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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, fevereiro 18, 2014

    PT do Rio solta nota se solidarizando com o PSoL e o deputado Marcelo Freixo

Conheço o Marcelo Freixo há tempos, minhas enteadas me convenceram a votar nele pela primeira vez há vários anos. Nunca me arrependi, e repeti o voto nele, mesmo depois que ele abandonou o PT, ele e Chico Alencar tem feito jus ao meu voto; 
Em alguns momentos tenho me exasperado com algumas atitudes, Heloísa Helena de braços com a direita celebrando a queda da CPMF nunca me desceu bem pela garganta, nem os afagos de Randolfe à direita em épocas recentes, mas são coisas da democracia, e do jogo partidário.
Não podemos julgar o indivíduo pelas atitudes da agremiação a que faz parte. Temos que entender que o PSOL é, no espectro ideológico, o de maior afinidade com o PT. As atitudes da militância PTista tem me exasperado igualmente, principalmente agora que nosso inimigo comum, a grande mídia de direita, vem descendo o sarrafo no Freixo. 
Nem que fosse só por coerência ideológica, tínhamos que estar, como o PT RJ, contra os jornais (principalmente o  GROBO) e a favor de quem quer que seja que eles queiram demonizar, como fazem com o PT.
Em nota divulgada há pouco pelo PT do Rio de Janeiro acerca do caso envolvendo a morte de Santiago Andrade, o partido registra que o PSoL e Freixo são ”vítimas recentes da sanha da mídia empresarial brasileira, sempre disposta a atacar as ideias, as organizações e as lideranças da esquerda brasileira”. Alguns vão dizer dizer que há neste apoio um cálculo político com vistas à próxima eleição no estado, mas não poderão  negar que é uma atitude exemplar para se pensar o relacionamento entre esses partidos daqui pra frente.
Seria um avanço para o campo democrático se a militância do PT e PSoL, principalmente a atuante nas redes sociais, entendessem esse recado e passassem a se tratar de maneira mais respeitosa.  Segue a nota.

A morte do cinegrafista Santiago Andrade deve servir de alerta para algumas reflexões. Em primeiro lugar, solidarizamo-nos com amigos e familiares da vítima, cuja perda e dor deve ser respeitada, e não espetacularizada ou apropriada por uma ofensiva conservadora. Criticamos duramente a ação de pequenos grupos que substituem a organização popular, o trabalho de base e o debate político pelo uso performático da violência, prestando um desserviço às lutas por mais direitos e pela radicalização da democracia, servindo de pretexto para o aumento da repressão, colocando em risco a integridade dos próprios manifestantes e diminuindo a adesão popular aos movimentos de massa.
Para nós, do PT, a construção de uma sociedade em novas bases é uma tarefa de milhões de pessoas, e ações irresponsáveis e de legitimidade social reduzida não contribuem para a superação das desigualdades que ainda existem em nosso país. No entanto, não concordamos que o episódio que vitimou Santiago – que deve ser devidamente apurado, e processados os responsáveis – sirva como cortina de fumaça para encobrir a escalada de violência policial, que vitimou mais de uma dezena de pessoas, inclusive nas manifestações, ou como pretexto para tentativas conservadoras de alteração na legislação brasileira, como o PL-499 (conhecida como “lei anti-terrorismo”) ou a proposta do secretário estadual de segurança de tipificar o crime de desordem, abrindo perigosas janelas para o aumento da criminalização dos movimentos sociais.
Por último, solidarizamo-nos com o PSOL e o deputado estadual Marcelo Freixo, vítimas recentes da sanha da mídia empresarial brasileira, sempre disposta a atacar as ideias, as organizações e as lideranças da esquerda brasileira, como ocorre sistematicamente contra o PT, sendo a cobertura do julgamento da AP-470 um caso emblemático. Entendemos os ataques desferidos contra o deputado e o seu partido como parte de um processo mais amplo de disputa ideológica – como ficou explícito nos editoriais da imprensa sobre o VI Congresso Nacional do MST, cabendo a todos e todas que lutam por um mundo melhor uma postura mais generosa entre nós e de repúdio à campanha difamatória orquestrada.

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