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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, maio 01, 2014

EUA: o estudo que não fazia falta


Eis um típico caso de descoberta da água quente.

Segundo uma reflexão dos professores Martin Gilens e Benjamin Page, das Princerton University e da Northwastern University, os Estados Unidos estão longe de ser uma democracia, como a maioria dos americanos e da população mundial acredita. Na verdade, a federação norte-americana fica mais perto duma oligarquia corporativa.

Nãoooooo!!! Quem diria? É preciso mesmo trabalhar em Princerton para entender certas coisas.

Os pesquisadores examinaram 1.800 medidas políticas que cobrem um período de 20 anos do governo dos EUA. Espantem-se: os dados revelaram uma mudança substancial em favor dos interesses de uma pequena classe dominante, a elite, composta por membros poderosos que exercem um total controle sobre a população. O governo dos EUA representa, portanto, o cidadão rico e poderoso, já não o cidadão comum.

Nesta altura o Leitor estará pasmado, à beira de cair da sua cadeira. Mas agarre-se e esforce-se para acreditar: é verdade, são dois professores que dizem isso!

E explicam que as políticas implementadas entre 1981 e 2002, mostram a forte atitude da classe política americana em favor dos grandes capitais em detrimento do cidadão comum, com o objectivo de proteger os interesses dos indivíduos ricos e manter as coisas tais como elas estão.
O ponto principal que emerge da nossa pesquisa é que as elites económicas e os grupos organizados que representam os interesses das empresas têm um impacto substancial sobre as políticas do governo dos Estados Unidos, enquanto que os grupos de interesse de massa e dos cidadãos comuns têm pouca ou nenhuma influência.
Mah...isso parece muito estranho, serio, quase impossível eu diria. Será que os dois trabalhavam num filme de ficção científica?
Os americanos desfrutam de muitos recursos para a governação democrática, como as eleições regulares, a liberdade de expressão e de associação. Mas acreditamos que, se a política é dominada por organizações empresariais poderosas e por um pequeno número de indivíduos ricos, as pretensões americana de ser uma sociedade democrática estão seriamente ameaçada.
Não, desculpem, isso parece-me demais: se houver eleições como pode faltar a Democracia? Isso não faz sentido nenhum: é um conceito básico, até dois professores deveriam perceber isso.
Nos Estados Unidos, como os nossos resultados indicam, a maioria não manda - pelo menos não no sentido de realmente determinar os resultados das políticas. Quando a maioria dos cidadãos não concorda com as elites económicas e/ou com os interesses organizadosgeralmente perdem.
Além disso, por causa da forte tendência de imobilidade do sistema político dos EUA, mesmo quando uma razoavelmente grande maioria dos americanos favorecem a mudança de políticas, geralmente não conseguem.
Não há mudanças? Então, Bush não era branco e Barack Obama não é preto?
Eu acho que estes dois são simplesmente terroristas, que tentam apenas desestabilizar o berço da Liberdade e da Democracia. Deveriam ficar sem fundos para trabalhar.
E provavelmente irão ficar.


Ipse dixit.


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