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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, outubro 20, 2015

Velório da Direita

Velório da Direita
Antecipando (Pois sempre existe aquele indivíduo que jamais tocou em um livro de História e irá mugir algo como: "-Ah, mas eles não eram militares."):
"Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Pedro Henrique Pedreira Campos esclareceu: “A gente tenta ler a corrupção como exceção. Mas o que eu noto, considerando a história do capitalismo, é que a apropriação do público pelo privado é mais uma regra. As empreiteiras calculam a corrupção para obter lucro. Assim, se eu tenho que lucrar com uma obra, vou usar todos os métodos disponíveis”. Empreiteiras e corrupção é um casamento natural. A benção foi dada pelo ditador Artur da Costa e Silva, que, com o decreto 64.345, de 10 de abril de 1969, fechou as portas para empresas estrangeiras em obras de infraestrutura no Brasil. Pequenas empresas regionais como a Odebrecht agigantaram-se em pouco tempo.
Segundo Campos, o quadro do regime militar teve a moldura perfeita para as empreiteiras: “Durante a ditadura, elas tiveram acesso direto ao Estado, sem mediações, sem eleições. Havia um cenário ideal para o seu desenvolvimento: a ampla reforma econômica aumentou recursos públicos disponíveis para investimentos e mecanismos legais restringiram gastos para a saúde e educação e direcionaram essas verbas para obras públicas, apropriadas pelas empreiteiras – grandes projetos, tocados sob a justificativa do desenvolvimento nacional, como a Transamazônica, a usina de Itaipu e a ponte Rio-Niterói”.
Extraordinárias fortunas cresceram felizes.
Militares ganharam cargos estratégicos em corporações nacionais e estrangeiras que faziam bons negócios com o Estado. Campos apresenta um quadro com 21 nomes e funções. Golbery do Couto e Silva presidiu a Dow Chemical. Também trabalhou para o Banco Cidade. O general João Baptista Leopoldo Figueiredo esteve no conselho consultivo da Caterpillar. O general Ernesto Geisel presidiu o conselho administrativo da Norquisa. O general Artur Moura esteve a serviço da Mendes Júnior, empreiteira que saiu do nada para tudo durante o regime dos generais. O almirante Fernando Carlos de Mattos foi vice-presidente da Settal Engenharia. O coronel Domingos Ventura Pinto Jr. esteve na folha de pagamento da Construtora Rabello. O filho de Costa e Silva serviu à General Eletric. O general Carlos Luiz Guedes, golpista de primeira hora, presidiu a Catemarq.
Juracy Magalhães presidiu a Ericsson do Brasil. Campos resume: a Odebrecht faturou “dois contratos que alteraram significativamente o seu porte, fazendo seu faturamento triplicar em um ano”.

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