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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, novembro 17, 2010

Globalização entra em concordata e risco de falência é inevitável








Laerte Braga

E os riscos de barbárie e selvageria também. É clássica a história do cidadão que ameaçado por outro com uma faca vai recuando, recuando, até que num determinado momento encontra uma parede às suas costas.

Fica com duas alternativas. Ou aceita dar tudo o que tem, ou resiste, se aventura a levar a facada, mas tenta salvar-se e ao que tem.

Por trás da desvalorização do dólar existe mais que perversidade do governo de Obama e de todo o mundo financeiro norte-americano, na tentativa de exportar inflação, resgatar uma dívida impagável, salvar dedos e anéis.

Existe o inacreditável arsenal militar capaz de destruir o mundo cem vezes. E tanto quanto a cobiça das conquistas levaram impérios à ruína, acaba sendo a última alternativa desses grandes conglomerados – os EUA são um conglomerado de empresas – de múltiplos interesses, mas todos numa espécie de frente comum para manter intocados os tronos dos senhores do mundo.

Bancos, grandes empresas, em países como o Brasil o latifúndio (hoje parceiro desse processo de globalização – "globalitarização" segundo o brasileiro Milton Santos –, no chamado agronegócio) e exércitos fantásticos/fanáticos, recheados de mercenários, forças terceirizadas para distribuir "democracia" e "liberdade" para o mundo.

Quando um boçal como Silvéster Stallone fala em defender a "pátria" Samuel Johnson dá um sorriso no túmulo e percebe o quanto estava certo ao classificar esse tipo de patriota de canalha.

O modelo está em concordata há tempos, nasceu concordatário e caminha a passos largos para a falência.

O resto do mundo (Tancredo Neves, ex-presidente do Brasil, não gostava da expressão "resto". Dizia que resto é de comida) ou reage, está encostado numa parede, ou aceita resignado o poder de Washington que é bem menor que o de Wall Street.

A máquina de fazer dinheiro nos EUA não está em mãos do governo, mas de bancos que detêm o controle acionário do banco central desde o governo de Woodrow Wilson (1912/1921). Está despejando dólares oficiais/falsos.

A derrota de Obama nas chamadas eleições de meio de mandato (perdeu a maioria na Câmara dos Representantes) não foi só consequência da crise que abala o país, mas da absoluta incompetência do presidente democrata de dar alguma resposta a alguma coisa que não seja determinada por um conjunto de marqueteiros. Foi emparedado por republicanos.

Obama é show. Primeiro presidente supostamente negro dos EUA, produto de um pânico coletivo em seu país diante do desgoverno Bush não percebeu as centenas, ou milhares de bombas relógios deixadas pelo antecessor. Estão explodindo agora.

O risco que a crise tome dimensões de um tsunami nunca visto, capaz de levar de roldão economias "sólidas" como Alemanha, Japão, arrastar a Europa a um vendaval jamais visto, faz com que os malucos de Washington e do Pentágono comecem a pensar no que Stanley Kubrick chamou de "corrida às cavernas" no filme Doutor Fantástico.

As medidas drásticas anunciadas por Washington, mas ainda em estudos, contrariam interesses de políticos norte-americanos, de grandes empresas, das classes dominantes, já que implicam em aumento de impostos, cortes de verbas em setores privilegiados – mas também na assistência social, o que aumenta o desemprego, a pobreza – e para complicar, redução de 700 bilhões de dólares no orçamento militar. Aí mexe com a macacada, que me perdoem os macacos.

Como é que ficam os generais que adoram brincar de atacar países como o Iraque, o Afeganistão, demonizar o Irã e como vão sustentar a base terrorista chamada Israel, no Oriente Médio?

Não me recordo com precisão, mas acho que foi Neville Chamberlain, primeiro-ministro inglês (1937/1940) quem disse que "a guerra é um negócio sério demais para ficar nas mãos de generais".

É como economia, importante demais para ficar restrita a economistas. Boa parte está a soldo dos donos do mundo e outra boa parte pensa que ser humano é um número, que tudo pode ser resolvido com uma equação, duas ou três no máximo.

São poucos, em relação ao todo, como Celso Furtado.

A junção generais (alguns os chamados R/3, aqueles civis que diante do espelho ficam em posição de sentido e se imaginam cheios de medalhas, Ramsey, por exemplo, ex-secretário de Defesa de Bush), com economistas digamos da General Motors, mais Citibank, etc, resulta nesse estado falimentar do modelo e na ameaça de uma catástrofe econômica e militar, logo política (a essência de tudo), se levarmos em conta que o presidente da maior potência do mundo (potência militar) não percebeu ainda que os chineses inventaram a bússola.

Obama hoje é só um fantoche à procura de um milagre. É possível que não controle nem o salão oval da Casa Branca. Que dirá o botão que aperta a ordem para o ataque.

A decisão do governo chinês de rebaixar a classificação dos EUA para créditos é inédita e mostra a extensão da crise.

A atitude do governo brasileiro de começar a controlar capitais estrangeiros especulativos é outra jamais sonhada, pelo menos nesse modelo, onde a mídia privada brasileira (brasileira?) se regalava ao dizer que bilhões entraram na bolsa na segunda-feira e na terça, acrescida de outro tanto, saiam numa demonstração de pujança do nosso País.

A globalização na forma que se deu é quimera. Conversa fiada de vendedor da Torre Eiffel, com a diferença que se o comprador não comprar e pagar, as tropas de marines chegam.

Países europeus começam a dar sinais de esgotamento de suas economias na lógica perversa de um círculo que começa e termina em Washington/Wall Street e mesmo colônias norte-americanas na Europa (Grã Bretanha e Alemanha) já fazem estrugir gritos de intolerância diante da violência do colonizador.

No caso específico da América Latina significa que o governo de Dilma Rousseff vai de fato ter que matar um leão por dia e buscar alternativas ao modelo imposto desde a queda da União Soviética.

O que representa a necessidade imperiosa de integração dessa parte do mundo à revelia de Washington, antes que façam daqui um grande México. Com um PIB extraordinário e a maioria da população na miséria, ou lutando desesperadamente para cruzar a fronteira e tentar a sorte como trabalhador braçal nos EUA.

Acuado, sem vontade de abrir mão de seus privilégios, mas tentando o conto do paco (aquele que você troca um bilhete premiado por um suposto monte de dinheiro, mas na verdade por baixo é só jornal cortado), os Estados Unidos devem tentar reforçar suas políticas de agressão a países na Ásia, na África e particularmente na América Latina, ainda mais agora que o Brasil emerge como potência.

Deve ser por aí que a mídia colonizada começou semana passada uma campanha de críticas ao chanceler Celso Amorim, principal responsável pela dimensão de potência mundial que o Brasil ganhou nesses oito anos de Lula.

Essa mídia gosta, porque fala a linguagem de Washington, de chanceleres que ao chegar ao aeroporto de Nova York tirem os sapatos para a revista e caiam de quatro, enquanto andam descalços na indigência dos colonizados.

A globalização já começou em concordata e está em vias de falir. O problema é que a falência pode vir no troar dos canhões, se é que canhões ainda são usados em guerras dos dias de hoje.

O império norte-americano não é nada mais que uma grande Babel. Ou um tigre de papel como dizia Mao Tse Tung.

Foi o que ficou claro na reunião do G-20. Pior que essa história que aflige brasileiro sobre G-4 ou G-3 na Libertadores da América, ainda mais depois que Ricardo Teixeira (chefe da quadrilha CBF – Confederação Brasileira de Futebol) determinou que os juízes deem o título ao Corinthians.

Não houve propriamente fracasso na reunião do G-20. O que se decidiu foi não fechar o cemitério e deixar os coveiros de plantão, a qualquer momento chega o corpo putrefato do neoliberalismo.

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