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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, novembro 21, 2010

Essa Erenice é de Guerra


Artigo publicado no site “Último Hora”, de Rondônia, relembrando a atuação digna e corajosa da ex-ministra Erenice Guerra ao peitar as maiores empreiteiras do Brasil e rebaixar em mais de R$ 10 bilhões o custo final da obra da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.
Hoje, enxovalhada pela imprensa golpista, vendo todas as “provas” contra ela sendo desmentidas e derrubadas por absoluta inconsistência de conteúdo ou, simplesmente, por serem óbvias mentiras, Erenice Guerra é uma guerreira a quem o Brasil deve muito e seu papel será julgado pelo povo e pela história, que ninguém manipula.
Meu velho amigo Delman escreveu um oportuno artigo sobre o que significou o processo do leilão da Usina Belo Monte (PA) para o país e sua gente. Além disso, relembra o papel desempenhado por Erenice Guerra nessa intrincada luta entre o desejo desenfreado das empreiteiras e o real interesse público.
A oposição tem sido eficiente na “torrifação” de alguns membros do governo e parte da mídia, de sua propriedade, tem se prestado a esse papel com desenvoltura. Não se trata de acobertar o que está errado, mas agir com indubitável interesse público. Isso não acontece.
O fato é que o poder está em disputa e caberá ao povo escolher. O caminho foi traçado e a nação está em marcha. Penso que a TV Globo, Veja e Folha de São Paulo, entre outros, perderão mais uma eleição. Restará, aos folhetos citados, relembrar o tempo da eleição de Fernando Collor… puxa, como eles mandavam!!! A internet tem suas virtudes…
David Nogueira
Leilão da Usina Hidrelética de Belo Monte
Seria um leilão pelo menor preço. Pela modalidade definida, o governo contrataria aquele consórcio que cobrasse o menor preço para construir a usina. Para garantir um preço razoável, sem lucros abusivos, o governo estabeleceu um preço teto. Ou seja, estabeleceu o preço máximo que se poderia cobrar. Caso nenhuma empresa apresentasse proposta menor que o teto estipulado, o leilão seria anulado.
A partir do edital que definiu este teto, deu-se uma queda de braço entre as empreiteiras e o governo. As empreiteiras queriam o teto mais alto possível (na casa do R$ 36 bilhões – trinta e seis bilhões de reais), enquanto o governo estava determinado a estabelecer o teto mais baixo (na casa do R$ 31 bilhões – trinta e um bilhões de reais). (Observem que se tratam de bilhões de reais.)
As empreiteiras não ficaram nada satisfeitas. Tentaram, de todas as maneiras, mudar o edital. Queriam o lucro máximo.
Quando perceberam que o governo continuava disposto a brigar pela menor tarifa e que não conseguiriam manipular o leilão, resolveram partir para o “tudo ou nada” – articularam um boicote. Nas vésperas, faltando apenas 15 dias para a data marcada, todas anunciaram que não participariam do leilão. Alegavam que o teto era inviável.
Tentaram uma “sinuca de bico” . Queriam colocar o governo de joelhos: sem concorrentes, o leilão seria um fracasso e a principal obra do PAC estaria inviabilizada. Calculavam que, num ano eleitoral, o governo não gostaria de sofrer uma derrota e cairia refém da chantagem armada.
Não contavam com a determinação do governo em garantir o menor preço e a menor tarifa.
Erenice Guerra, ministra da Casa Civil, convocou as empresas do Sistema Eletrobrás e determinou que elaborassem propostas para participar do leilão de Belo Monte, que ocorreria em pouco mais de dez dias.
Em 10 dias, as empresas estatais coordenaram trabalhos para constituição de consórcios capazes de disputar o leilão. No dia marcado, 19 de abril de 2010, dois consórcios apresentaram propostas. Venceu o menor preço: construir a usina pela menor tarifa, de R$ 77,97 (setenta e sete reais e noventa e sete centavos), que resultaria num preço total para usina de R$ 26 bilhões (vinte e seis bilhões de reais).
Ou seja: uma postura firme do governo, articulada com extrema eficácia pela Casa Civil, coordenada por Erenice Guerra, impediu que mais de dez bilhões de reais fossem desviados dos bolsos dos consumidores brasileiros para os bolsos das empreiteiras. Muito diferente do que ocorreu no apagão 2001, quando as concessionárias colocaram aquele governo de joelhos e conseguiram meter as mãos em R$ 7 bilhões (sete bilhões de reais) dos consumidores.
Passados dois meses do leilão, aquelas mesmas empreiteiras que promoveram o boicote, aquelas mesmas que diziam que o teto de R$ 31 bilhões era inviável, correram para se associar ao consórcio vencedor de Belo Monte. Aquelas mesmas empreiteiras correram para participar da construção da mesma usina por R$ 26 bilhões – R$ 10 bilhões a menos do que pretendiam lucrar.
Erenice foi à Guerra e não dobrou os joelhos. Os consumidores economizaram R$ 10 bilhões. A usina vai sair pelo preço correto. As empresas vão ter ganhos honestos. O Brasil venceu.
Delmam Ferreira
*comtextolivre

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