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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, março 28, 2015


O fascismo avança com o incentivo da mídia     

           

Imaginemos a seguinte história. Estamos em setembro de 1999, no pior momento do governo FHC, que foi repleto de maus momentos. Fernando Henrique, mesmo contando com a blindagem da mídia hegemônica, tinha um grau de aprovação menor do que o atual índice de Dilma. O desemprego estava em 9,6% (hoje a mídia “festejou” o aumento do desemprego: 5,9%) e o poder de compra do salário mínimo era irrisório.      


A insatisfação com o PSDB era enorme. Imaginemos que em meio a este cenário duas sedes de diretórios dos tucanos houvessem sido atacadas com bombas, uma delas a da direção regional do PSDB em São Paulo. Editoriais furibundos bradariam contra “os inimigos da democracia”. Manchetes histéricas qualificariam o acontecido como “atos terroristas”. Não é preciso ir tão longe. Quando a União da Juventude Socialista (UJS) protestou em outubro de 2014 contra o crime eleitoral cometido pela revista Veja, jogando tinta e revistas velhas na sede da editora Abril, sem nada quebrar e sem em nenhum momento colocar em risco a integridade física de ninguém, adjetivos como “terroristas” e “inimigos da democracia” foram usados de forma abundante. Em 1999, mesmo com FHC pior avaliado do que Dilma, não aconteceram ataques às sedes do PSDB. Mas acontece hoje com o PT, o partido da presidenta da república, que em menos de 15 dias teve uma sede incendiada (Jundiaí) e na madrugada desta quinta-feira (26), o Diretório Regional do partido, no centro de São Paulo, foi alvo de coquetéis molotov. A mídia dá pouco destaque para o fato, que não sai em manchete, não é tema de colunistas amestrados e não aparece em editoriais. O jornal O Globodesta sexta-feira (27), por exemplo, noticia o fato no pé da página 9, e a matéria é absolutamente burocrática. A atitude da mídia é a de um silêncio cúmplice, que representa, na prática, um incentivo. As demonstrações fascistas aumentam a cada dia em número e intensidade. Um jovem militante está com a camisa do PCdoB caminhando na avenida paulista quando um homem cospe em sua direção. O militante reage e o agressor corre. Quem não reagiu foi a isenta polícia paulista, que assistiu a tudo impávida. 

A resposta aos fascistas deve ser dada nas ruas e na justiça
Exemplos como estes são cada vez mais comuns. Vejam ao lado esta recente postagem no facebook. Um seguidor de Rodrigo Constantino e Reinaldo Azevedo, defende simplesmente que os professores sejam espancados. Não se sabe por que a denúncia foi feita preservando a identidade do fascista, que já retirou seu perfil da rede. Nós descobrimos seu nome, mas por questão de precaução vamos apenas dar as iniciais do mentecapto: Rodrigo Cabral Júnior. As entidades em defesa dos direitos humanos, bem como as entidades sindicais dos profissionais de ensino devem abrir imediatamente processos contra este cidadão e todos os que façam apologia ao crime, incitando a violência contra quem pensa diferente. O fascismo brasileiro entrou para a história por sua característica falta de coragem. Tanto que os integralistas, que buscaram reproduzir aqui, no século passado, de forma patética, os ideais de Mussolini, ficaram conhecidos como “galinhas verdes”, pois quando não encontravam proteção no aparelho repressor do estado, fugiam ao primeiro confronto. A resposta das forças populares deve ser enérgica. Não sair das ruas e denunciar política e legalmente os fascistas são medidas para ontem. O fascismo, como vários tipos de peste, só viceja nas trevas. Temos, portanto, que trazer à luz do dia estes fatos que a mídia hegemônica, cúmplice do fascismo, oculta e, ao ocultar, incentiva.

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