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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, setembro 16, 2013

Os apoiadores da ditadura se unem novamente




Analisando a edição do jornal O Globo de domingo, confirmo uma suspeita. O jornal publicou ontem de má vontade a matéria sobre o congresso ter apoiado a manutenção dos embargos infringentes. Além de vir sem nenhum destaque, a matéria em questão foi ignorada pelos editorialistas. E hoje não há nenhuma referência a ela.

Esse golpismo pé-de-chinelo do Globo é até engraçado, não tivesse consequências tão sérias.

O jornalão volta à carga hoje. Entrevista com Marco Aurelio Mello vem estampada na capa do site, como ponta de lança de uma campanha a esta altura destinada ao fracasso. Fracasso não apenas porque Celso de Mello dificilmente mudará seu voto, mas sobretudo porque, se o fizesse, marcaria ainda mais esse julgamento como “de exceção”, acrescentando motivos para a busca de revisão em cortes internacionais.


Sem noção do ridículo, Mello – com o aval e apoio da Rede Globo – praticamente convoca as pessoas a se manifestarem diante do tribunal. É ridículo e beira a ilegalidade um ministro pedir manifestações na porta da instituição da qual ele faz parte.

Não será surpresa se meia dúzia de manifestantes portando vassourinhas coloridas pipocarem diante do STF, acompanhados de batalhões de repórteres da Globonews.

Na blogosfera, lembrou-se muito do fato de Mello jamais ter pensado na “credibilidade” do Supremo quando libertou Cacciola, permitindo que ele fugisse do Brasil.

Para mim, contudo, muito mais emblemático da ideias de Mello é sua declaração, em entrevista recente a Kennedy Alencar, de que a ditadura foi um “mal necessário”.



A censura a jornais, o fechamento do congresso, a supressão do direito ao voto, a tortura, o exílio, o espancamento de estudantes e professores, a redução brutal dos salários, também foi um “mal necessário”, sr. Marco Aurélio Mello?

Por acaso, excelentíssimo Marco Aurélio, o senhor já apurou o que as “ruas” pensam de sua opinião sobre a ditadura?

Muito sintomática essa união estratégica entre uma família que, em virtude do apoio que deu ao golpe, se tornou a mais rica do país, e um ministro do STF que, desprezando o trauma humano, social e cultural causado pelo arbítrio, afirma despudoradamente que a ditadura foi um “mal necessário”.

Globo, Marco Aurélio, ditadura, e o mal necessário, a gente se vê por aqui!
Por: Miguel do Rosário

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