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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, outubro 15, 2015

Dilma, nada nos segura pra seguir em frente

Roberto Stuckert Filho/PR: <p>Brasília - DF, 08/10/2015. Presidenta Dilma Rousseff durante reunião ministerial. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR</p>
"Por isso, eu te quero outra vez
Por isso, eu te quero de novo
(...)
Por isso eu tô juntinho, do seu lado
Com você e Lula pra seguir em frente"
A oposição conseguiu impor o terceiro turno ao País quando colocou hordas de fascistas nas ruas, às centenas de milhares, no bojo do "showrnalismo" e parcialidade da Operação Lava-Jato e dos ensaios sobre as ditas "pedaladas fiscais". Esta semana será o "dia de votação". É a peleja entre a vontade de entregar o País e a resistência em fazê-lo.
O Tribunal de Contas de União aprovou um parecer politiqueiro, onde, além de recomendar a rejeição das contas do governo ao Congresso Nacional, escreveu ilações sobre as supostasmaquiagens na contabilidade pública terem contribuído para o agravamento da crise econômica, devido à "gastança"; e que teriam acontecido também em 2015, para enquadrar um almejado "crime de responsabilidade" da presidenta Dilma ao exercício do atual mandato, permitindo seu julgamento com vistas ao Impeachment.
Não se pode dizer que a decisão do TCU foi um ponto fora da curva. Ali nunca houve decisão técnica, inclusive seus ministros são todos indicações políticas de políticos. Há muito que o TCU faz política aberta e escancaradamente de oposição. Quem não lembra dos múltiplos "embargos" às obras do PAC, sem mesmo o parlamento avaliar tais pareceres?
Nestes tempos de crise fiscal, seria muito eficiente e faria um grande serviço ao esforço conjunto da nação e dos poderes republicanos cortar carros de luxo, auxílios-isso-e-aquilo, gabinete, custeio da faraônica sede e deixar que a avaliação das contas públicas se desse no âmbito da Comissão Mista de Orçamento da Câmara e Senado, da de Fiscalização, da de Finanças, que dispõem de quadros de carreira capacitados e conhecedores de fato do dia-a-dia da política e estão à serviço dos que receberam milhões de votos da cidadania, mas isso é outra história.
A verdade é que a presidente Dilma está com o mandato em xeque porque fez o esforço fiscal e orçamentário necessário para preservar empregos, salários, proteção social, margem de crescimento econômico e, dentre várias medidas, uma delas foi a antecipação do pagamento das políticas sociais pelos bancos públicos, a serem ressarcidos em seguida pelo Tesouro. Há os que queriam que o País fosse entregue ao rentismo naquele instante, assim como resistiram bravamente a fazer investimentos que talvez prevenissem a crise antes e agora, quando o governo reduziu a SELIC, ampliou o crédito subsidiado e concedeu desonerações para indústria, num ambiente de pleno emprego e mercado de consumo de massas.
A este esforço fiscal e orçamentário, o TCU e a oposição chama de "pedaladas fiscais". Eles têm razão quando dizem que a reeleição da presidenta Dilma se deveu em parte a elas, porém com os sinais trocados: não por nenhuma mentira "marketeira", mas porque, exatamente, preservou-se os empregos, os salários, os benefícios sociais e as margens de crescimento, estas ainda que menores.
E o ódio aumentou nesta momento de travessia e ajuste fiscal quando a presidenta Dilma se recusou a permitir cortes nos programas sociais após a meta fiscal ter sido reduzida, a Lei Orçamentária Anual chegar ao Congresso prevendo déficit e a agência de especulação financeira S&P rebaixar a nota do grau de investimento do Brasil.
Ao contrário do que disse um grande economista do PT, há muitos e fortes motivos para se defender este governo, tais como a manutenção do Minha Casa Minha Vida, do Bolsa-Família, do ProUni, do Fies, do Reuni, da Política de Valorização do Salário Mínimo, a continuidade da integração regional e do grosso dos empreendimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que estão mantidos, apesar da crise fiscal, da crise econômica mundial e das pressões do grande empresariado e da oposição para que a chefa de Estado corte nas políticas sociais.
Aguardemos! Pois como dizia um ex-ministro de Salvador Allende, política é para políticos, que entendem de povo.
Ricardo Berzoini tomou posse na recém-criada Secretaria de Governo para comandar as tarefas de articulação parlamentar, federativa e social, que devem mesmo andar juntas. Jaques Wagner, após também tomar posse, afirmou à imprensa que "milagres não acontecem e só muita conversa é capaz de resolver a instabilidade política". Estas são as mexidas mais importantes para sinalizar não apenas para o Congresso Nacional, mas, sobretudo, recompor a base social do governo e da presidenta Dilma.
Neste instante não há meio termo e nem brecha para conselhos e reflexões críticas.
De um lado temos contas na Suíça, uma agenda ultra-conservadora anti-laica, machista, homofóbica, racista, anti-Estatuto da Criança e do Adolescente, pró-mercado de mandatos, pró-flexibilização dos direitos trabalhistas e a verdadeira e completa plataforma neoliberal de pilhagem, fome e miséria.
De outro, como cantava a música, a coração valente, força brasileira, a garra desta gente, a que nunca desviou o olhar do sofrimento do povo, nunca vacilou em lutar, mulher de mãos limpas, livres e firmes.
É isso que definirá que o que "tá bom, vai continuar" e "o que não tá, a gente vai melhorar".
Saibam disso pretas e pretos pobres e de periferia a invadir aeroportos e universidades. Vocês todas e todos das feiras e pontos de ônibus. Aquelas e aqueles que, em 2002, descobriram que no fundo eram um pouco PT e que, por serem autenticamente brasileiras e brasileiros, não desistem nunca.
Irene democrática, seja bem-vinda. Chegou a hora de todas e todos ouvirmos a sua risada.
*247

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