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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, outubro 26, 2015

O Brasil deve ter consciência do seu significado internacional, diz o sociólogo.

Vladimir Putin e Dilma Rousseff durante a reunião no âmbito da cúpula dos BRICS em Ufá

Brasil-Rússia, relações a longo prazo: Não adianta  atingir a meta de $10 bilhões

© agência-photohost

Vladimir Kultygi

O Brasil deve ter consciência do seu significado internacional, diz o sociólogo.

“A fase atual das relações russo-brasileiras é muito importante”, disse o sociólogo brasileiro Pavel Grass, que trabalha na PUC-Rio, que agora está visitando a Rússia.
Falando com a Sputnik Brasil, explicou que é importante maior diálogo entre países “tanto no âmbito bilateral, como no âmbito dos BRICS”, uma entidade que ele considera principalmente como uma plataforma política.
Tal plataforma política serve também para o “desenvolvimento das relações bilaterais no âmbito comercial e econômico”, sendo “como um trampolim” para este desenvolvimento.
Neste ano da presidência russa nos BRICS, o segmento político está se desenvolvendo a um ritmo bastante acelerado. Depois do primeiro evento relevante, a cúpula presidencial em Ufá (unida com a da Organização de Xangai para Cooperação – SCO), seguiram encontros ao nível ministerial. Em outubro, já foram realizados encontros dos ministros da Agricultura (com a participação da MAPA, Kátia Abreu, que inaugurou o stand brasileiro em uma exposição temática russa), da Indústria e da Comunicação.
Na área social, tudo parece estar se desenvolvendo também. Umas semanas depois da cúpula em Ufá, naquela mesma cidade teve lugar o Fórum da Juventude dos BRICS. Já na semana que vem, terá lugar a Cúpula Global de Universidades dos BRICS, que provavelmente irá desenvolver o processo de internacionalização e integração do ensino e vida acadêmica, acordado em um evento do ano passado.
O geopolitólogo Grass aponta que para se ter uma relação forte, é preciso fomentar também outras áreas, além de economia e política:
“No que diz respeito às relações entre o Brasil e a Rússia, eu acho que chegou a hora de olhar com mais cuidado e atenção as relações ao longo prazo. Não somente atingir a meta de 10 bi que foi estipulado entre os nossos governos, mais defender de uma forma mais ampla no âmbito ideológico e cultural, o que nós queremos com a nossa amizade em 20, 30, 50 anos. Ou seja, uma visão geoestratégica de longo prazo”.
Quanto à área comercial, assunto que foi mencionado até na cúpula em Ufá, os países estão se esforçando para fomentar o processo da cooperação. O cientista Grass comentou inclusive sobre uma nova estrutura que está sendo criada que visa facilitar as relações russo-brasileiras (e brasileiro-russas):
“Nós estamos criando uma infraestrutura agora no Rio de Janeiro, com um parceiro da Rússia. A empresa se chama Vostok Marketing e Consultoria. É uma empresa privada que estará voltada para pesquisa de consultoria de interesses institucionais, acadêmicos e comerciais tanto do lado dos russos no Brasil como dos brasileiros na Rússia. A ideia é criar uma ponte pra facilitar e multiplicar projetos e negócios entre empresas de mais diferentes setores”.
O estudioso de geopolítica lembrou ainda que há uma série de projetos bilaterais assinados inclusive durante o encontro Fórum Empresarial Brasil-Rússia: Direções Estratégicas de Cooperação, que abrangem a área da farmacêutica, aeroespacial e da infraestrutura.
Mais cedo neste ano, uma empresa russa apresentava em um fórum dos BRICS a sua tecnologia que podia, segundo afirmava, ser útil na solução da crise hídrica do Brasil.
Para Pavel Grass, os BRICS, um grupo ainda jovem precisam criar um mecanismo de diálogo para ter “mais informações um sobre o outro, para que entendam melhor o potencial de cada lado”.


Leia mais: http://br.sputniknews.com/brasil/20151024/2531704/relacoes-brasil-russia-longo-prazo.html#ixzz3pgL69f98

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