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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, março 26, 2015

Jean Wyllys protocola projeto para legalizar o aborto no Brasil

Projeto de lei que legaliza aborto é protocolado na Câmara. Iniciativa de Jean Wyllys (Psol-RJ) garante às mulheres o direito de interromperem gestação de até 12 semanas

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O deputado Jean Wyllys com a equipe que participou da elaboração do projeto de lei, entre eles a senadora uruguaia Constança Morera (Foto: Divulgação)
O deputado federal Jean Wyllys (Psol) deu entrada nesta terça-feira na Câmara no projeto de lei que garante às mulheres o direito de interromperem voluntariamente gravidez de até 12 semanas. De acordo com o texto, que será encaminhado para as comissões da Casa antes de seguir para votação, o aborto seria realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Também estão previstas a criação de políticas públicas para educação sexual e dos direitos reprodutivos e sexuais.
“Não vou passar por cima do cadáver do Eduardo Cunha (PMDB-RJ), porque ele não está morto, mas passarei sobre a arrogância dele. A lei é para que o Congresso não passe por cima do cadáver de milhares de mulheres que abortam clandestinamente em açougues e morrem todos os dias”, afirmou Jean, em referência à entrevista recente do presidente da Câmara.
Na ocasião, Cunha declarou que mudanças na legislação sobre aborto só seriam votadas por cima de seu cadáver. “No aborto sou radical, não vou pautar nem que a vaca tussa”, disse o parlamentar.
Pela lei, qualquer mulher com até 12 semanas de gravidez poderia procurar uma unidade de saúde pública para pedir a realização do aborto. Lá, seria atendida por uma equipe multidisciplinar, com médicos, psicólogos e assistentes sociais, para ser orientada sobre o procedimento até ratificar sua decisão.
A justificativa do projeto cita o fato de que o Brasil faz parte dos 13% da população mundial que permite o aborto apenas em determinadas circunstâncias – em casos de estupro, por exemplo. A maioria segundo o levantamento, 41%, vive em algum dos 50 países com legislação similar à proposta por Jean, como EUA, França e China.
O texto estima que são realizados de 729 mil a 1 milhão de abortos de forma clandestina e insegura no Brasil. Um estudo da Universidade de Brasília (UnB) também é mencionado e aponta que a maioria das interrupções de gravidez são feitas por mulheres de 18 e 39 anos casadas, com filhos e religião: uma em cada sete já abortou.Na faixa etária de 35 a 39 anos, a proporção é maior: uma em cada cinco mulheres já interrompeu a gestação.
Jean têm ciência de que o projeto enfrentará resistências principalmente na bancada religiosa do Congresso. “Não criei a lei para enfrentar conservadores, eles já me atacam. Mas para além de uma discussão moral ou religiosa, é uma discussão de saúde pública.Precisamos ir além da hipocrisia. Aprove-se ou não a lei, e as mulheres continuarão abortando, só não podem continuar indo a açougues. Defendo o direito da mulher, ela decide sobre o corpo dela, afirmou o parlamentar.
Dados do DataSus, que reúne números do Sistema Único de Saúde são mencionados no projeto de lei, e apontam que cerca de 230 mil internações acontecem todos os anos para tratar de complicações decorrentes do aborto inseguro. Sobre a tramitação do projeto, o deputado afirmou que, uma vez protocolado, Eduardo Cunha deverá enviar o projeto para três comissões, ou criar uma comissão especial para discuti-lo. “Vamos propor audiências públicas, oitivas… Levantar o debate, o Congresso não pode fingir que essas mulheres não existem”, resumiu.

EDUCAÇÃO SEXUAL

A lei também prevê que o Ministério da Educação crie tópicos para educação sexual e reprodutiva, e leve para escola conversas sobre a prevenção de gravidez não desejada.O texto também menciona a promoção de “uma visão da sexualidade baseada na igualdade, com prevenção à violência de gênero”.
“São políticas públicas sobre métodos contraceptivos, doenças sexualmente transmissíveis. No Brasil, garotas de 11 anos engravidam e são alijadas da educação. Aborto não é um método contraceptivo, mas na hipótese dessa menina ter que ir a qualquer lugar, que seja bem atendida no SUS”, afirmou Jean Wyllys.
Leandro Resende, O Dia

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