Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, agosto 14, 2014

DESCULPAS DE ISRAEL RIDICULARIZAM VIRA-LATAS BRASILEIROS

dilma israel13

Depois que o próprio Reuven Riulin, o novo presidente de Israel, telefonou para Dilma Rousseff para pedir desculpas, não custa recordar a reação dos adversários do governo brasileiro, que há duas semanas se alinharam com o porta-voz da chancelaria israelense que definiu o Brasil como “anão diplomático.”
Em poucas horas o Brasil foi inundado por vídeos, artigos e comentários de ar grave, palavras duras e retórica pedante, de grande utilidade para encobrir uma postura típica de vira-latas.
Falou-se que era uma definição com “incrível precisão” de nossa diplomacia. Mesmo quem admitiu que a postura do governo brasileiro diante dos ataques do Exército Israelense a Gaza podia estar certa, justificou o “anão diplomático” porque o Itamaraty carece “de credibilidade mesmo quando faz declarações corretas.”
O telefonema de Riulin mostra com precisão realmente incrível o ridículo dessa reação. Para azar de quem levou o “anão diplomático” a sério, a atitude do presidente de Israel deixa claro que era uma definição menor, de um funcionário sem qualificação para emitir conceitos em nome do governo, alguma coisa que se poderia chamar de “gafe” — o que torna ainda mais curioso que tenha sido aceita e divulgada com tanta facilidade.
Riulin deixou claro pelo gesto que o Brasil está longe de desempenhar um papel desprezível na diplomacia do século XXI, para infelicidade daqueles que enxergam o mundo pelo olhar da inferioridade e da submissão.
Mais realistas do que o Rei a quem pretendem servir — estou falando da direita republicana dos EUA, que sustenta Israel de qualquer maneira –, procurando qualquer pretexto para bater no governo Dilma, eles se alinharam com Yigal Palmor, que fala em nome do chanceler Avigdor Lieberman, a mais acabada expressão do fascismo na política israelense.
Principal adversário de toda iniciativa de paz, Lieberman defende a manutenção e ampliação de assentamentos em territórios palestinos. Sustenta uma política de discriminação em relação a população árabe que reside em Israel. Chegou a apresentar um projeto pelo qual ela só teria direito a voto, por exemplo, se fizesse um “juramento de lealdade” ao estado judeu.
Foi desse mundo obscuro, vergonhoso e inaceitável, sem o menorcompromisso com a democracia nem com a soberania dos povos, que veio o termo “anão”.
Não é surpreendente que ele tenha sido abraçado por aliados da oposição, capazes de afagar até adversários externos que — mesmo se estivessem corretos em seu ponto de vista — não tinham o direito de faltar com consideração por autoridades legitimamente autorizadas a falar em nome do povo brasileiro. O desrespeito e a agressividade são chocantes, mas não chegam a ser novidade neste repertório.
Fazem parte da tentativa de desmoralizar adversários que não se consegue derrotar democraticamente. Tenta-se corroer sua legitimidade ao partilhar um tratamento grosseiro, chulo, que, a seus olhos, tem mais valor porque vem do estrangeiro.
Convém não esquecer que, há quatro anos, esse mesmo pessoal alinhou-se aos mesmos senhores externos condenar Luiz Inácio Lula da Silva em sua tentativa de construir um acordo de paz com o Irã de Mahmoud Ahmadinejad.
A viagem de Lula havia sido autorizada e até certo ponto estimulada pelo presidente dos Estados UnidosBarack Obama, que enfrenta tensões com a atual política de Israel, tão radical e extrema que pode tornar-se prejudicial aos interesses norte-americanos.
Mesmo assim, os vira-latas não perdoaram.
*247

Nenhum comentário:

Postar um comentário