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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, agosto 15, 2014

Desculpas israelenses são insuficientes

Por Mauro Santayana, em seublog:

O Palácio do Planalto informou, ontem, em nota, que o Presidente eleito de Israel, Reuven Rivlin, telefonou para a Presidente Dilma Rousseff, e pediu desculpas pelas declarações de Yigal Palmor, porta-voz do Ministério de Relações Exterioresde Israel. Esse funcionário classificou, em entrevista ao Jornal “The Jersusalem Post”, o nosso país como um “anão diplomático”, após a retirada do embaixador brasileiro em Israel, para consultas, em consequência da “desproporcionalidade” da resposta militar israelense, em seus ataques contra a população palestina da Faixa de Gaza.

Em sua entrevista, Yigal Palmor respondeu também à posição brasileira, com ironia, afirmando que “desproporcional é perder de 7 x 1”, lembrando o placar da derrota do Brasil para a Alemanha, na Copa do Mundo.

Depois do incidente diplomático com o Brasil, Israel perdeu, no Conselho de Direitos Humanos da ONU, por 29 votos a um – só os EUA ficaram ao lado do governo sionista – em votação que aprovou resolução recomendando a investigação de sua atuação em Gaza.

Além disso, o Brasil conseguiu, na Cúpula do Mercosul de Caracas, o mais amplo apoio à sua posição com relação a Gaza, e mais três países, Chile, Peru e Equador, tomaram decisão semelhante à sua, chamando também seus embaixadores nomeados para Telaviv para consulta.

No contato com o presidente israelense, o governo brasileiro reafirmou os laços que unem brasileiros e israelenses, há muitos anos, mas Dilma Rousseff reafirmou, também, que o Brasil continua achando desproporcional a força utilizada por Israel, no contexto da intervenção em Gaza, e que continuará lutando pelo direito de palestinos e israelenses à paz, à vida e à dignidade.

Como brasleiros, recebemos e agradecemos as desculpas do novo presidente israelense, Reuven Rivlin.

Ficaríamos, alguns de nós, no entanto, mais satisfeitos, se seu país dirigisse também seu arrependimento – ao menos in memoriam - às centenas de palestinos, inclusive mais de 400 crianças, que já não se encontram entre nós, e que morreram pelas suasarmas, entre os escombros de Gaza nas últimas semanas.

Para nós, a morte de um cidadão israelense, atingido por um foguete do Hamas, é tão grave como a morte de um cidadão palestino, atingido por uma bomba da aviação israelita, ou pelas balas de um SOLDADO DE Israel.

Só não nos peçam para acreditar, ou aceitar, que a morte de 3 civis israelenses é tão grave como a de quase 2.000 cidadãos palestinos e a destruição de milhares de casas, escolas, ruas, hospitais, que deixou dezenas de milhares de feridos e de refugiados sem um lugar para se abrigar.

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