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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, fevereiro 14, 2014

POR QUE OS BLACK BLOCS FORAM ACEITOS COMO ATORES PRINCIPAIS NAS REDES DE TVs? - PORQUE SERVIRAM À DIREITA, QUE NÃO GANHA NO VOTO E NA PAZ



O BIG PIG sentiu ali o cheiro do Golpe contra a Dilma. Quem não tem voto … 

Por Fernando Brito:

Rogerio Gentile, na edição de hoje da Folha, escreve sobre a “benevolência, para não dizer simpatia” com que os black blocks foram tratados por “artistas, políticos, intelectuais, publicitários e jornalistas foram condescendentes com depredações de prédios públicos, ataques a bancos, tentativas de linchamento de policiais etc., sempre partindo da premissa de que os vândalos estavam mudando o país“.
Mudando o país, em quê?
Tirando o famoso “padrão Fifa” e os “não é só por 20 centavos”, alguém consegue lembrar de alguma coisa que propusessem ou desejassem os movimentos iniciados em junho, cuja face se ornou de máscaras negras?
Mas, mesmo sem apontar a razão profunda desta simpatia, Gentile tem razão quando diz que a condescendência com os quebra-quebras e outras violências partiam da premissa de que aquilo seria “mudar o país”.
A mídia, a direita, o conservadorismo, desde o primeiro dia, sentiram ali o cheiro da desestabilização de um governo que, até então, ostentava índices de aprovação tão maciços que eram como uma parede de concreto para suas pretensões eleitorais em 2014.
Vale dizer, pela via democrática de oposição, na qual acumulam três derrotas e caminhavam para o quarto insucesso.
Vou dispensar-me de citar os Jabores de ocasião.
E, a seguir, em alguns dias, quando as “depredações de prédios públicos, ataques a bancos, tentativas de linchamento de policiais etc” passaram do limite do “socialmente aceitável”, continuaram servindo, porque isso tumultuava o cotidiano, espalhava a imagem do caos, reforçava a imagem do “desgoverno”.
Melhor ainda porque a juventude parecia emprestar-lhes um ar “esquerdista”, libertário, muito mais simpático que os estandartes da TFP dos anos 60.
Mas, igualmente, também desestabilizadores de um governo que, como todos os seus pecados e vacilações, é o grande inimigo a ser batido pelo capitalismo colonialista de que nosso país é vítima.
2014 passou a ser ansiosamente esperado,e isso foi dito e repetido em alto e bom som pelos políticos de oposição, como o ano em que esses “movimentos” – e leia-se confronto em lugar de movimento, porque uma concentração pacífica em uma praça do centro da cidade não tem “graça nenhuma” – fariam a festa da Copa do Mundo virar um pesadelo.
Os senões da Copa – os estádios já eram caros antes – não eram o importante, senão para umas mocinhas bonitas que já tem hospital e escola “padrão Fifa”. O importante era preparar o povo brasileiro para desejar “um governo”, porque as ruas conflagradas e embaçadas da fumaça de bombas de gás, em todas as redes de TV do mundo, tomariam o lugar da alegria, da diversão e, sobretudo, da auto-estima brasileira.
Os que chamam, agora, de “monstros” estavam ali todo o tempo.
Os partidos e a política, que diziam não estar ali, também estavam, tanto nos desvãos oculto da manutenção de alguns “porra-loucas” quanto, sobretudo, na promoção ansiosa da mídia à espetaculosidade que se procurava a paulada, a chamas, a bombas.
E que ela, pressurosamente, lhe dava.
Até que veio o seu “Riocentro”, ferindo e matando o cinegrafista Santiago Andrade.
Este é o cerne das razões que explicam a ”benevolência, para não dizer simpatia” a que se refere o articulista.
O resto, permitam-me, é perfumaria.

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