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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, outubro 16, 2015

B A N D O L E I R O S

Incêndio criminoso destruiu 15,3 mil caixas de documentos do Metrô


Apesar de o crime ter ocorrido em 9 de julho do ano passado – e um boletim de ocorrência lavrado no dia seguinte –, o fato só foi confirmado oficialmente pelo Metrô seis meses depois no Diário do Estado



06/08/2013



Patrícia Benvenuti

da Redação



O esquema de formação de cartel para participação em licitações, confirmado recentemente pela transnacional alemã Siemens, não é o único fato a ser investigado envolvendo o Metrô e a CPTM em São Paulo. Em 2012, um incêndio criminoso destruiu 15,3 mil caixas de documentos do Metrô, que continham registros da empresa desde 1977.

De acordo com o processo, em 9 de julho do ano passado nove homens encapuzados e armados invadiram o galpão da empresa PA Arquivos Ltda., que realizava serviço de conservação e digitalização de documentos, situada na Estrada da Taperinha, no município de Itu. Depois de render os dois vigias, o grupo roubou dez computadores usados, espalhou gasolina e ateou fogo ao local. Toda a estrutura do prédio de 5 mil m² foi destruída, assim como os arquivos ali guardados. Além do acervo do Metrô, foram perdidos documentos de outras 18 empresas. A investigação corre em segredo de Justiça.

Apesar de o crime ter ocorrido em 9 de julho – e um boletim de ocorrência lavrado no dia seguinte –, o fato só foi confirmado oficialmente pelo Metrô seis meses depois no Diário do Estado, onde foram listados os tipos de documentos consumidos pelo fogo.

Dentre os arquivos havia contratos assinados entre 1977 e 2011, relatórios sobre falhas técnicas e documentos contábeis. Havia também análises da Comissão Permanente de Segurança (Copese), órgão que apura acidentes da companhia, de incidentes ocorridos entre 2006 e 2009, e relatórios de “incidentes notáveis”, as chamadas panes que paralisam as linhas por muito tempo e exigem a colocação de ônibus para transportar passageiros. Os volumes equivaliam a 4% de todo o arquivo acumulado nos últimos 45 anos pela companhia.

De acordo com o Metrô, que não informou à imprensa a porcentagem de documentos salvos, a maior parte do material estava microfilmada ou digitalizada. Matéria divulgada pela revista IstoÉ, que teve acesso a informes do Metrô, aponta que o local não oferecia condições mínimas de segurança para servir como depósito de documentos.

O incêndio ocorreu quatro meses depois de entrar em vigor a Lei de Acesso à Informação, que obriga os órgãos públicos a fornecerem cópias de qualquer documento que não seja coberto por sigilo legal, e quatro meses depois do início entre as negociações de delação premiada entre o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e a Siemens. 

Br29

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