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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, novembro 30, 2010

Que se faça a Justiça


Presente de grego
A revolta acompanhada do choro compulsivo ainda preserva um senso de justiça. "Não sou contra a instituição e o trabalho que eles fazem. Entendo tudo que tem que acontecer para um futuro melhor. Sou contra os maus policiais, que usam a farda para prejudicar gente trabalhadora", disse, aos prantos, Ronai Braga. Ele teve a casa, na Rua 16 da Vila Cruzeiro, arrombada por agentes da Polícia Civil, segundo vizinhos que o acompanharam na delegacia como testemunhas na hora de registrar a ocorrência. Além de destruírem os móveis da residência, na sexta-feira, os invasores levaram R$ 31 mil, que seriam dados como entrada de um apartamento que a família pretendia adquirir.
Com todos os comprovantes na mão — depósitos bancários, rescisão recente de contrato de trabalho após oito anos com carteira assinada em uma empresa, extratos de FGTS e declarações de Imposto de Renda —, Ronai parece querer provar que seu dinheiro é suado. Pais de dois meninos de 2 e 9 anos, o casal não suporta olhar o quarto das crianças, com os móveis quebrados e as roupas jogadas no chão.
A vizinhança do homem que atualmente trabalha como autônomo, pintando camisetas, relatou na delegacia que um dos policiais que entraram na casa era identificado no uniforme como Carlos A positivo - tipo sanguíneo tradicionalmente inscrito na farda dos agentes de segurança. Ronai completará 32 anos amanhã. "Olha que presente ganhei", diz.

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