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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, novembro 21, 2010

Carta ao Prates (o ódio, versão RBS grobo de S. C. )



São ex-miseráveis e ex-desgraçados

Por sugestão do amigo  navegante Stanley Burburinho, o reparador de iniquidades (quem será Stanley Burburinho ?), o Conversa Afiada reproduz carta do Plínio ao Prates:

Caro Sr. Luiz Carlos Prates,


Me chamo Plínio, sou professor de História e, como tantos outros das camadas mais baixas da sociedade, consegui comprar um automóvel nos últimos anos devido à facilidade de crédito implantado pelo governo Lula. Assim como tantos outros, adquiri um carro popular, já com 4 anos de uso e sem qualquer acessório que produza maior conforto ou coisa do tipo.


Porém, gostaria de relatar algo que o Sr. provavelmente não sabe, ou tenta evitar saber, ao expor seus comentários ao vivo na TV. Da mesma forma que o governo do presidente Lula me permitiu adquirir um carro popular, também me permitiu continuar meus estudos. Durante este governo, graças aos investimentos em educação e apoio à pesquisa, foi possível a uma pessoa como eu, vinda de família pobre e do interior do estado de Minas Gerais, fazer o mestrado e hoje cursar o doutorado numa instituição pública federal de ensino superior.


Mais ainda, Sr. Luiz Carlos Prates, este mesmo governo me permitiu ascender socialmente e obter estabilidade ao ampliar as instituições de ensino comprometidas com a oferta de cursos técnicos e superiores, como as Universidades e os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, numa das quais hoje sou professor efetivo. Foram inúmeros concursos e a efetivação de milhares de docentes e técnicos nestas instituições. E é exatamente sobre este aspecto que gostaria de avançar na minha discussão.


O Sr. afirma que este governo permitiu a quem “nunca tinha lido um livro” adquirir um carro através do crédito fácil. Porém, esquece-se o Sr. de mencionar que este governo “espúrio” investiu mais em educação do que qualquer outro. Este mesmo governo deu acesso às camadas mais baixas da população aos bancos das universidades e permitiu a diversos jovens estudarem e terem uma profissão ao ampliar as escolas técnicas por todo país.


Não, Sr. Luiz Carlos Prates, estas pessoas que compram carros hoje não são tão “miseráveis” e “desgraçadas” quanto o Sr. pensa. Pelo contrário, estas pessoas compreendem melhor a sociedade em que vivem e os grandes ganhos que tiveram nos últimos anos.


Não, Sr. Luiz Carlos Prates, estes indivíduos não passeiam de carro para amenizar os conflitos entre maridos e esposas. Estes indivíduos saem para celebrarem, juntos, a felicidade de uma nova vida que se constrói. Não são pessoas frustradas, pelo contrário, são indivíduos REALIZADOS. Na verdade, frustrada é a elite que sempre teve este país nas mãos e que agora não consegue aceitar que as camadas mais pobres ascendam e passem a ter acesso àquilo que era tido como exclusividadedos grupos privilegiados economicamente.


Não, Sr. Luiz Carlos Prates, os acidentes nas rodovias não acontecem por causa destes “miseráveis” e “desgraçados”. São diversos os motivos dos acidentes, entre eles, o excesso de velocidade daqueles que podem adquirir os modelos de automóveis mais luxuosos e velozes e que, mesmo com toda a tecnologia de seus carros, também não conseguem “vencer as curvas” e outras barreiras que possam aparecer – entre elas, veículos de indivíduos inocentes.


Por fim, caro Sr. Luiz Carlos Prates, gostaria de informar-lhe que consegui trocar de carro. Ainda circulo por aí, nas tão movimentadas estradas do país, com um automóvel popular, mas já mais novo e com algum conforto a mais que o primeiro. Eu, minha esposa e minhas lindas filhas estamos felizes com o nosso automóvel, com a nossa casa ainda alugada e com as viagens que podemos fazer. Espero que o Sr. reflita sobre o quão preconceituoso e desvinculado da realidade foi o seu comentário que ganhou repercussão por todo o país.


Sem mais, despeço-me aqui. Um cordial cumprimento deste homem proprietário de um humilde carro popular comprado graças ao crédito fácil com parcelas a perder de vista, mas feliz.


Guanhães/ MG, 19 de novembro de 2010.


Plínio Ferreira Guimarães

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