Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, fevereiro 15, 2014

O poder que antigamente pertencia exclusivamente a quem tinha força, hoje passa a quem tem conhecimento

████████████████ O que temos presenciado nos últimos anos é a dispersão do poder. Governos, exércitos e empresas multinacionais estão sendo cada vez mais confrontados com novos agentes, esses rivais alternativos em sua maioria são menores em tamanho e recursos, mas ainda assim são capazes de alterar o balanço das forças.

O poder que antigamente pertencia exclusivamente a quem tinha força, hoje passa a quem tem conhecimento, passa dos velhos para os jovens, dos homens para as mulheres, das mega indústrias para as startups.

Exemplo disso são os meios de comunicação tradicionais e as mídias alternativas. Existem interesses políticos e econômicos por trás de cada notícia que vai ao ar nos grandes canais de comunicação, de modo que uma linha editorial precisa ser seguida, ainda que isso significa manipular informações.

No entanto, é preciso bater de frente com as mídias alternativas, que muitas vezes registram os mesmos fatos sem alterar o contexto. O poder se dispersou. Continua sim nas mãos de poucas famílias que controlam os meios de comunicação, mas esse poder não tem a mesma liberdade de antigamente.

Exemplo ainda mais extremo de dispersão de poder tem ocorrido no México, com o surgimento dos “vigilantes”. O país enfrenta uma séria crise social, cartéis de drogas controlam cidades inteiras e travam guerras rurais e em alguns casos até urbanas com o exército local.

Em meio a tudo isso a população criou forças de auto-defesa, intituladas de “vigilantes”. Sua atuação tem sido tão determinante no combate aos cartéis, com aproximadamente 20 mil vigilantes armados, que recentemente o governou “legalizou” esses movimentos, incorporando-os em unidades quase-militares oficiais, chamadas de Unidades de Defesa Rural.

Outro exemplo de poder disperso foi o nascimento do Sudão do Sul em 2011, a nação mais nova do mundo teve sua criação possível graças a atuação e intervenção de diversas organizações não governamentais. O cenário onde somente chefes de Estado atuavam começa a abrir espaço para novos detentores de poder, mesmo que pequenos, mas que juntos alteram realidades.

Nenhum comentário:

Postar um comentário