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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, setembro 24, 2013

SONEGAÇÃO DA GLOBO VAI VIRAR MARCHINHA DE CARNAVAL


Miguel do Rosário
MIGUEL DO ROSÁRIO
MIGUEL DO ROSÁRIO


O final de semana foi histórico. O grito de independência de Celso de Mello deflagrou uma “espiral do silêncio” que, até o momento, agia em favor dos golpistas. O vento mudou de lado. Nos últimos dias, diversas personagens do mundo jurídico, inclusive celebridades do conservadorismo político, atacaram frontalmente os arbítrios e as injustiças da Ação Penal 470.
O exemplo mais estrondoso veio de Ives Gandra, jurista e autor de dezenas de livros sobre Direito, que se tornou célebre na mídia por suas invectivas contra o PT. Neste domingo, Gandra chuta o pau da barraca e diz, em entrevista para Monica Bergamo, na Folha, que Dirceu foi condenado sem provas.
Agora todo mundo está se perguntando: por que só agora? Muitos aventam a possibilidade do jurista já estar pensando no perigo que a teoria do domínio de fato representa para todos os ricaços no país, visto que, segundo ela, qualquer falcatrua na cozinha pode levar à condenação na diretoria.
Pode ser. Não deixa de ser um excelente e justo motivo.
Enquanto o mensalão durou, e especialmente nesses fogosos dias que antecederam o voto de Celso de Mello, foi curioso testemunhar a aparição de uma incrível quantidade de carbonários. O Globo não cansou de repetir um bordão exótico, de que o STF não podia passar a impressão de proteger “ricos e poderosos”.
Um lance arriscado, sem dúvida. Mas há quem goste de viver perigosamente.
A ressaca veio forte. Muita gente acordou com fortes dores de cabeça, remorsos, além do travo amargo de uma histórica derrota política.
Defenderam ardorosamente a guilhotina e agora, passada a tempestade de fúria, temem por suas próprias cabeças.
É curioso observar que a imprensa de São Paulo, sobretudo a Folha, está procurando se descolar do golpismo carbonário da Globo.
O Estadão, pelo que conhecemos dele, vai demorar anos para se recuperar do choque causado pela entrevista de Gandra.  Mas é um jornal decadente, com tiragem declinante e contas no vermelho. Não conta mais.
Temos a Veja, que assinou um tremendo recibo de derrota na última semana.
Mas a Veja está muito queimada. Virou uma caricatura ridícula de si mesma. Sua ameaça de “crucificar” Celso de Mello selou de vez a sua credibilidade.
Celso de Mello, ao contrário de ser crucificado, ganhou o respeito da comunidade jurídica, à direita e à esquerda. O próprio Lewandowski, até então demonizado pelos setores medíocres da mídia, recebeu um elogio definitivo de Ives Gandra.
Hoje foi a vez de Claudio Lembo, também uma figura de proa do conservadorismo paulistano, chamar a Ação Penal 470 de um processo “medieval”.
Entretanto, não sejamos ingênuos. Ainda há muito o que fazer para desintoxicar a opinião pública brasileira.
O “luto” das atrizes globais é a prova disso. Todos nós temos amigos, parentes, conhecidos, que passaram anos comprando o discurso da mídia.
O próprio STF se vergou à mídia. O voto de Mello foi um “ponto fora da curva”, para usar a expressão que o ministro Barroso usou para se referir à própria Ação Penal 470. E terá dificuldade agora para encontrar uma saída honrosa.
Os ministros estão presos numa armadilha psicológica. Como renegar tudo que fizeram? Além disso, não sendo políticos, não percebem exatamente até que ponto é verdade a história do “clamor popular”.
O próprio Celso de Mello, em seu voto, falava como se do lado de fora do STF houvessem dois milhões de pessoas exigindo a “prisão dos mensaleiros”.  Não tinha nem cinquenta, metade deles adolescentes com rosto tapado, que nem sabiam o que estavam fazendo ali; outra metade, atores pagos por algum partido ou quadro político da oposição.
De qualquer forma, temos que nos cuidar. Veja e Globo derrotados, acuados, tornaram-se ainda mais agressivos e perigosos. E igualmente, como se viu, mais desesperados e imprudentes.
A aprovação do projeto do Direito de Resposta, de autoria de Roberto Requião no Senado,  representa, neste sentido, um importante avanço democrático, na garantia dos indivíduos contra o arbítrio de uma mídia cujos valores ainda são os da ditadura.
A grande mídia está se isolando e sendo cada vez mais contestada. A audiência dos blogs cresceu de maneira fabulosa nos últimos meses. A gente é que nem bolo; quanto mais eles batem, mas a gente cresce.
Algumas reações químicas fundamentais se dão apenas a partir de certa temperatura. Talvez estejamos chegando perto de uma ruptura definitiva na correlação de forças entre mídia e poder no Brasil.
Suspeito que o Carnaval do ano que vem, ao invés de versos moralistas sobre o mensalão, verá uma profusão de blocos fazendo chacota com a sonegação da Rede Globo.
Eu mesmo já estou rabiscando uns versinhos…
PS: Aproveito para lhe propor reservar, desde já, dois exemplares dos livros que lançarei em novembro deste ano.
*Amoralnato

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