 30 e poucos anos indignado com o sistema global”.
Detona os direitos humanos, os pobres, os preguiçosos e vagabundos que dependem de programas sociais, enquanto defende Rachel Sheherazade, idolatra Joaquim Barbosa, afaga a polícia. Recentemente, ele afirmou que foi denunciado no YouTube e sua conta suspensa por alguns dias. Voltou mais animado ainda, desta vez alegando que foi censurado pelo governo. Governo comunista, claro.
A raiva online polui o ambiente da internet e se espalha de maneira viral. A página do Guarujá Alerta é um exemplo das consequências desse tipo de mentalidade num ambiente já envenenado. Qual o limite? O Facebook, sempre pronto a retirar do ar fotos de Scarlett Johansson, permite que abjeções como a TV Revolta continuem a mil.
Essa violência virtual é compartilhada por 3 milhões de cidadãos. Christopher Wolf, diretor de uma entidade internacional especializada em combater discursos de ódio na net, disse uma vez que o “Holocausto não começou com câmaras de gás. Tudo se inicia com palavras e estereótipos”.
Sob esse ponto de vista, a TV Revolta está no caminho certo.
*pragmatismopolitico
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