Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, outubro 28, 2015

profissional da área irá catalogar, ao lado do transtorno obsessivo compulsivo, do transtorno bipolar e demais neuroses do mundo moderno, o “ódio insano a Lula”.

O ódio insano a Lula, uma neurose a ser catalogada pela psicanálise


Em viagem de trabalho ao Rio na semana passada, peguei um taxista muito simpático, que durante o trajeto expunha reclamações pertinentes sobre a falta de educação no trânsito de alguns motoristas, como por exemplo usar excessivamente a buzina. Também fazia comentários bacanas sobre a futura Copa do Mundo na cidade, uma raridade diante do pessimismo geral. “Será um sucesso, não tenho dúvida. Se houver algum problema os turistas vão estar tão felizes de estarem aqui que nem vão dar importância”, disse.
Enfim, era alguém que parecia de bem com a vida. Até que… O assunto recaiu sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tal qual dr. Jekyll ao tomar a poção, o taxista se transformou de homem cordial em uma pessoa absolutamente enfurecida, à beira de um ataque de nervos. “Ele é o cara mais rico do Brasil hoje, é um milionário, um ladrão!”, vociferava. “Eu leio a revista Veja, eu vejo a Globo! Eu sei das coisas!” De nada adiantou nós lhe comunicarmos que integramos a imensa parcela da população que gosta de Lula. O homem não se acalmava, praticamente espumava pela boca.
No dia seguinte, já em Brasília, encontrei uma senhora muito fofa que também mostrou sua face menos afável ao falar de Lula. “Sabe, eu sou católica praticante. E quando vou me confessar, digo para o padre: ‘Padre, eu odeio o Lula! Eu odeio o Lula! Não posso nem vê-lo na televisão que começo a passar mal, padre! O que eu devo fazer? Posso comungar mesmo assim?’ E o padre sempre tenta me acalmar, responde que isso não é bom, que não é cristão, e me passa não sei quantas ave-marias e pais-nossos como penitência. Mas o que posso fazer? Eu odeio o Lula!!!” Confesso que achei hilário, meio bizarro.
Nas redes sociais, então, perdi a conta de quantas vezes tive minha página invadida por anti-lulistas fanáticos que não estão nem aí para as regras de boas maneiras na internet ou de respeito ao pensamento alheio. E não vou nem mencionar aqueles que desejaram a morte de Lula quando seu câncer foi revelado ao país. Insanidade a toda prova.
Entendo que o ex-presidente Lula, homem carismático que é, desperte amores e ódios. Entendo perfeitamente que muitas pessoas não gostem dele. Mas esse sentimento que vejo em alguns anti-Lula não me parece normal, mesmo porque a recíproca não é verdadeira. Nunca vi alguém ficar tão alterado ao falar do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Bufando pelas ventas e gritando como se estivesse louco, perdendo completamente a noção do que pode ser dito sobre uma figura pública, cruzando todos os limites do desrespeito. Nunca vi, nunca. E olha que conheço bem mais gente que não gosta de FHC do que quem gosta.
Fiquei pensando: será natural o ódio a Lula? Ou será que isto acontece porque o ódio a Lula é estimulado pela mídia e o ódio a FHC, não? Pelo contrário, a mídia tenta, com todo empenho e ao arrepio dos fatos e da memória coletiva, convencer os brasileiros de que o governo Lula foi péssimo, e o de FHC, ótimo. Obviamente não podemos esperar que as pessoas bufem ao falar do tucano. Mas com Lula a neurose é alimentada, até porque existem odiadores insanos do petista dentro das próprias redações, sobretudo nas esferas mais altas. Um ódio patológico que, diferentemente do que ocorre com outras enfermidades mentais, é transmissível –via jornais e revistas e pela televisão. Curioso que seja Lula quem é acusado de “disseminar o ódio”, embora nove entre dez colunistas dediquem a vida a falar mal dele.
Às vezes me dá vontade de, como nos filmes, sacudir uma pessoa dessas e falar para que se controle. É ofensivo com quem admira o presidente Lula (e somos maioria) que exista gente disposta a agredi-lo desta maneira ensandecida, típica de quem está com síndrome de abstinência de medicamentos para controle do humor. O que há com Lula para causar tal reação? Ou seria mais correto perguntar: o que há com estas pessoas para reagir dessa forma a um político? Seria só oposição ao ex-presidente ou é algo mais profundo, talvez inconfessável? Não sei dizer, esta neura só um psicanalista ou psiquiatra é capaz de resolver.
Tenho certeza que algum dia um profissional da área irá catalogar, ao lado do transtorno obsessivo compulsivo, do transtorno bipolar e demais neuroses do mundo moderno, o “ódio insano a Lula”. Sinceramente, se eu sentisse um só destes sintomas em relação ao ex-presidente –ou a qualquer outro personagem da política–, procuraria ajuda médica imediatamente. É doentio.
*socialistamorena

Nenhum comentário:

Postar um comentário