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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, novembro 21, 2010

A FOLHA DEU + UM TIRO NO PÉ


*José Flávio Abelha
A grande novidade que O Globo exibiu hoje não pode ser considerada um "furo jornalístico", no jargão midiático. Quando muito, o carro-chefe dos Marinhos fez um buraco, e que estrago, na débil credibilidade de uns tantos periódicos e hebdomadários e, indo mais longe, na banda podre da mídia brasileira.
Quando a Folha insistiu em abrir o que ela pensava ser a caixa-preta da candidata Dilma e o STM negou, um pensamento me perseguiu até hoje, dia 19 de novembro de 2010: a insistência da Folha é um TIRO NO PÉ.
Elementar, meu caro Watson, preste a atenção na linguagem silenciosa dos detalhes!
Inês Etiene Romeu, irmã da minha saudosa amiga Beth, foi declarada desaparecida mas estava enterrada viva em um sítio nas cercanias de Petrópolis, onde ficou mais de 1 ano, tirante o antes, nas mãos carinhosas do famigerado delegado Fleury. Washington Alves, sua filha Jessy Jane e demais familiares foram presos, torturados, trocados por embaixadores e asilados na Suécia. Walkyria Afonso Costa, desapareceu nas margens do Rio Araguaia, até hoje insepulta. Em um edifício do Conjunto Santos Dumont, em Belo Horizonte, morava um senhor paraplégico, preso a uma cadeira de rodas e sem fala, tal qual foi entregue à família depois de meses de tortura. Era bancário, jovem, atuante no seu sindicato e participante dos movimentos de protestos contra a ditadura implantada no dia 1º de abril de 1964. E muitas outras vítimas do torturador Daniel Antonio Mitrioni e americanizado Dan Anthony Mitrioni ou Dan Mitrioni, que a CIA mandou para o o Brasil e Uruguai como "assessor agrícola" cuja função era ensinar a interrogar presos políticos, tão importante para os militares que mereceu nome de rua em Belo Horizonte, quando os Tupamaros o fuzilaram no dia 10 de agosto de 1970 no Uruguai, grupo esse chefiado pelo guerrilheiro José "Pepe" Mujica, hoje Presidente da República.
Por essa gota de informação, pode-se ver que uma assassina, assaltante e mais adjetivos que recebeu a candidata Dilma durante a recente campanha eleitoral, depois de torturada, não ficaria menos de três anos na prisão. Com o negro quadro biográfico que a oposição apresentou, a candidata seria hoje, tão somente, uma lembrança amarga para a família Rousseff, um nome numa lápide, se cadáver houvesse, haja vista que, atualmente, ainda existem cerca de 460 desaparecidos.
TIRO NO PÉ que a Folha deu, abrindo as portas do STM às várias famílias que desejam saber o que consta nos processos de seus entes, presos, torturados, desaparecidos.
Vamos saber agora porque o inesquecível Presidente Juscelino, depois de cada interrogatório no Forte Imbuí, urinava sangue e tomou um tiro no pé ao responder à idiota e humilhante pergunta: trabalhava? o que fazia?, ao que JK literalmente respondeu: entre outras coisas promovi você a coronel, seu filho-da-puta.
TIRO NO PÉ que a Folha deu, ao se ler palavras emblemáticas contidas no "secretíssimo" processo da assassina e assaltante Dilma Rousseff, que ponho em relêvo no texto abaixo:
1. Joana d'Arc da subversão. A padroeira da França também foi uma subversiva cujo castigo foi ser queimada viva. Passados mais de 400 anos, canonizada pelo Vaticano. Hoje é Santa Joana d'Arc.
2. Não se pôde COMPROVAR que tenha participado diretamente em nenhuma ação armada. Segundo os arquivos.
3. É uma figura feminina de expressão tristemente notável, mas com uma dotação intelectual bastante apreciável. (Dizem os arquivos que O Globo teve acesso). Sem parti pris, isso é um elogio e, convenhamos, "expressão notável" e "dotação intelectual bastante apreciável" não deixam de ser atributos positivos para uma pessoa que almeja ser Presidente.
4. Os grupos de inteligência das Forças Armadas não confirmaram sua participação direta em NENHUMA AÇÃO ARMADA, de acordo com os arquivos do Ministério Público Militar. Uma opinião pessoal: pode ser Presidenta ou seja lá o que for, neste episódio não se pode cogitar de uma "anistia", um deixa-pra-lá, um esquece, e sim, de um processo para que a tão decantada LIBERDADE DE OPINIÃO seja colocada nos trilhos. Uma coisa é Liberdade, outra, essa que vimos é Libertinagem.
5. Documentos que POUCO FALAM sobre vínculos de Dilma às guerrilhas urbanas contra a ditadura.
Concluindo, UM TIRO NO PÉ é pouco. Melhor dizendo, a Folha arrancou o próprio pé. Agora, o melhor a ser feito e meter a viola no saco e demitir o rapaz que serve o cafezinho na redação, autor das inverdades, mentiras assacadas contra a candidata Dilma. E os canalhocratas que repetiam tais afirmativas, naturalmente desejando implantar no Brasil uma canalhocracia finjam-se de morto, tirem umas férias, mandem a empregada dizer qualquer coisa, uma sugestão, férias em Paris. Pega bem, FHC deve estar lá tomando a sua champanhota.
Quando falam que a mentira tem pernas curtas, muitos não acreditam. Desta vez, a Folha pagou para ver. O STM mostrou. A Folha viu!!! O Brasil está vendo.
*Mineiro, autor de A MINEIRICE e outros livretes, reside na Restinga de Piratininga/Niterói, onde é Inspector of Ecology da empresa Soares Marinho Ltd. Quando o serviço permite o autor fica na janela vendo a banda passar.

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