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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, agosto 24, 2014


solidariedade palestinaA escalada terrorista do governo de Israel não tem limite. Nas últimas quatro semanas, centenas de ataques marítimos, terrestres e aéreos com bombas de fósforo e de fragmentação foram realizados na Faixa de Gaza, matando mais de 2.000 palestinos, em sua imensa maioria civis, até porque rigorosamente os palestinos não possuem um Exército. Já o Estado de Israel tem um dos 10 exércitos mais poderosos do mundo, com mais de 160 mil soldados, submarinos, tanques modernos, bombas de todos os tipos e cerca de 400 armas nucleares.
O resultado desses covardes bombardeios israelenses são centenas de crianças mortas e milhares com pernas e braços amputados. Um desses ataques foi à escola Abu Hussein da Organização das Nações Unidas (ONU), na madrugada do dia 30 de julho, quando 21 crianças que estavam dormindo morreram. A escola foi bombardeada mesmo a ONU tendo avisado 17 vezes a Israel que suas 83 escolas na Faixa de Gaza abrigam somente civis. Pierre Krähenbühl, comissário-geral da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), afirmou após as mortes: “”Ontem à noite, crianças foram mortas enquanto dormiam ao lado de seus pais no chão de uma sala de aula em um abrigo da ONU em Gaza. Crianças mortas enquanto dormiam; isso é uma afronta para todos nós, uma fonte de vergonha”. Nesse mesmo dia, novos mísseis israelenses atingiram outra escola da ONU e o mercado público de Shayaia.
Apenas algumas horas depois desse massacre, Os Estados Unidos confirmaram a entrega de artilharia pesada como lança-granadas e peças de morteiro de 120 milímetros para Israel.
Até o inicio de agosto, mais de 400 crianças palestinas foram assassinadas e 9.000 estão gravemente feridas. Mas, a cada dia, novos cadáveres são encontrados em meios aos escombros dos prédios e casas, escolas e hospitais destruídos por Israel.
Mas por que Israel promove esse banho de sangue na estreita Faixa de Gaza, onde vivem 1,6 milhão de palestinos?
Não há dúvida de que o Estado de Israel odeia os povos árabes, e, em particular, os palestinos. Sabe que tem um poder militar infinitamente superior ao dos palestinos e conta com o apoio dos países imperialistas, em particular, dos EUA, que lhe fornecem armas e bilhões de dólares para promover a matança de palestinos no Oriente Médio. De 2009 a 2018, os EUA doarão US$ 30 bilhões de dólares em ajuda militar a Israel.
Israel segue à risca a ideologia nazista de que uma mentira repetida mil vezes torna-se uma “verdade”. Para isso, conta com a cumplicidade dos grandes meios de comunicação da burguesia no mundo, que repetem à exaustão as mentiras israelenses como se fossem fatos.
Quem são os terroristas?
Quem não se lembra de que Israel dizia que enquanto Yasser Arafat fosse vivo não existiria paz entre israelenses e palestinos, pois Arafat era um terrorista? Pois bem, como provou a exumação do seu corpo em 2012, Arafat morreu envenenado. Em janeiro de 2013, Shimon Peres, na época presidente de Israel, confirmou que foram os agentes sionistas que assassinaram o líder palestino.
Hoje, Israel diz que enquanto o Hamas existir e continuar governando a Faixa de Gaza não haverá paz, porque o Hamas é terrorista. Mas quem bombardeia escolas, mercados, e mata crianças enquanto dormem em escolas da ONU é o quê?
Israel também ataca o povo palestino na Cisjordânia, onde o governo é chefiado pelo moderado Mahmoud Abbas, da Autoridade Nacional da Palestina e constrói ali cada vez mais colônias. Como mostram estatísticas do governo de Israel, a construção de colônias israelenses na Cisjordânia cresceu 120% em 2013.
Depois, Israel nunca cumpriu nenhum dos acordos de paz que assinou. Pelo contrário, todos foram rasgados e jogados na lata do lixo por sucessivos governos sionistas. Em 1993, assinou os acordos de Oslo, se comprometendo a retirar suas forças armadas da Faixa de Gaza e da Cisjordânia e respeitar o direito à soberania do povo palestino, mas em vez de se retirar dos territórios palestinos, construiu mais e mais colônias nas terras palestinas e continua a ignorar o Direito Internacional e os pedidos para uma paz permanente na região de dezenas de povos. Apresenta-se como vítima de foguetes do Hamas para, sem nenhuma piedade, promover o genocídio do povo palestino.
A hipocrisia de Israel é tão grande que propõe para pôr fim aos bombardeios, a desmilitarização da Faixa de Gaza, mas quer aumentar seu exército e continuar fabricando e importando armas. Ora, se com os palestinos possuindo apenas foguetes e pedras, Israel faz o que faz, imagine o que faria se a Faixa de Gaza fosse desmilitarizada!
Há décadas que Israel, além de realizar covardes bombardeios e ações militares constantes, impõe um desumano bloqueio aos palestinos, obrigando-os a viver com racionamento de água potável, de energia, de remédios e de alimentos. O objetivo é expulsar o povo palestino de Gaza e de suas terras, é mostrar para os palestinos que ou eles saem da Faixa de Gaza ou vão ser dizimados por suas bombas e tanques, como fica claro nas palavras do líder nazista de Israel Benjamin Netanyahu: “O Estado judeu deve estar preparado para uma longa campanha na faixa de Gaza até concluir a missão.”
E qual é a missão? Expulsar o povo palestino de Gaza ou torná-lo escravo dos sionistas. A substituição de Shimon Peres por Reuven Rivlin na presidência de Israel em 24 de julho é mais uma prova nesse sentido. O sr. Rivlin faz parte da ala mais radical do Likud, rejeita a criação de um Estado palestino e apoia a política de colônias nos territórios palestinos ocupados. Segundo o jornal israelense Haaretz, “Rivlin não será o presidente do Estado de Israel, e sim do ‘Grande Israel’. Aproveitará o cargo de presidente para fazer avançar a colonização na Cisjordânia”.
Israel tortura crianças
Em 2008 e 2009, Israel realizou a operação “Chumbo Fundido”, na qual assassinou mais de 1.300 palestinos e se apossou de novas terras na Cisjordânia e em Gaza. Durante esse massacre, os EUA enviaram 325 conteiners de seis metros cada, com armas para abastecer Israel; a carga saiu do porto grego de Astakos para o porto israelense Ashdod, que fica a 38 km da Faixa de Gaza.
Em maio de 2010, Israel atacou os navios da flotilha da liberdade, que tentavam levar ajuda humanitária ao povo palestino e matou nove pessoas que estavam nas embarcações. Ou seja, enquanto armas dos EUA para Israel navegam livremente nos oceanos, navios com alimentos e remédios para a Faixa de Gaza são atacados.
No ano passado, em junho, o Comitê da ONU sobre os Direitos da Criança acusou as forças israelenses de maltratarem e torturarem crianças palestinas, além de usá-las como escudo humano. Segundo o órgão da ONU, “Crianças palestinas detidas por militares e policiais são sistematicamente sujeitas a tratamento degradante e muitas vezes a atos de tortura”. O órgão afirmou ainda que em dez anos, cerca de 7.000 crianças palestinas com idade de nove a 17 anos, foram presas, interrogadas e muitas foram levadas para tribunais militares de Israel acorrentadas nos tornozelos e algemadas.
A maioria das crianças presas foi acusada de jogar pedra. De acordo com a legislação israelense, criança palestina que atirar pedra em soldado de Israel, pode ser punida com pena de até 20 anos de prisão.
Objetivo é roubar as terras e o gás dos palestinos
Mas somente o ódio ao povo palestino não justifica tanta crueldade. O Estado sionista de Israel é governado por políticos e partidos que além de defenderem abertamente o sionismo e pregarem o ódio ao povo palestino, representam a grande burguesia do país, isto é, grandes empresas de construção civil com interesse em construir colônias nas terras palestinas, e as indústrias bélicas israelenses e norte-americanas com relações íntimas com o capital financeiro internacional.
Como Israel tem poucos recursos naturais e 85% de suas terras são desérticas, roubar as terras palestinas é essencial para expandir a construção de colônias e aumentar os lucros da indústria da construção e das imobiliárias de Israel.
Também as empresas armamentistas de Israel – Aerospace Industries, Elbit Systems e Elta – que produzem veículos lançadores de satélites, aviões não tripulados, caças, radares avançados etc, e as dos Estados Unidos (Boeing, Lockeed, Northrop, General Dynamics, Raytheon), embora vendam suas armas para outros países (inclusive o Brasil), têm no exército israelense um dos seus maiores compradores. A guerra permanente contra o povo palestino permite lucros gigantescos para os proprietários da indústria armamentista.
Por outro lado, Israel se orgulha de ter uma indústria moderna e uma grande tecnologia, mas é dependente de importação de grãos, carnes e petróleo. Para superar isso, quer ocupar as terras palestinas.
Mas a Faixa de Gaza não só tem crianças palestinas. Tem também importantes reservas de gás natural. Em 2000, foram descobertas extensas reservas de gás nessa região.
Essas reservas foram estimadas pela multinacional Bristish Gás (BG Group) em 40 bilhões de metros cúbicos, mas tudo indica que são muito maiores. A BG tem negociado com o governo Israel a exploração desses recursos e o povo palestino, verdadeiro dono da riqueza, tem sido ignorado. Além da BG, outros monopólios já manifestaram intenção em explorar o gás palestino. Quem ocupar a Faixa de Gaza controlará o gás e poderá ganhar bilhões de dólares. Em 2007, o governo de Israel admitiu pagar pela exploração do gás aos palestinos, mas mudou de ideia e agora quer se apoderar de uma terra e de uma riqueza que não lhe pertencem; por isso, massacra o povo palestino. Conta para esse crime com as armas e o financiamento dos EUA, da União Europeia e o apoio incondicional das televisões e dos grandes jornais do mundo.
Em resumo, Israel não quer conviver pacificamente com o povo palestino; quer roubar suas terras e assassinar aqueles que não aceitam sua dominação; quer se apoderar do gás e superexplorar a mão de obra palestina.
Como uma muralha
Na verdade, para a burguesia que hoje governa Israel e as principais potências imperialistas, o que importa é aumentar suas riquezas; as guerras contra o povo palestino, contra o povo sírio (mais de 179 mil pessoas mortas), contra o Iraque (mais de um milhão de pessoas mortas), contra a Líbia e a Ucrânia, entre outras, são um dos principais meios da classe capitalista elevar seus lucros, principalmente num momento em que o sistema capitalista atravessa uma profunda crise econômica. Não importa, pois, para os senhores da guerra, que são exatamente os donos dos meios de produção e dos bancos, quantas crianças palestinas vão ter que assassinarem dormindo nem quantas guerras terão de realizar.
O governo sionista de Israel e seus cumplices, os países imperialistas, querem impedir a qualquer custo a existência do Estado Palestino para poderem roubar suas riquezas e escravizar os sobreviventes desse genocídio; estes são os verdadeiros motivos para Israel e os EUA promoverem esse banho de sangue e não os túneis ou foguetes do Hamas.
Mas o heróico povo palestino já mostrou que não aceita ser escravizado; prefere a morte a viver sem liberdade. Um povo que luta por sua liberdade pode perder algumas batalhas, mas vencerá a guerra. E, como diz os versos do poeta comunista palestino Tawfiq Az-Zayad, os palestinos não irão embora, lutarão:
“Aqui
Sobre vossos peitos
Persistimos
como uma muralha
em vossas goelas …
Quando tivermos sede
espremeremos as pedras
e comeremos terra quando estivermos famintos
Mas não iremos embora
Aqui está nosso futuro”
(Tawfiq Az-Zayad)
Lula Falcão é membro do Comitê Central do Partido Comunista Revolucionário

*AVerdade

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