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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, maio 01, 2013

Padre que apoia gays abandona e critica Igreja Católica

Postado em: 1 mai 2013 às 12:52

Decepcionado, padre que apoia gays anuncia afastamento e critica Igreja Católica. Admirado por muitos fiéis católicos, a polêmica gerou comoção e inúmeras pessoas demonstraram apoio ao padre pedindo que ele não deixasse a batina

Um padre de Bauru, no interior de São Paulo, anunciou na manhã do último sábado em uma entrevista coletiva à imprensa, seu afastamento dos ministérios sacerdotais da Igreja Católica. Roberto Francisco Daniel, o padre Beto, tomou tal atitude depois de um pedido público de retratação feito pela Diocese local sobre declarações dele contrárias à Igreja em redes sociais. Nos vídeos, o pároco opina sobre assuntos considerados polêmicos pelos fiéis católicos como bissexualidade, infidelidade, além de avaliar os próprios costumes da Igreja.
“Não tenho do que me redimir e muito menos a quem ou do que pedir perdão de tudo aquilo que eu fiz e do que eu declarei na internet. Se refletir é um pecado, eu sou um pecador. Sempre serei um pecador e não vou negar a minha postura de pecador”, disse.
Na próxima segunda-feira, prazo final estipulado pelo bispo Dom Frei Caetano Ferrari para que o padre se manifestasse, ele pretende entregar uma carta informando oficialmente à Diocese sobre a decisão. O sacerdote elencou três principais motivos para seu afastamento, entre eles o de que a Igreja não respeitaria a liberdade de expressão e de reflexão que deveria ser baseado no modelo pregado por Jesus Cristo.
“O modelo que temos a seguir é Jesus Cristo. E esse modelo viveu plenamente essa liberdade e não só isso, fez com que as pessoas refletissem e pensassem por si mesmas”, explica.
Além disso, segundo ele, os sacerdotes são orientados a pregar regras que eles mesmos não vivem e as classificam como ultrapassadas. Ele revela que muitas vezes os padres têm que “fechar os olhos” diante de algumas questões como o uso de métodos contraceptivos usados pela maioria dos casais e condenado pela Igreja.
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O padre Beto, excomungado por defender homossexuais. O sacerdote elencou três principais motivos para seu afastamento, entre eles o de que a Igreja não respeitaria a liberdade de expressão e de reflexão (Foto: Reprodução)
Ainda em seu pronunciamento para os jornalistas, padre Beto taxou a Igreja Católica como omissa diante dos problemas sociais. Entre os exemplos citados por ele está a luta dos professores por um salário digno, dos policiais e dos aposentados por melhores remunerações, além do sistema penitenciário brasileiro que, na avaliação dele, não exerce a principal função que é a de recuperar pessoas excluídas da sociedade.
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“Um país que não prioriza sua educação é um país que não tem futuro. A Igreja deveria ser uma força ética em prol da educação. Nós temos diversos problemas em que a Igreja deveria bater de frente. A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) deveria ter uma postura firme diante do Congresso Nacional, que leva tanto dinheiro que é nosso e faz muito pouco pela sociedade”, avalia.
Aos 48 anos, padre Roberto Francisco Daniel foi ordenado em setembro de 1998. É formado em Radialismo (pelo Senac-SP) em Teologia pela Universidade Estadual Ludwig-Maximilian de Munique, na Alemanha, além de Direito pela Instituição Toledo de Ensino (Ite) e História pela Universidade do Sagrado Coração (USC) ambas em Bauru. Ele continuará sendo professor universitário e vivendo em Bauru.

Decepcionado com a Igreja

Padre Beto revela estar decepcionado com a repressão sofrida por parte da Diocese local e com a Igreja Católica. Ele diz que esperava apoio por parte do bispo Dom Frei Caetano Ferrari diante de suas declarações e questionamentos. “Ele disse que sou um ‘filho rebelde’. Ele é meu bispo e não meu pai. Pai eu só tive um. Esperava que ele me apoiasse que dissesse ‘eu tenho um padre que pensa’, mas não foi isso o que aconteceu”, avalia.
Apesar de pedir afastamento dos ministérios sacerdotais da Igreja, ele explica que continuará sendo padre e seguindo as doutrinas da Igreja Católica. Antes de anunciar sua decisão, ele revela que até cogitou a possibilidade de mudar de Diocese. “Mas isso não iria adiantar, toda a Igreja é assim, pensa assim”.

Nova religião

Admirado por muitos fiéis católicos na região de Bauru, a polêmica gerou comoção e inúmeras pessoas demonstraram apoio ao padre pedindo que ele não deixasse a batina. Questionado sobre a ideia de fundar uma nova igreja ele descarta possibilidade, mas não nega que continuará promovendo encontros religiosos, como grupos de oração. Ele até cogita voltar atrás em sua decisão, mas é taxativo: “só se a Igreja mudar”.
Durante a entrevista, padre Beto avaliou a escolha do cardeal argentino como líder mundial da Igreja Católica. Segundo ele, papa Francisco deverá promover mudanças na Igreja, principalmente quanto a questões burocráticas, mas que dificilmente irão atingir as bases como os dogmas e doutrinas.

(Atualização)

A Igreja Católica decidiu excomunhar o padre Beto, que havia criticado o tratamento oferecido pela Igreja aos homossexuais. O vídeo, hospedado no site Youtube, gerou uma forte repercussão nas redes sociais e causou impacto na Diocese da região.
No vídeo, Roberto Francisco Daniel, mais conhecido como Padre Beto, defendeu que a “hoje em dia não dá mais para enquadrar o ser humano em homossexual, bissexual ou heterossexual” e “que o amor pode surgir em qualquer desses níveis”.
Segundo o padre Beto, a Igreja precisa “analisar criticamente aquilo que está acontecendo na sociedade”. Para ele, é necessário “ter humildade de ver que o Espírito Santo sopra onde Ele quiser”.
As declarações do padre, que é historiador e jornalista, culminaram na exigência de um pedido de retratação e na posterior excomunhão do clérigo por heresia e cisma.
Em seu perfil no Facebook, o padre escreveu que não vai retirar nenhum material postado por ele nas redes sociais, em seu site ou em qualquer outro espaço na internet. E reiterou: “A Igreja precisa ser um espaço dialogal para que as pessoas possam transcender de fato e se tornarem verdadeiros filhos de Deus em nosso universo contemporâneo. Se refletir é um pecado, eu sempre fui e sempre serei um Pecador”.

*pragmatismopolitico

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